Acompanho eleições no Estado desde a municipal de 1976 quando se elegeram prefeitos e vereadores no velho Mato Grosso uno. Tempos quentes esses de eleições. Mas neste ano quebra-se a regra. A menos de um mês da eleição, o clima ainda é de poucas perguntas e de quase nenhuma resposta. Vamos aos fatos.
De um lado candidatos egressos de longas montagens eleitorais, na ausência de partidos políticos sólidos e fortes. É dentro dos partidos que começam e terminam as composições para as disputas lá fora. Sem partidos orgânicos, são necessárias as coligações de partidos pra se formar corpo de disputa. Coligações acabam se tornando ajuntamentos de interesses nem sempre conectados com os desejos da sociedade. Dificílimo montar um discurso nesse ambiente árido de conteúdo original.
O início da transmissão dos programas eleitorais no rádio e da televisão pareceria que o clima esquentaria. Não esquentou ainda. O cenário está assim:
1 – do lado do eleitor muitas dúvidas e incertezas, além de enorme desconfiança. Ele percebeu o mal que a política pode lhe fazer quando se distancia dos cidadãos;
2 – os candidatos percebem que não alcançam o eleitor com o discurso tradicional. Sempre baseado em promessas. O eleitor desconfia abertamente e o candidato não sabe lidar com essa desconfiança.
No fundo, a grande questão desta eleição é e será a linguagem. O que dizer pra alguém que vota ou não vota, mas tornou-se crítico ainda que muito amador? Sobra ao eleitor só um sentimento: desconfiança. Por isso não enxerga nenhum benefício em votar e nem no voto dado. Já os candidatos não tem a linguagem que atenda a esse eleitor magoado.
Sobre a cabeça dos candidatos pesam informações desencontradas tipo: como lidar com a desconfiança? Com a ameaça do voto em branco? Com a ameaça da ausência ao voto? Como lidar com a indecisão que na verdade é receio de futuras traições? Qualquer um que perguntar à média dos eleitores sobre os seus sentimentos obterá como resposta um monte de dúvidas e de perguntas.
Traduzindo: o canal de voz entre os candidatos e os eleitores está entupido. Os marqueteiros parecem não ter percebido as entrelinhas das suas pesquisas. Insistem em tratar doenças novas com remédios velhos.
Fica, quem sabe, o alerta. Se nesta semana em curso a campanha não esquentar, acenda-se a luz vermelha!
Onofre Ribeiro é jornalista em Mato Grosso
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