• Cuiabá, 21 de Novembro - 00:00:00

Oficial e Não-Oficial

Vive-se em pleno século XXI. O mundo hoje tem outras realidades. Realidades, às vezes, confundidas com os retratos ficcionais. Ou são estes que se aproximas daquelas. Ou, quem sabe... Deixe para lá! Talvez, cabe apenas dizer: ficções e realidades, por várias ocasiões, circunstâncias, talvez, ocupem igual lado da mesma moeda. Cara ou coroa? Não se trata de escolher entre duas alternativas, ou tem? Dúvida atroz. Jogo antigo. Bastante simples. Só consiste em jogá-la para o alto, então verificar qual de seus lados ficou voltado para cima após sua queda. Espere!... Um momento. Qual é o lado da coroa? 

Um deles se identifica com facilidade, pois traz a imagem de um rosto, a Efígie da República. Já o outro, em que contem o valor, ainda que desvalorizado, economia depauperada, nada se parece com coroa, embora equivocadamente tida como tal. E aí? Ah!... Melhor voltar-se para a frase primeira deste texto. Fazia-se menção ao período vivido, distanciado anos-luz da antiguidade, igualmente do medieval, ainda que se ouçam contos de fadas. Bem menos que em outras fases, mas os ouvem. Afinal, os autores românticos inventaram um passado cercado de ricos castelos e belas princesas.

Tudo dentro de um ideal artístico que, sequer, espelhava a situação real da maioria da população da época medieval. Inversão até hoje sentida. Sentida e agravada por conta da desigualdade reinante. Reinante em meio ao redemoinho do coronavírus, com o presidente da República ignorando o perigo da doença e os governos do Estado de Mato Grosso e dos municípios de Várzea Grande e de Cuiabá sempre a maquiarem os dados de infectados, sempre a menor, enquanto elevam-se em demasia os números de leitos destinados para o covid-19, por eles criados.  

Aliás, de acordo com a tabela oficial, o Hospital Estadual Santa Casa dispõe-se de 40 leitos de UTI; o velho Pronto Socorro (Cuiabá), 55 leitos de UTI; Hospital São Benedito, 30; o Júlio Müller, 10; o Metropolitano, 40; o Pronto Socorro de Várzea Grande, 02. Números insuficientes, mas importantes para o combate da doença no seu início. Mas... Sempre há um “mas” entre a fala oficial e a verdade da situação. Pois aquela vem realçada pela propaganda, que se distancia da publicidade, afinal, o publicizar, de acordo com a Constituição Federal, segue, ou deveria seguir o rosário da transparência, o que, por si só, não aceita maquiagem, nem o faz-de-conta.

Ao contrário da propaganda, cujo verniz encobre os traços do quadro verdadeiro. Pois os números divulgados são versões, as quais em nada condizem com o fato, com o retrato real. Isto porque o Pronto Socorro de Várzea Grande não interna paciente algum, e o que aparece é, logo, enviado para Cuiabá. Nas Casas de Saúde privadas inexistem vagas. Restam as públicas. Acontece que dos 40 leitos da Santa Casa, 23 apresentam respiradores obsoletos. Portanto, não disponíveis para uso. Por outro lado, o Metropolitano (Várzea Grande) também possui 11 leitos sem qualquer condição de receberem pacientes. Já no velho Pronto Socorro, com seus oficiais 55 leitos de UTI, 12 continuam sem ser montados. Sua antiga estrutura deixa bastante a desejar, e, por causa dela, recusava-se a aceitar pacientes devido a vazamento e precariedade.

Somam-se a isso a uma série de faltas. Falta de respiradores, insumos, EPI (equipamento de proteção individual) e de profissionais qualificados, e os que estão na linha de frente, ainda seguem com atraso salarial. Atraso que se repete na cidade dos várzea-grandenses. A respeito disso, no entanto, pouco se fala. Por certo, porque os governos das duas cidades e do Estado continuam obcecados em repetir igual lengalenga: “temos tantas vagas”. “Ocupação das vagas estão em 35%”. E, entre um boletim e outro, o bate-boca já costumeiro, envolvendo o prefeito da Capital e o governador. Pobre povo! Só lembrado em discurso político, enquanto o dinheiro para combater o coronavírus vai diluindo, diluindo nas águas da demagogia, da incompetência. Ou na da... Deixa pra lá! É isto.

 

Lourembergue Alves é professor universitário e analista político. E-mail: lou.alves@uol.com.br.



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