Depois de sofrer a maior tragédia ambiental no ano passado, quando 4 milhões de hectares foram consumidos pelos incêndios, o pantanal registra um cenário alentador neste final de 2021 – as chuvas fizeram transbordar vários corixos e até a Transpantaneira, rodovia que liga Poconé a Porto Jofre, e que viu alguns trechos serem inundados.
As chuvas trazem de volta o verde e a esperança de que a vida se manterá efervescente, neste que é um dos mais importantes biomas brasileiros. Assim, no vai-e-vem das águas, o pantanal se mantém vivo há milhares de anos. O homem pantaneiro, que ocupa a planície há quatro séculos, aprendeu a conviver com esse movimento de todos os anos, que proporciona renovação da fauna e da flora: diretamente impactada pelo ciclo das águas. É uma abundância de alimentos que atrai aves, mamíferos e répteis, formando um mosaico de vida selvagem e um cenário de belezas naturais.
As águas das chuvas vão se espalhando lentamente pela planície durante os meses de novembro a maio, proporcionando a reprodução de várias espécies de peixes e outros animais, e influenciando na distribuição temporária das diversas espécies, até começar a vazante, quando os rios e corixos vão secando e os alimentos se tornam escassos.
Mas esse ciclo hidrológico está ameaçado por fatores que estão, quase todos, fora do pantanal, como o avanço da monocultura sobre as nascentes dos rios, o assoreamento e desmatamento, o uso de agrotóxicos, o esgoto sem tratamento e as mudanças climáticas.
Quando falamos de pantanal, é preciso levar em consideração todos esses fatores se quisermos continuar a ver a vida, em sua plenitude, na maior planície alagada do mundo.
Não podemos nos esquecer que o período das chuvas termina em maio do ano que vem e a seca pode voltar a ameaçar a vida. Pesquisa realizada pelo Mapbiomas mostra que o pantanal perdeu 29% de água entre as cheias de 1988 e 2018. Ao mesmo tempo, pesquisadores dizem que a seca extrema deve se prolongar por mais três a quatro anos.
Portanto, é preciso estar atento para evitar que novas tragédias – como a de 2020 – se repitam, com incêndios consumindo a vegetação, provocando a morte de animais e ameaçando a sobrevivência de populações inteiras.
Por isso, estamos discutindo no Senado Federal e com a sociedade, uma proposta de Estatuto do Pantanal, que cria uma legislação pertinente ao bioma no sentido da exploração sustentável dos recursos naturais. Esse Estatuto é um dos resultados das discussões que realizamos, no ano passado, durante a Comissão Temporária Externa do Senado, de minha iniciativa, que reuniu senadores de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, além da contribuição dos senadores Esperidião Amin e Fabiano Contarato. Outra iniciativa foi a criação da Subcomissão Permanente do Pantanal, também de minha iniciativa, que já está instalada dentro da Comissão do Meio Ambiente do Senado. O pantanal é o único bioma brasileiro a contar com uma subcomissão permanente e seu trabalho será fundamental no avanço das políticas públicas necessárias à sua sustentabilidade.
O pantanal, mais que patrimônio da Humanidade e Reserva Mundial da Biosfera, é patrimônio de todos nós, mato-grossenses.
*Wellington Fagundes é senador da República.
Ainda não há comentários.