Carlos Montenegro
No último dia 27 de junho ocorreu a audiência pública sobre os incentivos fiscais na Assembleia Legislativa. Estiveram presentes deputados, secretários de Fazenda, Desenvolvimento e Planejamento do Estado, OAB-MT e outras entidades.
A audiência começou com a apresentação do Secretário de Fazenda, Gustavo Oliveira, que abordou vários assuntos, dentre eles, o tema central do encontro, o aumento substancial da renúncia fiscal para os próximos períodos.
Contudo, não falarei especificamente sobre o tema mãe, mas de uma inserção feita pelo ilustre Secretário.
A chamada era: “a Decisão de Investimento Privada”, onde foram abordados pontos que, no entender da referida autoridade, eram analisados pelos empresários ao planejarem investimentos.
O Secretário pontuou a análise por parte dos investidores quanto “a perspectiva de lucro” e “o ambiente de negócios”, de onde foi segregada a necessidade de se ter “segurança jurídica”. Foi trazida a “análise comparativa” com outros Estados e Países, “o tempo de retorno do investimento”, e, enfim, “o mercado em si”. Grande abordagem do Secretário, que, dentro da visão empresarial, demonstrou ter perfeito conhecimento das necessidades de novos investidores e dos existentes.
Neste panorama, trazido com brilhantismo, logo me veio à cabeça a análise se Mato Grosso propiciaria segurança jurídica aos investidores e a previsibilidade do lucro futuro do negócios dentro de um cenário de incertezas e constantes alterações legislativas e tributária.
Não é de hoje que o Estado vive em um regime de exceção tributária, divergindo de outros sistemas fiscais, desde a forma de tributação para o comércio, por exemplo, como a possibilidade de defesa qualitativa contra situações fiscais arbitrárias.
Já comentamos sobre o famigerado sistema do conta corrente fiscal e sua camuflagem para coagir contribuintes ao pagamento de tributos. Já falamos sobre a sistemática do ICMS Estimativa que propicia a concorrência desleal por meio de planejamento tributário judicial. Já vimos sobre incentivos fiscais cassados sem o devido processo legal, bem como o esvaziamento do Conselho de Contribuintes do Estado, sobre o Regime Administrativo Cautelar, sobre o Regime Especial de Fiscalização, sobre as seguidas apreensões de mercadorias como forma a forçar o recolhimento de impostos. Sobre o descumprimento do Código Tributário Nacional nas atribuições de responsabilidade dos devedores.
Vemos formalização de tributos por meios impróprios e condutas criminosas tipificadas como excesso de exação.
No âmbito judicial passamos por uma fase turbulenta. Tivemos a suspensão monocrática de milhares de liminares favoráveis aos contribuintes nos casos do ICMS sobre a TUSD e a TUST da energia elétrica, a anulação do FUNEDS, precedentes de tribunais superiores que não são seguidos e tantas outras contradições difíceis de explicar ao empresário.
Não é a toa que existem muitas empresas de fora que investem no Mato Grosso (verdadeiras guerreiras) que possuem departamentos jurídicos e contábeis específicos para atender nossa região. É lamentável.
Se quisermos ser atrativos devemos criar condições de investimento, um ambiente de sustentabilidade onde a segurança jurídica venha em primeiro lugar. Como colocar dinheiro em um Estado de extrema instabilidade jurídica?
Devemos repensar os rumos e fazer política séria e planejada com o apoio da Sociedade. Antes de construir a casa é preciso construir pilares sólidos e isso se faz com projeto, reformas estrutural, política, administrativa, tributária e constitucional se for preciso. Chega de fazer remendos.
Não quero ser utópico, mas a experiência passada demonstra que os rumos precisam ser alterados. Se o país enfrenta uma crise política e econômica, se o Estado encontra-se em uma situação de extrema instabilidade, que façamos ao menos bons projetos a serem implementados no futuro, que venhamos a discutir ideias. É nossa missão debater como faremos para criar um ambiente de sustentabilidade e crescimento.
Carlos Montenegro é Advogado Tributarista
Ainda não há comentários.
Veja mais:
PC: homem é preso com quase 3 mil arquivos de pornografia infantil
TCE: parecer favorável à aprovação das Contas 2024 do Governo de MT
CPMI do INSS: senador pede legislação que dê segurança aos aposentados
Assalto violento em fazenda: TJ nega redução de pena
Após incêndio em veículo, Justiça condena empresa de ônibus
Polícia Federal desmantela grupo acusado de crime de moeda falsa
Operação Ruptura da Polícia Civil mira facções em Mato Grosso
Câmara pauta projeto que regula redes sociais para crianças
Decisão: intimação eletrônica equivale à pessoal em processos
42 anos da FCDL-MT: uma trajetória de fortalecimento do comércio e desenvolvimento para Mato Grosso