• Cuiabá, 13 de Maio - 00:00:00

Transbordamento econômico

A economia brasileira cresceu muito acima das expectativas no segundo trimestre de 2023. O IBGE divulgou que o PIB de abril a junho teve crescimento de 0,9% em relação ao primeiro trimestre que já havia crescido 1,8%. Comparado com o segundo trimestre de 2022, o crescimento foi de 3,4%. Nos últimos quatro trimestres (doze meses), o crescimento do PIB está na casa dos 3,2%.

Sob a ótica da oferta agregada, no primeiro trimestre a locomotiva do excepcional desempenho foi o setor agropecuário. Já no segundo, o motor do crescimento foi o setor de serviços e a indústria. Do lado da demanda, o destaque foi o aumento do consumo das famílias.

Chama a atenção o fato de o robusto crescimento não ter sido captado pelos radares dos analistas, grandes bancos, Banco Central do Brasil, consultorias econômicas e universidades. A realidade mostrou-se mais otimista que os mais otimistas oráculos econômicos. Lembro que em janeiro a mediana das previsões indicava crescimento de 0,4% em 2023. Conhecidos os dados do primeiro semestre, todos estão revendo suas projeções, reestimando o crescimento para 3,25% neste ano.

Considero que pelo menos três forças econômicas produziram fortes efeitos positivos sobre a economia brasileira e, aparentemente, não apareceram nos modelos econométricos utilizados para antever o comportamento macroeconômico do país. Os recordes de produção e exportação das commodities agrícolas, aumento da produção e exportação de petróleo, gás, minérios e os impactos dos programas de transferência de renda nos gastos das famílias. Somadas, essas variáveis atuaram como vetores impulsionadores da indústria e do setor de serviços. Estes, por sua vez, produziram efeitos no mercado de trabalho, reduzindo as taxas de desemprego, qualificando os postos de trabalho, aumentando a massa salarial e a renda.  

No primeiro semestre o governo federal e os governos estaduais aumentaram consideravelmente o volume de recursos dos programas de proteção social para as famílias pobres. Essa dinheirama foi diretamente para o consumo de itens de primeira necessidade e parte foi direcionada para aquisição de bens duráveis de pequenos valores. Com a redução da inflação, mesmo em ambiente de crédito caro, as famílias mais pobres foram às compras.

O Brasil posiciona-se como um dos maiores produtores e exportadores de petróleo, gerando impacto relevante na longa cadeia da indústria de petróleo e gás. Da mesma forma, a Vale é uma das maiores produtoras de minérios do mundo e aumentou sua produção e exportação, criando valores em todo o arranjo produtivo extrativista e na siderurgia.

Os três segmentos, agropecuária, petróleo, gás e mineral elevaram suas rentabilidades ocasionando um “transbordamento econômico” além de suas próprias cadeias produtivas. A escalada de lucro e renda desses setores transbordaram para outras áreas, resultando em crescimento bem acima do esperado.

Resumo do samba enredo: o consumo dos pobres, a agropecuária e a indústria extrativista contribuíram de forma exponencial para o crescimento econômico no primeiro semestre e, naturalmente, precisam ser melhor acompanhados e observados por todos os analistas que pretendam aproximar mais os seus prognósticos da economia real do Brasil. Assim, teremos menos surpresas cada vez que o IBGE divulgar os dados macroeconômicos do país.

 

Vivaldo Lopes é economista formado pela UFMT, onde lecionou na Faculdade de Economia. É pós-graduado em  MBA Gestão Financeira Empresarial-FIA/USP  (vivaldo@uol.com.br)



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