Lula na presidência tem dito coisas, em poucas semanas de governo, que tem levado desconforto para parte da opinião pública.
Lula atacou a estabilidade fiscal ao dizer “por que as pessoas são levadas a sofrer por conta da tal estabilidade fiscal”. Ou esta “por que é preciso fazer teto de gasto” que, diz, é uma “estupidez”.
Âncoras da estabilidade econômica sendo atacadas pelo presidente, levando intranquilidade ao país, não somente ao tal do mercado. O presidente não quer estabilidade fiscal? Qual seria essa nova política econômica?
Ele defende que se pode fazer o que quiser na economia para atingir metas sociais, mesmo quebrando regras importantes do momento econômico nacional. É um posicionamento arriscado. Sem política fiscal adequada o problema econômico vai aparecer e atingir quem ele quer defender: os mais pobres.
Ele continuou a atacar a questão do gasto, usando frases como se estivesse em campanha, sentencia que o que não seria gasto “é o dinheiro que a gente paga de juros para o sistema financeiro”.
Os que apoiam o presidente, mesmo sem analisar o alcance de frases como esta, batem palma às falas nessa direção. Outros sabem que o caminho não é este, que responsabilidade fiscal é importante e se preocupam com essas atitudes estranhas do presidente.
Ele diz que vai mudar narrativa nacional: que tudo que gastar daqui para frente não seria gasto e sim investimento. Mais aplausos dos que o apoiam.
Ele atirou também na independência do Banco Central ao dizer que é “uma bobagem que o presidente do Banco Central vai fazer mais do que quando o presidente era quem indicava".
Continua a se mostrar contra a independência do BC ao falar “por que com o Banco Central independente a inflação está do jeito que está e o juro está do jeito que está”.
Em outros lugares do mundo, mesmo com Banco Central independente, inflação pode ocorrer em certas circunstâncias e momentos. Para Lula o Brasil não precisaria de Banco Central independente.
Mais frases do presidente: “o empresário não ganha muito dinheiro porque ele trabalhou. Ganha muito dinheiro porque os trabalhadores fazem o trabalho dele”. Por que se indispor, logo no inicio do seu governo, com parte do empresariado?
Tem falas também raivosas ou vingativas. Na viagem à Argentina, num discurso, chamou Michel Temer de golpista. Temer é liderança no MDB, partido que tem três ministros no governo e apoia Lula no Congresso. Sem esse apoio teria dificuldades para governar. O impeachment de Dilma teve enorme apoio de inúmeros parlamentares que apoiam hoje o governo.
São frases e atitudes como se estivesse em campanha eleitoral, que precisaria conquistar eleitores. Aqueles que o aplaude já são dele, o que ele deveria fazer é trabalhar para ganhar politicamente o centro politico para ter apoio ampliado ao seu governo. Como está atuando, acaba amedrontando aquele setor politico.
Passado aquele período de graça que se dá a um presidente chegando ao poder, se as coisas não andarem e ele continuar as falas nesse tom e nessa esquisita narrativa, as bordoadas virão.
Alfredo da Mota Menezes é professor, escritor e analista político.
E-mail: pox@terra.com.br
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