Administrar um país está longe, bastante longe de ser tarefa fácil. Talvez seja bem mais fácil tocar uma empresa. E, de fato, o é. Ainda que esta seja grande, imensa. Mesmo assim não tem, nem carrega a complexidade daquele, nem tem as necessidades de uma população, tampouco suas adversidades.
Por isso, claro, que um empresário de sucesso nada tem a ver com a chefia do Executivo. Muitos “deram com o burro n’água” quando estiveram à frente da administração pública (exceto um ou outro deles). Muitos darão. Assim como os de outras áreas. Das mais diversas delas. Profissionais liberais ou não. Até porque, volta e meia, eles procuram ingressar-se no jogo político-eleitoral, e o fazem não pelo comprometimento com a coisa pública.
Nem tocados pela sensibilidade de servir-se. São bem outras suas razões. Ingenuidade imaginar que não teriam. Quem não os teria? Embora uma porção de eleitores tenda a acreditar em “história da carochinha”. Comporta-se desse modo durante a campanha eleitoral, e permanece de igual modo durante o mandato, talvez movido pela crença do impensável, inimaginável, improvável. Crença que romantiza a disputa político-eleitoral. Romantiza-se tanto que se esquece de se comportar como cidadão.
O cidadão é aquele que se sente incomodado com o simples papel de votante, e é quem questiona, procura ler e ouvir além do que as palavras dizem, analisa o teor do prometido, além de puxar conversas com outrem a respeito das candidaturas postas.
Isto é o mínimo que se tem de fazer. Afinal, cidadão comum algum foi à casa de alguém, empresário ou não, político ou não, pedi-lo para sair-se candidato. Candidatou-se porque quis, e até forçou a barra para sê-lo, e, ao torna-lo, deveria ser avaliado com todo rigor possível. Mas, infelizmente, não é bem isso que acontece. Acontece um desleixo, uma falta de cuidado da imensa maioria do eleitorado.
E o que muito pior, esta se transforma em torcedora. Condição que faz do campo político uma enorme arena, cuja dependência é totalmente dividida entre a torcida “A” e a “B”. Ovaciona e vaia. Vaia e ovaciona. Situação que não termina com a publicação dos nomes dos eleitos. Permanece bem viva. Palanques são mantidos de pé. Sustentados pelas colunas da emoção e da paixão.
O cordão do oba-oba se estica e se fortalece. Abarca um contingente maior. Cego pelo fanatismo. Servos da paixão. Idolatra e endeusa o político de estimação (considera inaceitável a crítica). Quem não se alinha a esse cordão, corre-se o risco de ser banido, estigmatizado e submetido ao horror da intolerância.
A intolerância é a arma dos fracos, do negacionista, de quem se sente incapaz de lidar com a adversidade, com o plural e com o posicionamento contrário. Vale-se dela para destruir os adversários, tidos como inimigos, ainda que não sejam, e não são mesmos, apenas se colocam em trincheiras opostas, e não aceitam a idolatria de políticos, mas preferem trazer os fatos e o racional nas discussões sobre o retrato do país. Retrato marcado pelo aceleramento da insegurança alimentar, pelo desemprego e pela desigualdade social gritante. Isto é o óbvio. Óbvio não enxergado por todos.
Não enxergam, sequer, que o país navega sem rumo pelas águas bravias e perigosas da insensatez, da falta de bússola, e pela ausência de uma rota definida, bem como de um mapa condizente com as exigências do momento vivido. Barco desgovernado. Gente no mar! É isto.
Lourembergue Alves é professor universitário e analista político.
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