Onofre Ribeiro
Outro dia escrevi neste espaço o artigo “Cuiabá 300 anos”. Nele lembrei um pouco da percepção futura da cidade em função do futuro do próprio estado de Mato Grosso. Recordo o tema porque em certo momento relatei que muitas pessoas me cobrarem pra escrever a respeito da gestão do prefeito Emanuel Pinheiro. Não tinha escrito nada ainda. Agora volto ao assunto numa percepção diferente daquele artigo.
Nele eu disse que não sabia o que o prefeito fará péla cidade, mas a cidade sabe o que espera dele. Tenho a clara impressão, e espero que o leitor também, de que as pessoas em todas as cidades estão carentes de serem vistas. O Brasil se urbanizou entre os anos 1950 e 1970. E as cidades trataram muito mal desde então os primeiros pioneiros rurais, relegando-os às periferias, como se tentassem escondê-los. Na década de 1970 vieram os conjuntos habitacionais. Tiveram o cuidado de escondê-los bem longe do centro das cidades. Mais ou menos a confissão de que aquela gente pobre e feia não faz parte do centro. Elas nos servem e voltam pros seus guetos. Lá a água é ruim, o asfalto é casca de ovo, não tem esgoto e os postes mal colocados. Sem escolas, sem postos de saúde, sem creches. Apartheid mesmo!
Aos poucos nesses 40 anos os guetos ficaram dentro das cidades e continuam feios e desassistidos. Mas não só os guetos pobres foram abandonados pelas sucessivas gestões municipais no Brasil. As cidades foram muito maltratadas e descuidadas. Cuidou-se no tráfego pra carros e pouco mais do que isso. Viver em Cuiabá é um exercício de achar o que fazer. Cidade sem opções de lazer e de divertimento. Pior. Quente como é!
O prefeito Mauro Mendes achou um excelente caminho. Criou três excelentes áreas de convívio: a urbanização da beira rio, os parques das Águas e o Tia Nair. No último domingo passei em frente ao Parque das Águias e ficou agradavelmente surpreso. Centenas de pessoas por lá, apesar das obras inacabadas. O Tia Nair é ótimo. A Beira Rio ficou ótima. Mais os parques Mãe Bonifácia, Zé Bolo Flor, Massairo Okamura deram à cidade uma cara humana. Isso é cuidar de gente!
As ciclovias passam da hora, as creches, os postos de saúde, escolas de boa qualidade, lares pras pessoas em algum tipo de vulnerabilidade. Chega de obras vistosas que supostamente dão votos. Hoje as pessoas que vivem e constroem as cidades querem ser moradores das cidades. O Jornalista Alves de Oliveira, fundador do jornal Diário de Cuiabá, já dizia com sabedoria, lá na década de 1970: “a cidade é dos que vivem nela”.
Onofre Ribeiro é jornalista em Mato Grosso
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