Amanhã, dia 25 de agosto, completarei 42 anos vivendo em Mato Grosso. Escreverei artigo a respeito. Hoje, porém, gostaria de registrar um tipo específico de mudança que assisti acontecer nesse período: as transformações no espírito mato-grossense.
Um registro, antes. Em 1976, quando cheguei, Mato Grosso era pouquíssimo relevante diante do país. População pequena, PIB baixo, território imenso e quase virgem. Mas o registro que me chamou a atenção de imediato, foi a fé no futuro que se via claramente. Mesmo diante das circunstâncias contrárias, os mato-grossenses tinham uma fé inabalável na sua história passada, no presente e certezas de um futuro.
De 1973 em diante iniciara um movimento federal de ocupação da Amazônia, por razões diversas, principalmente as de segurança nacional. Gente de todo o país, principalmente do Sul, veio pra Mato Grosso. O governo federal criou as condições possíveis pra atrair tanta gente. A população dos dois Mato Grossos da época em que era um só, era de 1 milhão e 200 mil habitantes. Só a de Mato Grosso no censo de 1980 já registrava 1 milhão 139 mil habitantes. No censo de 1970, a região Norte possuía 598 mil habitantes.
As migrações de imediato mudaram o perfil sociológico do Estado. De início houve resistência parte a parte. Os tradicionais contra os paus-rodados. Mas a juventude se encarregou de resolver isso juntando amores e famílias numa nova cara da gente mato-grossense.
O espírito pioneiro de fé e de resistência histórico, associou-se ao longo dos anos com o espírito desbravador dos migrantes e modificou o jeito mato-grossense de ser. Pra ambos. Aos poucos os cerrados inúteis e mal vistos como inúteis, foram domesticados e introduzidos num sistema de produção característico de Centro-Oeste brasileiro. O jeito de pensar mudou. Aqueles pioneiros de ambos já saíram da cena, seus filhos estão saindo e a sua terceira geração entra no cenário.
Pensa diferente de ambos, age diferente e relaciona-se com o mundo de maneira direta. Diferente também de ambos. Hoje Mato Grosso seria um país de primeiro mundo se fosse isolado. Tempos novos desenham-se pra economia, pra política e pro próprio futuro. Mas passarão seguramente pela nova cabeça globalizada dos setores econômicos. Um novo espírito mato-grossense diferente do restante do país.
Onofre Ribeiro é jornalista em Mato Grosso
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