Na última quinta-feira assisti à posse da nova diretoria da Associação dos Produtores de Soja e Milho – Aprosoja-MT. Típico evento classista. Tomou posse como presidente o produtor Antonio Galvan. Polêmico e com discurso de enfrentamento diante do relato que ele mesmo fez dos problemas e das dificuldades do setor agro em Mato Grosso e no Brasil.
Acompanho muito de perto o agro de Mato Grosso desde os tempos da Coopercana em Canarana e no Vale do Araguaia, ainda na década de 1970. De lá pra cá as sucessivas gerações foram de antigos colonos sulistas com herança europeia desde as imigrações no fim do século 19 e começo do século 20. Essas gerações enviaram pra Mato Grosso e o Centro-Oeste os descendentes que já não tinham mais terras disponíveis no Sul. Típicos colonos. Eram gente da terra, com pouco preparo intelectual. Trouxeram parte da cultura sulista na relação com o meio ambiente. As leis da época não existiam. Ou eram muito tolerantes comparadas com as de hoje. Aquela geração de pioneiros em Mato Grosso enfrentou grandes discussões sobre desmatamentos, uso de rios, de máquinas, de venenos, queimadas, etc.
Ficou um certo conflito no ar. Dura até hoje. Pode se dizer até que o mundo urbano mato-grossense fora das áreas do agronegócio tem um certo preconceito. Ainda guardam a imagem antiga dos primeiros tempos. Isso já mudou profundamente hoje. Existe um trato e um forte zelo com o meio ambiente. Por aprendizado e pelas pressões que vem dos mercados compradores no exterior. Fora a vigilância dos satélites e dos “olheiros” constantes do resto do mundo. Mato Grosso impõe um certo medo lá fora por sua capacidade de desequilibrar o mercado mundial da produção de alimentos
Apesar da completa mudança de atitudes ambientais na produção, as gerações atuais dos produtores não conseguiram estabelecer uma linguagem com as sociedades urbanas do estado. Na posse da Aprosoja percebi a maioria dos presentes era de gente jovem herdeira dos negócios ou ligados às diversas cadeias de negócios em torno do agro. O setor é um grande gerador de negócios e agrega mais negócios do que qualquer outro atualmente em Mato Grosso.
Anima-me muito a pensar os jovens herdeiros serão capazes de construir essa ponte de linguagem com o meio urbano. Vieram de universidades. Possuem graduações e pós-graduações no Brasil e no exterior nas várias cadeias e são integrados ao meio urbano. Penso que esse conflito agro x cidades vai acabar a partir de agora. Ele tem atrapalhado muito o desenvolvimento do agro no estado.
Afinal, hoje tudo se resume em linguagem. Linguagem nova, relacionamento novo entre a inevitável economia agro e as pessoas urbanas, sem o preconceito de hoje.
Onofre Ribeiro é jornalista em Mato Grosso
Ainda não há comentários.