• Cuiabá, 05 de Julho - 00:00:00

Estranho momento

                O filho do presidente, Flávio Bolsonaro, senador pelo Rio e que coordena o escritório de campanha do pai para a reeleição, disse que é “impossível conter reação de apoiadores a resultado de eleições”. 

                Quase no mesmo dia, em encontro com empresários no Rio, Braga Neto, ex-ministro da Defesa e candidato a vice na chapa de Jair Bolsonaro, disse que "sem auditoria de votos não tem eleição”. E tem ainda autoridade incentivando o armamento da população civil.

                São frases e posicionamentos de pessoas íntimas do poder que sinaliza para algo antidemocrático, inclusive com manifestações e atos violentos, se Bolsonaro perder a eleição.

                Não se fala nada contra as urnas e a Justiça Eleitoral se, ao contrario, Bolsonaro ganhar a eleição. Aí, deduz-se, a urna estaria correta e a Justiça Eleitoral também.

                Bolsonaro ganhou cinco eleições para deputado federal e uma para presidente com essas urnas, seus filhos também ganharam eleições com elas. Agora não seriam mais confiáveis.

               Baseado em que Bolsonaro diz que ganhou a eleição do Fernando Haddad no primeiro turno? Baseado em que também o presidente diz que Aécio Neves ganhou a eleição de Dilma Rousseff? Tem alguma prova? Até ontem isso não ocorreu.

                Essa coisa da direita política reclamar de fraude em eleição não é só aqui. Nos EUA, Donald Trump, mentor da direita nacional, disse que ganhou a eleição de Joe Biden. Que foi roubado. Ele também disse frase a assessores que repercutiu, “digam que a eleição foi fraudada e deixe o resto comigo”. Não apresentou nenhum prova, foi desmentido pela Justiça dos EUA.

                Tem uma investigação no Congresso norte americano sobre esse assunto. Mostram como Trump incitou a invasão do Capitólio. Mostram detalhes incríveis de como ele não queria deixar o governo dizendo que fora eleição fraudada.

            É praticamente impossível fraudar a eleição nos EUA. Quem elege o presidente é colégio eleitoral de 538 delegados. Estados com mais população e eleitores, como a Califórnia, tem mais votos nesse colégio eleitoral, outros estados, de acordo com seu eleitorado, tem votos variáveis no colégio.

             O candidato a presidente que ganhar no voto popular num estado leva todos os votos eleitorais dali. Quem tiver, no final, mais votos do colégio eleitoral, ganhou a eleição. Pode até ter mais votos na votação geral nacional, mas pode perder no colégio eleitoral. Al Gore perdeu para George Bush assim. Como fraudar aquele sistema? Teria que ter fraudes em muitos estados de forma combinada, coisa impossível.

                Mas a direita política de lá criou essa desconfiança. Mostram pesquisas que a maioria dos membros do partido Republicano de Trump acredita que houve fraude eleitoral nos EUA. E não apresentam nenhuma prova. Aqui a direita política caminha na mesma trilha. Falam, antecipadamente, que a eleição será fraudada se Bolsonaro perder. A democracia, lá em cá, está na berlinda.

           A direita política no Brasil não vai querer aceitar o resultado da eleição se Bolsonaro perder. Vem confusão por aí. Vejam as falas e posicionamentos de expoentes da campanha do presidente. Mas a democracia e o bom senso prevalecerão.

 

Alfredo da Mota Menezes é professor, escritor e analista político. 

e-mail: pox@terra.com.br   site: www.alfredomenezes.com



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