A Trumponomics, como vem sendo conhecida a nova política econômica dos EUA sob Trump, está muito focada no "tarifaço", e na beligerância na relação com seus parceiros comerciais e geopolíticos.
Sobre a tal beligerância, por exemplo, não é usual, para não dizer que é inédito, um presidente declarar que pretende incorporar o Canadá, retomar o Canal do Panamá e comprar ou tomar posse da Groelândia.
Declarações como esta já demonstram que os conflitos geopolíticos, como Ucrânia, Rússia e Israel/Gaza, podem ganhar um novo protagonista, os EUA e, com isso, criar ainda mais incerteza pelo mundo. E a incerteza, ela aumenta o risco, e os investidores cobram um preço por isso, ele se traduz mais taxa de juros.
Ao defender tarifas mais elevadas e o retorno da produção para os EUA (reshoring), a Trumponomics pressiona a inflação e coloca o FED em posição de possivelmente encerrar o ciclo de afrouxamento monetário, ou quem sabe voltar a subir a taxa de juros.
A redução da corrente de comércio mundial reduz o crescimento econômico e a ela se somam inflação e juros. Não é um quadro animador.
O contexto mundial, portanto, é inflacionário, de valorização do dólar (e depreciação do Real) e de maior competição pelos capitais externos.
Apesar das dificuldades e riscos, também há oportunidades. Europa e China não assistirão de forma passiva a esta tentativa de estabelecer uma "nova ordem mundial". A economia e a política são dinâmicas. Onde os preços subirem e os fornecedores faltarem, surgirão espaços para novas alianças. Acordos comerciais serão forjados e parcerias em torno de maior segurança e menor custo serão implementadas.
Os riscos são inerentes ao processo, e o Brasil não está descolado do mundo. Porém, somos um grande produtor de commodities agrícolas e minerais e um importador de tecnologia.
Estamos entre a 9ª e a 10ª economia do mundo, representamos cerca de 2% do PIB global e somente 1% do comércio mundial. Os números indicam que há espaço tanto para crescimento quanto para diversificação, posto ao longo das duas últimas décadas perdemos participação na exportação de manufaturados.
Temos uma lição de casa para fazer, que é acertar o fiscal. Mas isto posto, um plano de crescimento assentado na elevação de nossa participação no comércio internacional, com abertura à competição e aos capitais externos, abre as portas para um crescimento de longo prazo. Vale lembrar, que a infraestrutura também pode ganhar fôlego com o financiamento externo que poderia beneficiar nossos parceiros por meio da redução de custos da produção local.
O caminho é longo, mas, quem sabe, o primeiro passo possa estar à nossa frente.
Hudson Bessa é professor de Mercado Financeiro na FIPECAFI.
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