Mauro Mendes esteve em Santa Cruz de la Sierra para encontro com o presidente da Bolívia, Evo Morales. A conversa girou em torno da venda de ureia para o estado e também do restabelecimento da vinda do gás. Mesmo com um gasoduto de 645 km da Bolívia a Cuiabá nunca se tem certeza de ter gás de forma constante e firme.
Tem alguns sinais que faz acreditar que esse assunto possa ser equacionado. A Bolívia, nos acordos com o Brasil e Argentina, não entrega a quantidade de gás que promete nos contratos e, o que vem para o Brasil, a maior parte vai para o centro-sul.
Mas tem um dado novo nesse assunto. O gás do pre-sal abastecerá outras regiões do país. Com isso “sobraria” mais gás da Bolívia para venda. E um dos lugares para recebê-lo seria MT por causa do gasoduto
Outro dado que também ajuda a equacionar o problema do gás é que MT pode comprar praticamente toda produção de ureia daquele país para ser usada no setor agrícola. A ureia viria pela hidrovia Paraguai-Paraná até o porto de Cáceres. A Bolívia, no caso, passa a depender de MT para venda desse produto, além do gás que, em tese, vai sobrar ali.
O gás serviria para a termelétrica Mario Covas, para veículos e também diretamente para a indústria. Um dos itens mais caros para tocar a agroindústria no estado é a energia. Gás constante ajudaria a diminuir custos de produção.
Mais um dado a ser levado em consideração. Falam que na Reforma Tributária, que pode ser aprovada este ano, acabariam os incentivos fiscais. Quem hoje manda na carga tributária é o estado de origem. Passaria, no novo e unificado imposto, a ser cobrado onde é consumido. Motivo para não se ter mais incentivos.
Se verdade, seria burrice dispensar a existente ZPE em Cáceres que dá incentivos fiscais próprios e diferentes do que o estado daria diretamente. Além da ZPE receber o gás da Bolívia que passa poucos quilômetros dali.
Um encontro maior entre o governo do estado e da Bolívia foi agendado para junho aqui em Cuiabá sobre a compra de gás e ureia. Quem sabe se poderia também iniciar uma conversação sobre um trabalho conjunto de combate a drogas e tráficos em nossa fronteira.
Sérgio Moro esteve esta semana no Paraguai iniciando um acordo entre aquele país e o Brasil (com Mato Grosso e Argentina juntos) para combate a droga na fronteira entre os dois países. O Paraguai concorda com isso não porque é bonzinho, mas porque tem outros interesses econômicos com o Brasil. Imagine o Brasil impedindo indústrias daqui ir para lá ou atrapalhar a venda de produtos para os sacoleiros?
Porque MT não faz o mesmo com os bolivianos? Por que não pedir também a atuação do Moro e a parceria do MS? Os bolivianos não vão querer perder o mercado local para gás e ureia. Isso, como no caso do Paraguai, poderia render um acordão maior entre os dois interesses.
Alfredo da Mota Menezes é Analista Político
E-mail: pox@terra.com.br site: www.alfredomenezes.com..
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