Para além das disputas nas quatro linhas do futebol, Brasil e Argentina são importantes parceiros em diversas frentes, que vão desde a cultura até o comércio, passando pelo diálogo político, econômico e social. Fato é que uma Argentina forte impulsiona o fluxo comercial brasileiro e um Brasil com vigor econômico é extremamente vantajoso para os negócios argentinos.
A economia de nossos vizinhos está se recuperando após dois anos de fortes reveses, especialmente em decorrência da pandemia. Os pontos essenciais para essa retomada foram milho, trigo e as indústrias automotiva e siderúrgica. Apesar dos problemas econômicos, o fluxo comercial, que é a soma de exportações e importações, vem crescendo pelo nono mês consecutivo. É o melhor setembro desde 2017.
O arrefecimento da pandemia ajuda de forma exponencial o aumento das trocas comerciais entre Brasil e Argentina. Temos enxergado este recomeço na medida que ambos países avançam na vacinação. Nos primeiros nove meses de 2021, as exportações para o Brasil cresceram 44,7%, totalizando US$ 8,141 milhões, enquanto as importações argentinas apresentaram um crescimento ainda maior, de 47,5%, atingindo US$ 8,743 milhões. Ainda é pouco frente ao enorme potencial de ambos, mas é um importante recomeço.
O alinhamento político-diplomático é outro ponto essencial. Neste caminho, a opção por Daniel Scioli para ocupar a Embaixada Argentina em Brasília foi uma escolha inteligente e estratégica. Com alta capacidade de articulação política, Scioli tem funcionado como um facilitador, abrindo diálogo em nível estadual e federal, exatamente aquilo que necessita a relação bilateral neste momento. Esta diplomacia de resultado tem funcionado muito, especialmente em tempos desafiadores como o que vivemos.
A abertura de virtuosos canais políticos tornou-se estratégica neste período de pós-pandemia, algo que encaminha uma integração produtiva e convergência virtuosa em cadeias comerciais globais. Agindo juntos, ambos países têm a capacidade de somar forças na frente internacional.
Na frente bilateral, iniciativas como o Fórum Empresarial do Mercosul podem se tornar estratégicas, pois tratam da integração produtiva do setor farmacêutico, do desenvolvimento regional de vacinas e do fornecimento de insumos essenciais para os países do bloco. Isto significa que ambas nações têm pensado em formas conjuntas de enfrentar novos desafios.
O Brasil hoje depende, em seu setor exportador, das oscilações externas. Em 2021, o preço das commodities exportadas subiu 41% ante o mesmo período de 2020 e respondem por 76% da alta total das exportações. Nenhum país que deseja avançar de maneira sustentável pode viver na dependência destas incertezas. Uma parceria com a Argentina em setores estratégicos pode gerar uma capacidade produtiva de alto valor agregado, valorizando as exportações de ambos países.
É notório que grandes iniciativas e soluções nascem das crises. Brasil e Argentina estão diante desta oportunidade, da possibilidade de integrar suas economias e parque produtivo para que juntos sejam capazes de competir em um mundo cada vez mais competitivo. Juntos, certamente somos mais fortes.
Márcio Coimbra é presidente da Fundação Liberdade Econômica. Ex-Diretor da Apex-Brasil e do Senado Federal. Mestre em Ação Política pela Universidad Rey Juan Carlos (2007), Espanha.
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