• Cuiabá, 02 de Julho - 00:00:00

Joga jogador

A efetiva autoaceitação do passado só é possível com perdão, onde há culpa, e gratidão, onde há ressentimentos.

A partir de um novo ponto de vista, virando a roupa suja do avesso e tirando as manchas e sujeiras, a fim de significar e compreender o passado de uma forma diferente.

O que se olha pelo retrovisor é a caminhada da vida que nos trouxe lições e capacidade de superação nas adversidades, bem como momentos alegres, a começar pela dádiva do nascimento e da vida, além de tantas outras coisas simples, que experimentamos com coisas e pessoas, que tenham como remanescente nossas memórias afetivas positivas, necessitadas de serem resgatadas para jogar luz na escuridão que submete alguém à depressão.

Tudo, colaborando para o amadurecimento atual, em todas dimensões, física, psíquica, emocional e espiritual, cientes e conscientes de que há passos e princípios para se dar e praticar, capazes de recuperar nosso ânimo, disposição e propósito existencial.

É preciso sair do autoengano e autopiedade no presente, parar de racionalizar e buscar justificativas para nossos defeitos de caráter e comportamentos autodestrutivos, pelo menos os identificados, que causem prejuízos de incerta ou impossível reparação. Aqui temos de ser honestos conosco, com nosso Poder Superior e o próximo.

É um movimento fenomenológico difícil, humanamente falando, para qualquer um de nós, porém é um dos mais libertadores que podemos fazer, aceitar a vida como ela é e viver bem, um dia de cada vez, o agora, que é a única coisa real.

Eu entendi isso experimentando, vivenciando alguns princípios espirituais, me contrariando, fazendo renúncias, abandonando velhos hábitos, lugares e companhias obsessores, abrindo alas para uma miríade de novas oportunidades até então inimagináveis, tendo acesso às coisas que dinheiro algum compra, como serenidade e paz de espírito, consciência leve e coração curado.

Antes disso, minha autoaceitação era precária, nutrindo raiva e tristeza, rejeição e medo.

Quando conheci essa nova maneira de viver, sobretudo mediante o que se pode chamar de despertar espiritual ou insigt, percebi que tinha de esvaziar toda minha mente, principalmente do meu conhecimento acadêmico, teórico e prolixo, também dos dogmas, tradições, usos, costumes, todas as convicções, em todas essas áreas do conhecimento e da experiência, para que eu me desse a chance de desconstruir o castelo fantasioso que tinha na mente, e recomeçar a construir algo do meu real tamanho, simples e suficiente para ser feliz.

Obviamente não nos tornaremos alvos como a neve, tampouco alcançaremos a santidade. Continuaremos errando, porém tentando errar no inédito, diminuir as insanidades, lidar com os sentimentos e ter uma visão sóbria, dos ventos e eventos.

Se hoje fomos melhor do que ontem, gol! Se caímos, é só levantar e continuar o jogo, jogador, sem desistir nunca, no máximo sentar no banco um pouco para descansar e logo voltar a arrasar, com amor e fé, garra e determinação.

Paulo Lemos é advogado - e uma das principais referências de atuação na defesa dos Direitos Humanos.



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