Nos tempos atuais não é mais possível a qualquer atividade econômica, social ou política manter-se sem uma conexão com a política. A complexidade da sociedade, aliada à atual desordem política, social, econômica e institucional pública e privada vigente no país, torna qualquer atividade um risco. No caso do agronegócio de Mato Grosso, o título do artigo é provocativo, mas é real.
Pode se dizer que o agro tornou-se o elo mais forte da economia mato-grossense a partir de 1990. O interlocutor político inicial foi o deputado federal e depois senador Jonas Pinheiro. Seguiu-se o deputado federal Homero Pereira. O governador Dante de Oliveira (1995-2002) abriu as portas pra interlocução com o agro e deu grande apoio ao seu desenvolvimento. Já em 2003 o agro chega ao governo com o produtor Blairo Maggi.
De lá pra cá o agro teve papeis importantes crescentes na economia e na política. Cresceu junto em função da articulação política e da nova ordem econômica mundial quando colocou a China no primeiro plano das compras e commodities agrícolas e de minério de ferro do Brasil. Muito forte, o agro de Mato Grosso preferiu internalizar-se nas suas entidades representativas internas: Federação da Agricultura, Aprosoja, Ampa, Aprosmat e Acrimat. Por enorme erro estratégico absteve-se de participar da montagem e da condução das eleições na formação das bancadas parlamentares estaduais e federais em 2018.
Os economistas dizem que não existe almoço grátis. O preço para o agro veio imediatamente após a eleição com a posição do senador eleito Jaime Campos. Movido por duas razões: tirar o foco da pecuária onde ele é forte, e por represália, ao setor que não o apoiou na eleição. Propôs taxações ao agro e classificou o setor com adjetivação muito dura e até vulgar.
O governador eleito, Mauro Mendes, vai enfrentar tempos duríssimos na gestão financeira nesses próximos quatro anos. É um desmonte antigo. Resta-lhe negociar ou taxar o agro. Noutra ponta cortar sem piedade os custos do governo. Coisa dificílima porque a estrutura governamental é dominada pelas corporações de servidores públicos sindicalizados e organizados e os poderes. Aí ninguém mexe! A pressão política pra taxar mais o agro encontra o setor sem representação política capaz de negociar em linguagem e metodologia políticas e desgastado junto à opinião pública pelas críticas iniciadas por Jaime Campos que se alastram.
Vê-se perplexidade no agro e falta de ação negociadora. Muito arriscado deixar que a opinião pública forme conceito negativo contra o setor que conduz a força da economia estadual. É a falta de articulação política. Veio na eleição de 2018, dentro de um pacote de certa soberba. O preço vem na forma do almoço com preço elevado.
Tempos difíceis. Pelo menos em 2019 o agro pagará preço muito alto.
Onofre Ribeiro é jornalista em Mato Grosso
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