Faço uso de psicotrópicos devidamente prescritos, tem já algum bom tempo. Entretanto, o fato de tomar medicação, junto da terapia, não me faz sentir pior ou melhor do que ninguém.
Sou apenas um ser humano, tratando uma condição pessoal e buscando o desenvolvimento das próprias potencialidades, sem pedantismo e/ou vitimização. Ao contrário! Somente resolvi assumir a responsabilidade pelo que tenho de bom, bem como pelo que preciso melhorar.
Um amigo, farmacêutico e proprietário de uma farmácia, confidenciou-me que praticamente se vende mais antidepressivos, "hoje", do que antibióticos, como "ontem", na linha do tempo.
Precisamos falar mais sobre isso... O preconceito mata! As comorbidades são tratáveis e podem convalescer... A diferença é enorme, um gera vida, outro promove a morte, respectivamente invertido.
Na área da saúde mental, a ignorância precisa sucumbir às obviedades das nossas necessidades e das verdades que entremeiam à sociedade e à pessoa em si.
Como citei de passagem acima, faço terapia, tem muitos anos. A cada passo uma nova descoberta, regada a risos ou lágrimas, de dor ou alegria, mas, sempre caminhando adiante, sem olhar para o lado e/ou dar marcha-ré.
É muito interessante quando você é abordado, senão praticamente desafiado, e chega ficar implicado com o/a terapeuta, às vezes, até ensimesmado e esquivando-se da próxima sessão.
E, derrepente, peças do quebra-cabeça encaixam-se e vem um insight, exatamente sobre a provocação que você recebeu lá atrás. E daí você tem de ter a humildade de reconhecer que seu terapeuta sabia o que fazia. É você que não estava preparado para entender. É fabuloso!
Pena que muitos poucos concidadãos têm acesso aos serviços psiquiátricos, psicoterapêuticos e neurológicos, além dos medicamentos ministrados, que eu tive e continuo tendo, se precisar, graças a Deus.
E quando se é da base da pirâmide, alguém com depressão ou outra comorbidade ouve retumbante como um trovão que estoura em seu ouvido, bem como sente como um punhal cravado no seu coração, já machucado e triturado, senão próximo do fim: "É frescura! Levanta-te e vai trabalhar! Cria vergonha na cara!"
Daí, só quando ocorre o último ato, o ato extremo, do suicídio, após mais uma crise, todavia a última, sem precedente e sem volta mais, é que vão parar para pensar no que era dito, não dito, alertado e dissimulado, em voz alta ou em silêncio, antes da morte morrida vivida por quem já não vive mais entre nós.
Temos muito para evoluir...
Paulo Lemos é advogado em Mato Grosso.
(paulolemosadvocacia@gmail.com)
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