Wlademir Dias-Pino, uma figura icônica no cenário artístico e literário brasileiro, emerge como um dos mais inovadores e prolíficos poetas visuais e concretos do século XX. Nascido em 1927, na cidade de Rio de Janeiro, sua vida e obra são testemunhos de uma mente que nunca se conformou com os limites impostos pelas convenções, sempre buscando novas formas de expressão e rompendo barreiras entre as artes visuais e a literatura.
Em decorrência de perseguição política, seu pai transfere-se com a família em 1936 para Cuiabá, onde passa a juventude. Em 1939, com 12 anos, edita na gráfica de seu pai, que era tipógrafo, seu primeiro livro: Os Corcundas.
A jornada artística de Dias-Pino começou na juventude, quando foi profundamente influenciado pelas vanguardas europeias, especialmente o futurismo e o construtivismo russo. Essas correntes instigaram seu desejo de explorar a relação entre palavra e imagem, som e significado. Seus primeiros trabalhos refletiam um espírito inquieto e experimental, sempre em busca de novas formas de expressão.
No entanto, não foi apenas a influência externa que moldou seu trabalho. A rica tradição cultural brasileira, com sua diversidade e complexidade, também teve papel fundamental na formação de sua identidade artística. Dias-Pino buscou integrar elementos da cultura popular brasileira em sua obra, criando uma fusão única que refletia tanto as influências internacionais quanto as raízes locais.
A década de 1948/50 marcou um ponto de virada na carreira de Dias-Pino. Foi durante este período que ele se envolveu com o movimento “intensivismo”, com forte ideário de inovações formais, antecipando as tendências mais radicais da poesia visual e das artes plásticas.
Volta para o Rio de Janeiro em 1952, onde passa a participar dos movimentos de vanguarda política e cultural da época. Um dos seis fundadores do movimento da poesia concreta no Brasil (são eles: Décio Pignatari, Ferreira Gullar, Haroldo de Campos, Augusto de Campos, Ronaldo Azeredo e Wlademir Dias-Pino). Participa da I Exposição Nacional de Arte Concreta, em 1956, tendo sido, ainda, um dos fundadores do poema/processo em 1967 e o primeiro autor a elaborar o conceito de "livro-poema", com o poema A Ave, considerado por Moacy Cirne e Álvaro de Sá o primeiro exemplar conhecido deste tipo de poema.
Vale ressaltar que o Poema/Processo foi uma corrente radical que buscava romper com as formas tradicionais de poesia e literatura. Este movimento propunha uma abordagem mais dinâmica e interativa à criação poética, onde o leitor não era apenas um receptor passivo, mas um participante ativo no processo de construção do significado.
A poesia concreta, com seu foco na materialidade das palavras e na estrutura visual do texto, encontrou em Dias-Pino um dos seus mais fervorosos praticantes. Ele acreditava que a poesia não deveria ser apenas lida, mas vista e experienciada de maneira sensorial. Sua obra frequentemente utiliza técnicas de colagem, tipografia experimental e formas geométricas para criar composições que são, ao mesmo tempo, visuais e literárias.
Para Dias-Pino, a poesia visual não era apenas uma técnica, mas uma filosofia. Ele via a página do livro como um espaço tridimensional onde palavras, imagens e formas podiam coexistir e interagir. Sua abordagem multidimensional permitiu-lhe criar obras ricas em significado e estética, desafiando os leitores a reconsiderarem suas concepções sobre o que constitui a poesia e a arte.
Wlademir Dias-Pino, em sua busca incessante por novas formas de expressão e seu compromisso com a inovação, deixou uma obra que é profundamente brasileira e universal. Sua poesia visual e concreta desafia a repensar as concepções sobre a arte e a literatura, convidando todos a explorar novas possibilidades e a ver o mundo por uma lente mais rica e complexa.
É por aí...
Gonçalo Antunes de Barros Neto tem formação em Filosofia, Sociologia e Direito.
Ainda não há comentários.