Índios Xavantes de MT, com apoio do governo do estado e, interessantemente, da Funai, estão plantando arroz em suas terras. Para não passarem mais fome, disse um deles. Até outro dia, se isso ocorresse, era como se o mundo viesse abaixo.
Índios Parecis de Mato Grosso, poucos anos atrás, enfrentaram uma batalha por plantarem soja e milho em 10 mil hectares de suas terras. Possuem 1.3 milhões de hectares de terras e não poderiam usar pelo menos 5% dessa área para plantarem grãos e deixariam 95% de reserva?
Eram três mil índios dessa etnia. Tiravam algumas sacas por hectare do que colhiam para, na venda, distribuir dinheiro para todos os índios da tribo.. Índios Parecis, trabalhando em fazendas da região, voltaram para trabalhar em sua própria terra. Trabalhar para outros podiam, estavam aculturados, para si em sua terra, não. Coisa mais estranha. Lideranças indígenas dali defendiam que o melhor caminho para o índio seria plantar, não arrendar. Aprenderiam mais, escapariam da dependência que carregam.
Funai, Ibama e MPF eram contra essa atividade, com base em lei que proíbe o índio explorar suas terras dessa maneira. Que se deve manter a tradição cultural indígena.
Não se está falando em mexer em terras de tribo indígena no meio da Amazônia, em estágio cultural diferente. Não estão aculturados ainda para esse tipo de vida. O caso dos índios Parecis e Xavantes é bem diferente,
Busco números, antes publicados nesta coluna, sobre o mundo indígena. No Brasil se têm cerca de 800 mil índios. Uns 500 mil estão terras indígenas, os outros em geral nas periferias de cidades. São 109 milhões de hectares de terras indígenas, 1.1 milhões de km2 ou 13% do território nacional. Em MT são 188 mil km2, quase 19 milhões de hectares.
Com toda essa terra, a expectativa de vida do não índio é de 76 anos, entre os índios 63. A mortalidade infantil entre os índios é de 41.9 por mil nascimentos, entre o não índios é de 19 por mil nascidos.
De todas as mortes entre os índios, 40% são de crianças até quatro anos de idade. Desnutrição é a maior causa. Desnutridos e tendo milhões de hectares para plantar. Até gripe mata mais os índios. Suicídio, assassinatos e alcoolismo também são altos entre eles.
Por que os indígenas, morando em suas terras e mantendo suas crenças e cultura, não podem produzir ali? Para ter qualidade de vida adequada e não dependentes de favores que quase nunca chegam.
Por que também os índios não podem ganhar dinheiro explorando turismo em suas terras, em que o visitante teria contato com sua vivência? Isso ajudaria a preservar a terra e sua cultura. Mais um? Por que não podem ter um percentual mensal sobre qualquer usina hidrelétrica construída em sua terra?
A ação do governo do estado, com apoio da Funai e espera-se que o MPF também participe, é uma alternativa que pode marcar uma administração e ainda incorporar milhões de hectares ao processo produtivo no campo.
Alfredo da Mota Menezes é Analista Político.
E-mail: pox@terra.com.br
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