• Cuiabá, 21 de Novembro - 00:00:00

O machismo veste laranja

Na semana que passou, muito por conta do caso Bebiano, o Brasil viveu o período das laranjas. Se não bastasse na política, o termo também poderá ser aplicado ao caso que envolve violência contra mulheres. Elaine Caparróz, espancada pelo namorado no primeiro encontro, somado a difamações no caso Marina Rui Barbosa, a atriz apontada como pivô da separação do casal Debora Nascimento e José Loreto.   

O termo "laranja", na linguagem popular, é aquele ou aquela pessoa que empresta seu nome, documentos ou conta bancária para ocultar a verdadeira identidade de quem a contrata. A criação de laranjas têm, entre outras motivações, o intuito de fazer com que o “culpado”, sempre revestido de maior poder, escape da responsabilidade daquilo que traz consequências ética, moral e/ou jurídica.

O machismo, por sua vez, está envolto em muitas atitudes e locais, mas em nenhum ele é tão evidente quanto dentro dos partidos políticos. Estamos evoluindo é verdade, mas em passos excessivamente lentos.  

Mesmo que o Congresso já tenha um número maior de mulheres atuando, ainda são oriundas de movimentos sociais específicos ou eleitas na garupa do pai, do marido e etc. Há filhos homens também eleitos assim, mas dificilmente vão ter seus desejos e suas vontades tolhidas. Mulheres eleitas de carona são tolhidas!

Se as mulheres não fossem impedidas ou menosprezadas dentro dos partidos não existiria a necessidade de cotas. Para garantir a candidatura masculina, a lei força a existência das “candidatas laranjas”, pelo menos essa é a afirmação do presidente do PSL de Pernambuco. Ora, mulheres não são as culpadas. Mulheres são vítimas do machismo político. Só não vê quem não quer.

No caso da separação do casal de atores, se é que há um culpado, só poderá ser o José Loreto ou a Débora Nascimento, ou os dois juntos. A opinião machista e moralista precisou encontrar uma laranja: Marina Rui Barbosa. Machismo arraigado precisa de uma “vagabunda”, uma laranja, para por a culpa. Esse comportamento tem derrubado até feministas envolvidas no “empoderamento” da mulher.  Deixaram de seguir nas redes sociais a atriz em questão, mas não fizeram o mesmo com o Loreto, ainda o seguem.

No caso da violência contra a Elaine Caparróz, que depois de oito meses se correspondendo com um rapaz marcou um encontro dentro do apartamento dela e foi espancada, o laranja é a “irresponsabilidade dela” por ter marcado um encontro via internet. Até parece que não tem mulheres sendo espancadas até morta pelo marido, pelo “amigo”, pelo irmão, pelo namorado de anos de convivência. O machismo cultural tem que culpar a “Elaine”, a mulher “irresponsável”! Mesmo quando a mulher não tem culpa alguma eu arranjo uma desculpa laranja para culpa-la.

Parafraseando as insanas e preconceituosas frases da ministra da pasta da Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares Alves, que disse que meninos vestem azul, meninas vestem rosa, eu diria que no Brasil o machismo veste laranja.

 

João Edisom é Analista Político, Professor Universitário em Mato Grosso.



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