• Cuiabá, 13 de Maio - 00:00:00

O Bradesco, a pecuária e a bolha

A bolha é um pequeno mundo; é um espaço em que o egocentrismo se faz valer e as pessoas vivem o tempo todo voltadas apenas as suas próprias necessidades, ao seu bem-estar, aparência, carreira e prazer pessoal. A bolha é uma caixa onde para todos os lados que você se vire, vê apenas espelhos, só enxerga você mesmo.

O ano de 2021 terminou com uma surpreendente publicidade do Banco Bradesco, se valendo de um movimento que existe desde a década passada, onde seus garotos propaganda faziam campanha para aderirmos a segunda sem carne (bovina). A reação dos pecuaristas foi imediata, indo desde o encerramento de contas no banco a churrascos na porta de agencias do Bradesco como forma de protesto.

Quando falamos de pecuária, temos que entender que ela vai muito além das grandes fazendas que exportam carne. A pecuária ainda é uma das atividades que mantém o homem no campo na maioria dos municípios brasileiros, principalmente através das pequenas propriedades esparramadas Brasil a fora. É dali que sai o leite que chega às mesas urbanas em seus diferentes tipos e derivadas; do leite in natura, ao queijo, no creme de leite, na manteiga e que também está em infinitos outros produtos. Leite que alimenta inclusive as pessoas que atacam a criação de gado!

O Banco Bradesco foi e ainda é uma das agências bancarias mais populares do Brasil, pois se instalou em municípios e povoados do Brasil onde outras agências se negaram a ir, pois a lucratividade era baixa. Portanto é um banco que tem, sim, contribuído com o desenvolvimento do país, principalmente nos grotões e rincões distantes das grandes cidades. O Bradesco que financiou e financia o desenvolvimento de muita gente que produz e gera emprego.

O grande problema está que com a urbanização acelerada e a multiplicação das ferramentas e dos meios de comunicação, foi dada voz a um pessoal que vive em suas bolhas sociais e econômicas, acreditando que o mundo se resume a suas convicções e aos seus modos de vida. Bolhas estas que inclusive o Banco Bradesco e parte dos pecuaristas se meteram também.

O mundo e a vida é uma engrenagem onde até as contradições se fazem necessárias para a nossa sobrevivência. Na maioria das vezes, o remédio que nos faz viver é parte do veneno que nos mataria em doses erradas. Imagine um país interior tendo sua economia baseada somente no trabalho de ativistas e de influencers digitais?

Não se muda uma atividade e nem o modo de vida das pessoas de forma abrupta e muito menos com ativismo, ufanismo e publicidades levianas e irresponsáveis. Assim como também não deveríamos produzir somente olhando os lucros em detrimento do todo. É necessário saber olhar o todo, inclusive os que morrem de fome por desnutrição. É necessário saber olhar fora da bolha!

O Bradesco errou porque só ouviu a bolha e esqueceu que graças a criação bovina ele cresceu e talvez a maioria de suas agências ainda permaneça com as portas abertas até hoje em função desta atividade. Os pecuaristas estão errando porque estão protestando dentro da bolha.  O leite, a carne e o couro vão muito além das exportações, muito além das contas bancárias. Na América e em boa parte do mundo a criação de gado salva vidas inclusive da fome, da desnutrição e da morte.

Caso as pessoas passassem mesmo a ficar um dia sem consumir carne, o que afetaria diretamente toda a cadeia produtiva e não somente a carne, faria com que os menores produtores, justo aqueles que alimentam os mais necessitados e mais próximos, perdessem sua fonte de renda, que  na maioria vezes é a principal, quando não única. Isso fatalmente aumentaria a pobreza, a fome e a desnutrição. Os grandes pecuaristas quando se trata de economia não vivem de fonte única. Esses pecuaristas as “babaquices urbanas” não vão quebrar!

Para estes, os grandes pecuaristas, fica a dica: sua empatia com a sociedade precisa melhorar. Não se faz churrasco em porta de agências bancarias, mas sim na fila dos ossinhos, debaixo dos viadutos e pontes, onde tem gente se alimentando e vivendo do lixo, nos bolsões de miséria onde falta o básico (o pão, o leite e onde a carne é artigo de luxo). É preciso mostrar onde deve chegar seu produto e não está chegando. Carne é proteína que salvas vidas.

Um dos piores erros é fazer movimentos com base em suas meras convicções, pois antes de tentar convencer alguém de nossas ideias, faz-se necessário ver as consequências e os resultados. Mais do que nunca é necessário olharmos fora da bolha e pensarmos para além das nossas próprias convicções criadas em laboratório e em ideologia de tomada de poder político!

 

João Edisom é Analista Político, Professor Universitário em Mato Grosso.



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