Defendo que o Brasil vive uma troca de ciclo político. Um processo que se iniciou com as manifestações de 2013, se prolongou pela Lava Jato, impeachment e a eleição de um nome que se vendia como outsider do sistema em 2018. Ainda vivemos a acomodação deste processo e a eleição de 2022 tem importância fundamental para definir o tipo de país que se prolongará por este novo ciclo.
Assim como Jânio e Collor, os eleitos que marcaram as mais recentes trocas de ciclos políticos, Bolsonaro mostrou-se uma decepção. Nada entregou no terreno das reformas, reabilitou as tradicionais raposas da política, indicou nomes identificados com o petismo para cargos chave da República, além de rifar os valores conservadores e a agenda ética e liberal. Sem promover o aluguel do governo aos sócios do centrão, certamente teria sofrido impeachment.
Fato é que o Brasil precisa de uma agenda que vá além do bolsonarismo. Tornou-se urgente adotar instrumentos que combatam a impunidade e a corrupção, além de gerar estabilidade econômica e jurídica, que levem o país na direção da geração de empregos e renda. Isto sem falar na educação, meio-ambiente, competitividade e logicamente em modelo robusto na área de saúde no pós-pandemia. Nosso país precisa entender qual a agenda mínima necessária, ou seja, elementos inegociáveis, para romper com os ciclos inesgotáveis de atraso.
Está claro que o bolsonarismo e o petismo são dois modelos fadados ao fracasso, pois comungam da mesma base política e perpetuam as mazelas que fazem nosso país ser um escravo do fracasso e do retrocesso. O Brasil segue refém de práticas populistas, que pela direita ou esquerda, servem apenas para manter as coisas como estão. Se deseja avançar, o nosso país precisa romper com o passado e olhar para o futuro.
No duelo de soma zero entre petistas e bolsonaristas, não existe espaço para o fim do foro privilegiado, tampouco para implementação da prisão em segunda instância, medidas saneadoras essenciais para resgatar uma política digna e limpa. Em ambos não existe espaço para reformas, especialmente aquelas que fortalecem o livre mercado e devolvem a meritocracia ao setor público. Sem reformas e um setor privado pujante, seguiremos reféns de políticas assistencialistas e das benesses emanadas de Brasília a cada ciclo eleitoral. O brasileiro precisa deixar de ser um joguete nas mãos dos políticos.
Se o Brasil deseja ser um novo país, tem uma nova oportunidade diante de si. As eleições de 2022 podem tornar-se o início de um modelo de estabilidade institucional, rejeitando os radicalismos, as polarizações e o ódio. Precisamos iniciar um ciclo de construção, deixando para trás os duelos que, ao fim e ao cabo, terminam sendo um fim em si mesmo, alcançando os mesmos tristes resultados em uma sociedade que cansou de esperar pelo amanhã.
Estamos diante de um novo ciclo político, ainda em tempo de ser mudado. O Brasil não pode seguir comprometido com atraso e dois caminhos arcaicos. Nosso país merece muito mais do que isso.
*Márcio Coimbra é presidente da Fundação da Liberdade Econômica, cientista político, mestre em Ação Política pela Universidad Rey Juan Carlos (2007). Ex-Diretor da Apex-Brasil. Diretor-Executivo do Interlegis no Senado Federal.
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