É impossível superar a violência com mais violência. Como já afirmou o Papa João Paulo II, “a violência destrói o que ela pretende defender: a dignidade da vida e a liberdade do ser humano”.
Há uma sensação de barbárie no ar. A repercussão dos casos de violência no país tem assustado tanto pela quantidade quanto pela forma cruel que vem ocorrendo. Crianças, adolescentes, mulheres, homossexuais, andarilhos, crimes raciais ou de ódio, ataques por mero prevalecimento ou mesmo violência no trânsito tem sido uma constante no noticiário.
Mecanismos de controle formal ou mesmo os ativistas tem levantado bandeiras de conscientização e mesmo assim não tem inibido tais brutalidades. Há uma ineficiência generalizada nas tentativas de diminuir ou barrar as práticas. Fácil entender; o crime no Brasil não tem penas severas e educativas. Mas esta não pode ser a única explicação.
A cultura da violência como solução de conflitos chegou no Brasil principalmente pelos europeus. Andrew Schneider disse que “a violência é uma questão de poder. As pessoas se tornam violentas quando se sentem impotentes”. Tanto que após anos ainda assistimos pessoas enaltecendo pais que educaram ou educam filhos a base de “surras”. Mesmo sabendo que até no adestramento de animais não se usa mais a agressão.
Soma-se a isso tudo o enjaulamento provocado pela vida urbana, a insatisfação provocada pelo consumo enquanto forma de vida moderna, a ausência de atividades esportivas ou formas de extravasar as energias, o medo constante de perdas afetivas e patrimoniais e o recrudescimento das regras de circulação provocado pela pandemia. “A violência faz-se passar sempre por uma contra violência, quer dizer, por uma resposta à violência alheia”, Jean-Paul Sartre.
Se não fomos educados nem para viver colegiadamente, imagina confinados, enjaulados e sob o império da vida coletiva? Temos uma defasagem educacional e cultural enorme que nos empurra para o egoísmo e a solidão do “faça você mesmo contra tudo e contra todos”. Vivemos em bolhas e a maioria não tem sequer expectativa de vida ou de futuro, o que torna combustível para o conflito. Daí para a violência é só uma questão de oportunidade.
Há junto a tudo isso uma irresponsabilidade autorizada no país por autoridades constituídas através do “nós contra eles” formulado por esta política binária que se formou a alguns anos como forma autorizativa para a violência, ataque às instituições, ataques às pessoas, ataques virtuais através das redes sociais, patrulhamento político, gravações e pilhamento através dos vídeos de celulares e exposição pública. Eleição de pessoas vazias e bravateadoras é uma constante. Na guerra quem tem menos armas ou é mais fraco sai machucado ou é morto!
Como afirmou o padre Antônio Vieira, “amor e ódio são os dois mais poderosos afetos da vontade humana”. A correção desses rumos passa por governantes mais responsáveis pelas suas palavras e atos, mas passa também pela colaboração de uma educação que vá além da escolarização e da inclusão. Passa por uma educação amorosa e efetiva, pois precisamos entender que “a violência é sempre terrível, mesmo quando a causa é justa”, como afirmou Friedrich Schiller.
Embora sabemos que a péssima educação carrega o estigma de ser culpada pela desigualdade e pela violência. Mas não podemos esquecer que a corrupção é fruto de nossa cultura do jeitinho. Da nossa hipocrisia, incoerência e ganância. E isso não é culpa da educação, isso é responsabilidade governamental e institucional. O Brasil e o brasileiro têm jeito, o que não tem jeito é a forma como muitas autoridades fazem com a vida dos brasileiros.
João Edisom é Analista Político, Professor Universitário em Mato Grosso.
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