Abordei ontem en passant a questão da vingança policial em Sinop, aqui em Mato Grosso, onde morreram nove bandidos e mais feridos pela morte de um soldado militar. Há alguns dias participei de uma audiência promovida pela OAB pra discutir as chamadas “audiências de custódia”. Discussão muito rica e controversa. Juizes, promotores, advogados e acadêmicos brilhantes discutindo esse mecanismo criado a pouco tempo, segundo o qual o preso em flagrante deve ser obrigatoriamente levado à presença do juiz em 24 horas. O objetivo seria evitar tortura policial e avaliar-se se o crime cometido merece prisão ou se pode ser respondido em liberdade. Aqui convive o conflito entre a ficção acadêmica da lei e a realidade dura das ruas.
Todos defenderam a “audiência de custódia” com uma ação de cidadania. Concordo, na teoria. Na prática, a desordem social vigente desmanda qualquer norma civilizatória. Estamos em guerra social. Nós contra eles restou de uma paranóia política recente implantada no país por uma esquerda insana. Nas audiências de custódia os presos são monitorados pelas facções do crime organizado. Quem delatar morre ao ser liberado. As ruas estão insalubres porque o sistema educacional e de segurança pública nunca foi preventivo. Uma vez preso, o cidadão ganha a matrícula no mundo do crime organizado onde é cooptado sem opções. A educação que não recebeu na família e na escola, transforma-se em pós-graduação criminal dentro das cadeias e presídios.
O Estado não sabe lidar com a educação, nem com a segurança pública e muito menos com os detentos dentro dos presídios. Isso explica o clima de guerra civil que vivemos. Encerro este artigo recordando as imagens da cidade de Alepo, na Síria, bombardeada por tropas amigas e inimigas há dois anos. Todos os prédios da cidade, sem exceção, estão bombardeados. Se temos aqui número maior de mortes sem bombardeio de armas de geurra, são as bases da sociedade e as nossas instituições que estão esburacadas pelos desmandos de gestão pública e da política.
O medo que apavora em Alepo tem quase a mesma cara do medo que apavora aqui.
Onofre Ribeiro é jornalista em Mato Grosso
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