No correr da semana que passou, o governador Mauro Mendes enviou à Assembleia Legislativa um projeto que modifica os incentivos fiscais concedidos anteriormente no Estado, e mexeu nas alíquotas dos impostos sobre energia elétrica e uma série de outros produtos do comércio.
É prerrogativa dele fazer isso. A questão que se levantou imediatamente foi os setores produtivos envolvidos não terem sido consultados e nem ouvidos. O fato levou-os a se reunirem em emergência e tentar saída honrosa. Não deu certo. O governador não os ouviu.
O fato implica na leitura obrigatória de que os setores produtivos no estado de Mato Grosso não possuem força política e tem pouca representação capaz de pressionar o governo e o governador. Quando digo força política não falo de ter representantes com mandato parlamentar. Falo da capacidade de articulação representativa e falo da construção de voz política junto á opinião pública e ao governo. Enfim, capacidade de serem ouvidos quando precisarem falar ou se manifestar. Seja pra reclamar, seja pra contribuir. Principalmente na capacidade de construir teses e ideias.
Por que não tem força política? Por desunião e por timidez. Medo de se expor. Líderes com pouca percepção de que a política não é feita só por quem tem mandato parlamentar. Ao contrário. Quem tem mandato precisa ouvir quem não tem. Ora, uma federação classista forte, tem por trás de si a representação de muitas empresas. Isso é força política se formar um conjunto. Somando-se as federações com os sindicatos patronais, associações diversas de produtores de todos os setores, representam a maior força política no Estado.
O conjunto é uma voz política. Funciona nas duas direções: cobrar e contribuir. Por que o governador Mauro Mendes não os ouviu? Porque está pressionadíssimo pelo custo e pelas dívidas da máquina pública. E por que ele não muda isso? Porque o sistema público é protegido por leis e normas que não permitem a qualquer governante fazer as cirurgias necessárias. Vira refém do mecanismo público.
Os setores produtivos poderiam apoiá-lo como força política pra enfrentar o mecanismo. É um jogo duplo. Morde e assopra. Mas isso exige percepção estratégica e capacidade de articulação que pede competência, organização e desejo de contribuir com o Estado. E mais: despojamento político-partidário. A sociedade espera por alguém assim!
O futuro da política estará nos braços da sociedade. Não mais nos braços confortáveis do Estado e dos seus políticos.
Onofre Ribeiro é jornalista em Mato Grosso
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