Como advogado, portanto, profissional integrante do Sistema de Justiça, considerado pela Constituição como sendo essencial à administração do Judiciário, preciso ser sincero em dizer que depois de uma década de atuação, faço de tudo, dentro dos limites civilizatórios e legais, para pacificar os conflitos que chegam ao meu escritório pelas vias alternativas da mediação e conciliação, extrajudicial, no máximo fazendo notificações, quando um telefonema não funciona, levando aos "fóruns e tribunais" apenas as demandas onde o acordo não foi possível ou quando não se pode fazer acordo.
A estrutura burocrática do Estado, responsável pela função de fazer justiça, entrou em colapso, está inoperante, sem credibilidade e não traz mais o mínimo de segurança jurídica em suas decisões. O arbítrio vale mais do que o ordenamento jurídico. A interpretação e as convicções estão acima das leis e da Constituição.
A atuação judicante foi politizada, mediante adoção de consciência de casta e manutenção de privilégios, se é que não tenha sido sempre assim. Para impor esta opção política, o Judiciário age não pela autoridade da argumentação, e, sim, pela força do autoritarismo da caneta de pena, que tanto afaga, quanto aplica pena, a depender de que lado você está, a favor dos interesses corporativistas ou da democratização do Sistema de Justiça.
Existem exceções em seus quadros, havendo membros com consciência cidadã e comprometimento público. Contudo, são sufocados, senão perseguidos, retalhados e até rechaçados das instituições, pelos seus próprios pares, se ousarem, por exemplo, abrir mão do recebimento do auxílio-moradia, ou por em xeque qualquer outro privilégio, que não se coaduna com o princípio republicano.
Caso a crítica venha de um reles mortal, como eu e você, caro leitor, fazem ouvidos moucos ou bradam sermos nós os hipócritas. Para o nosso lado é mais ou menos assim: "- Se ficar o bicho pega; se correr o bicho come..."
Triste sina de um país onde a balança da Justiça pende para si própria; e a "espada de Dâmocles" está sempre afiada para cortar a cabeça de algum incauto ou de alguém abusado que ouse questionar tudo isso.
Paulo Lemos é advogado em Mato Grosso.
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