Olavo de Carvalho vem progressivamente ocupando espaço na mídia, principalmente pela declarada admiração do presidente eleito Jair Bolsonaro pelas suas ideias e pela participação dele na indicação de ministros. Nesse contexto, ver ou rever o filme ‘O Jardim das Aflições’ é interessante. Afinal, para falar, bem ou mal, é preciso minimamente conhecer.
Lançado em 2017, dirigido pelo cineasta brasileiro Josias Teófilo e filmado em 2015, nos EUA, na cidade de Richmond, capital da Virgínia, na casa do biografado, o filme tem como ponto de partida a obra homônima, lançada, em 1995, pelo escritor, complementada pelo seu pensamento e cotidiano. O projeto busca apresentar também o convívio familiar de um polemista por natureza.
O diálogo entre as ideias do entrevistado e sua vida cotidiana auxilia a construir um interessante perfil. As três partes eixos em que a narrativa se divide são: ‘Contra a tirania do coletivo’; ‘Como tornar-se o que se é’; e ‘As ideias dos náufragos’, talvez a mais contemporânea por mostrar como agarrar-se a certas ideias, seja de direita ou de esquerda, pode ser uma tábua de salvação perante o drama sem sentido da existência.
Para os amantes das artes visuais, vale a pena lembrar que o cartaz oficial do filme foi realizado a partir de pintura do competente artista visual Maurício Takiguthi, encomendada pela equipe de produção. A pintura original foi inclusive levada para os EUA e dada de presente a Olavo e sua família.
A inscrição do filme em alguns festivais gerou imensa polêmica com vozes apaixonadas contra e a favor. Talvez por isso pouco tenha se falado especificamente sobre a obra. Concordando ou não com as reflexões de Olavo de Carvalho, mas vale a pena verificar seus pensamentos sobre a vida, a liberdade, a própria carreira e o contato com alguns de seus alunos.
Sem formação acadêmica e personagem de numerosas discussões com jornalistas e intelectuais, Olavo de Carvalho coloca-se no cenário nacional de maneira ímpar. Capaz de emocionar detratores e defensores, muitas vezes sem que ambos conheçam seu trabalho, o ensaísta é uma figura a não ser ignorada.
O mérito do filme é jogar luzes sobre uma personalidade a ser melhor desvendada. Sua trajetória desperta curiosidade, capacidade humana que leva a ações louváveis da mente, como a exploração, a investigação e o aprendizado. E, somente desenvolvendo essas atividades, podemos ser pessoas mais completas para defender ou atacar, sempre com conhecimento e racionalidade, determinadas causas e ideias, inclusive o pensamento de Olavo de Carvalho.
Oscar D’Ambrosio é jornalista pela USP, mestre em Artes Visuais pela Unesp, graduado em Letras (Português e Inglês) e doutor em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e Gerente de Comunicação e Marketing da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.
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