• Cuiabá, 28 de Setembro - 00:00:00

Saldo Devastador

A arena política é rica em divergências de ideias, discordâncias e posicionamentos distintos. E é exatamente isso que a torna sedutora, instigadora e necessária. Necessária e imprescindível. Até porque toda e qualquer sociedade humana sempre se constitui pela pluralidade, jamais pela uniformidade, ainda que, em muitos momentos, uma Nação e outra tenham ficado sob o signo de ditaduras e instalados totalitarismos.

Regimes, evidentemente, que forçam e obrigam o discurso único. Forçam e obrigam. Além de forçarem e obrigarem, claro, fizeram tudo para impedir o surgimento de posições que lhes fossem contrárias, e, ao identificarem tais situações, perseguiram, prenderam, torturaram e mataram os “indesejados”. “Indesejados” sob a ótica dos ditadores e totalitários, evidentemente. Felizmente, se é que se pode usar este termo, sobreviveu o óbvio: o plural. Aliás, o próprio viver democrático se fortalece e se consolida com a pluralidade de ideias, de posicionamentos. E todo posicionar-se, independentemente de qual assunto ou situação seja, obviamente, é uma ação política.  

Ainda que haja, e sempre há quem nega a existência de tal ação por parte dos “não políticos”. Negam, no exato instante em que concebem a atividade política apenas para alguns poucos, “os escolhidos”, e, entre estes, senão em sua maioria, os que rejeitam quem deles divergem. Rejeitados que são, por aqueles, transformados em inimigos, não simplesmente adversários. Isso é alimentado, realimentados, ainda que se tenham arranjos e rearranjos políticos. Mas, nem isso, claro, faz com que aqueles venham a mudar de comportamento, pois só sabem cantarolar o samba de uma nota só. E, desse modo, reforçam o que nunca deveriam reforçar-se: o fazer política com revanchismo, vingança e inimigos.

Tripé condenável. Abominável. Porém, estranhamente, bastante em vogo hoje em dia. Não apenas nas mais distantes paragens, nem apenas por parte dos vizinhos, mas também por aqui, tanto no âmbito nacional, quanto no estadual e municipal. Veja leitor (a), por exemplo, a briga de rua entre o governador e o prefeito da Capital. Briga motivada por aquele tripé, tanto quanto o é alimentada ou realimentada. Governantes que se comportam como chefetes e coronéis da política regional. E, ao se comportarem desse jeito, e considerarem adversários em inimigos e se sentirem motivados pela revanche e pela vingança, desvirtuam sobremaneira os conceitos da arte da política.

Arte tão realçada e valorizada por Aristóteles. Imprescindível na vida humana. Afinal, está presente cotidianamente em todas as ações das pessoas, até mesmo em muitos de seus desejos, ainda que parte delas não tenha ciência disso. Até porque as reivindicações foram um dia apenas desejos e vontades, e, em cada uma destas fases, se é que se pode chama-las desse modo, a política esteve e está presente.

E o que se reivindica pode virar a ser lei, iniciativa que possa minorar as dificuldades de um grupo ou de todos. Mesmo que não a se tornar lei ou programa, jamais deixará de ser uma ação, um manifestar-se, posicionar-se, e, portanto, política. Daí a necessidade sempre de conceituar a política, e são vários seus conceitos, mas um deles é importante que se repita aqui: política é a gestão dos desejos em conflitos, assim como a gestão dos desejantes conflitantes. Isto é basilar. Tanto quanto a necessidade de se saber que uma administração pública, qualquer que seja ela, não importa, deve estar voltada para o bem comum, direcionada para a coletividade.

O desconhecimento ou o descartar disso, sem dúvida, traz enorme prejuízo. Prejuízo imensurável. Igual prejuízo se tem e terá quando o chamado político, ainda por cima com cargo, motiva-se por revanches, vinganças e considera, quem dele se diverge ou se posiciona diferente, inimigos. Pobre Nação, país, Estado e município. Saldo devastador. É isto.

 

Lourembergue Alves é professor universitário e analista político.  



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