• Cuiabá, 21 de Novembro - 00:00:00

Uma nova mulher - o impacto dos segredos familiares  (Parte 2)

Desde o final da primeira temporada, da série turca Uma nova mulher, Ada, a médica cirurgiã se dedica, com intenso interesse, a decifrar o que ocorre no campo das expansões da família de origem, e decodificar a linguagem do fenômeno das constelações, tendo em vista os efeitos impactantes da abordagem na sua própria vida.

Entretanto, após ser duramente advertida pelos seus pares, bem como, pela direção do Hospital que a questionou severamente, sobretudo a sua aberta exposição, colocando em risco a sua reputação em favor da abordagem, Ada acaba por desligar-se da equipe.

Esta tensa passagem no cerne do núcleo dramático traz à tona os questionamentos que os efeitos desse olhar inovador, sistematizado por Bert Hellinger, criticado e muitas vezes mal interpretado, tem enfrentado enquanto recurso de ajuda a todos aqueles que buscam a expansão da consciência. Contudo, há evidências do quanto seu trabalho impactou o olhar e a prática de milhares de profissionais que atuam na área psicoterapêutica.

A incrível experiência visual da série, na qual, as luzes e as cores dos cenários internos e externos se expressam por meio da trama, fica por conta da fascinante paisagem da cidade litorânea Ayvalik, cujo centro é cercado pelo arquipélago (vinte e duas ilhas), na costa litorânea do mar Egeu.  A trama envolvente emoldurada pela beleza natural das paisagens, joga luzes às dinâmicas transgeracionais ocultas e nos dramas que se repetem no sistema familiar.  

O amplo efeito da transgeracionalidade se expressa, de forma não menos turbulenta, dos percursos das personagens masculinas: Toprak lida com dilema entre o relacionamento com a Ada, a criação da filha e a carreira profissional em Istambul. Fiko, recém casado, se vê em conflito ao tentar equilibrar o casamento com a Sevgi e a gestão do novo empreendimento em sociedade com a Leyla; Selim, ex marido da Ada, continua a amá-la após o divórcio, mesmo após a união com a ex-secretária e mãe de sua filha. Erdem luta pra reconquistar a família, após ter estado na prisão durante toda a gestação de Leyla.

A segunda temporada cumpre a promessa de aprofundar ainda mais a jornada de aprimoramento espiritual e emocional das personagens. Isto porque no acirramento dos seus conflitos pessoais, personagens improváveis, como a cirurgiã Canan Aktas, bem como, Mukadê – mãe da Sevgi, que anteriormente havia apresentado denúncia, também recorrem ao apoio de Zaman e se expõem à expansão da família de origem.  

Em cada episódio, o expectador tem a chance de entrar em contato com a prática da constelação em grupo e, por meio da conexão entre representantes e representados, a expansão acaba por revelar como outras dimensões atuam no destino das personagens. Assim, após as intervenções, estas passam a ressignificar suas dores, seus conflitos e seus destinos difíceis.

O expectador acaba por ser surpreendido também com os conflitos dramáticos que perpassam personagens e enredo, sobretudo após as revelações acerca da história do Zaman e o seu filho Diyar, cuja mãe veio a morrer no parto.   

Vale muito a pena mergulhar na trama realista e bem realizada, sob a Direção de Nuran Enren Sit, que transforma o que poderia ser apenas mais uma narrativa dramática de conflitos humanos, em uma série que se impõe.

Uma vez mais, de forma consistente, põe em relevo, por meio da destacada performance do seu elenco, os efeitos libertadores das jornadas de expansão da consciência, em meio à uma atmosfera de eventos instigantes que vêm à tona, ao longo dos seus episódios imperdíveis, nesta segunda temporada.

 

(*) Elisabeth Battista é Doutora em Letras pela USP, possui Pós Doutorado pela Universidade de Lisboa e Universidade de Aveiro. Especialista em Constelação Original Hellinger, pela Hellinger Schule. E-mail: lisbatys@gmail.com



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