Bolsonaro quer nomear o filho embaixador nos EUA. Acredita que essa indicação pode alterar a relação entre EUA e o Brasil. Alega-se que o filho teria relações com pessoas próximas a Donald Trump e que este presidente mostra-se amigo do povo e governo brasileiro. A história ensina que é um equívoco acreditar nisso.
No escrito de Walter Lipmmann sobre a economia de esforço, os norte-americanos tem uma fotografia mental da América Latina e a olha sempre da mesma forma.
Acreditam, desde os primeiros contatos no século 19, em superioridade e que professavam a religião correta. Tiveram ainda vitorias em guerras fáceis, principalmente contra o México em que os EUA engrandeceram em um terço seu território. Entendem que a herança colonial ibero-católica criou o comportamento equivocado da região.
Com base no Destino Manifesto, expandiram para toda a área. Era uma missão quase divina civilizar outros povos. Até hoje isso está entranhado na alma daquele povo e quando se refere à América Latina a coisa fica até pior.
Os EUA têm o Havaí como estado e nenhum da América Latina. Porto Rico é estado livre associado, não membro efetivo daquele país. Quando invadiram o México repudiaram a anexação porque temiam ser contaminados pelo outro. Preferiram, ao invés de anexarem Cuba, criar a emenda Platt na Constituição cubana que permitia invadirem a ilha se assim entendessem. República de Bananas é o pejorativo mais comum na mente do norte americano sobre a América Latina.
Em certos momentos se aproximam da América Latina, como antes e durante a Segunda Guerra mundial. Receio da presença nazista na área. Mostravam serem amigos, até nos filmes. Terminada a guerra volta-se ao de sempre.
O de sempre é o olhar enviesado para as coisas da região. Não vale uma aproximação maior. Se um governante dali fizer isso perde votos na próxima eleição. E a região é vista em bloco. É como nós brasileiros vemos a África, não por países também. Assim veem os norte-americanos a América Latina.
A maior parte da população do país é ignorante sobre as coisas da área abaixo do Rio Grande, pesquisas constataram isso. Vivem de estereótipos. Tem um livro, Latin America in Caricature, de John Johnson, que mostra como os jornais e revistas, através dos anos, caricaturam o povo da região. Até dói o que está ali.
Achar o governo Bolsonaro que isso vai mudar pela nomeação do filho ou porque se poderia estabelecer um acordo comercial com os EUA é não entender a história da relação entre as duas bandas da América. Eles têm, como sempre, interesses do momento. Uma maior aproximação do Brasil com a China ou com a União Europeia talvez esteja no radar deles.
O filho do presidente não vai mudar o relacionamento entre os dois lados. A história real entre o norte e o sul do continente leva a essa constatação.
Alfredo da Mota Menezes é Analista Político / Publicou o livro: Ingênuos, Pobres e Católicos: A Relação dos EUA com a América Latina.
E-mail: pox@terra.com.br
Site: www.alfredomenezes.com
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