Em abril de 1977 o então presidente, general Ernesto Geisel, convocou o governador de Mato Grosso, José Garcia Neto, a Brasília para anunciar-lhe que dividiria Mato Grosso. O que chamou-me sempre a atenção foi a frase que ele disse ao governador pra justificar a decisão. Repito-a aqui do jeito que o governador me contou por várias vezes. “Eu decidi dividir Mato Grosso porque o estado possui tantas potencialidades que um dia no futuro poderá ameaçar a soberania nacional”. Acredita-se que ele estivesse se baseando em estudos da Escola Superior de Guerra, que era a academia filosófica do pensamento militar que governava o Brasil.
Mais tarde, conversei longamente muitas vezes com o governador a respeito dessa afirmação de Geisel e filosofamos muito. Em 2000, já no governo Dante de Oliveira viajamos mundo divulgando Mato Grosso na perspectiva de lugar pra investimentos. Não se focava tanto na questão alimentar como agora. Na gestão Blairo Maggi aqueles seminários mundo afora começaram a dar resultados. Muitas empresas se instalaram em Mato Grosso ou anunciaram o seu interesse.
Mas Blairo não continuou a política de atrações. Nem Silval Barbosa, que o sucedeu. Mas a boa imagem de Mato Grosso no mundo continuou até hoje. De lá pra cá a China surgiu no cenário mundial como uma grande potência econômica. Substituiu a União Européia em compras de grãos de Mato Grosso. A tendência é comprar cada vez mais. Mas já ficou bem evidente que a segurança alimentar da China não se dará só pela simples importação de comida de regiões como Mato Grosso e de países como o Brasil.
Se quiser segurança alimentar terá que fazer investimentos e criar vínculos definitivos com o futuro, sob pena de ter quer lá na frente enfrentar a concorrência de países como a India e outros asiáticos com população crescente e economia em ascensão. Comida será a maior riqueza do século 21.
Recente visita do governador Pedro Taques, de prefeitos e de empresários à China surpreendeu-os. A China olha pro Brasil intensamente. Sinais explícitos de namoro. Frequentes visitas de comitiva de empresários mostram claramente isso. Sinais de pesados investimentos em infraestrutura que é o nosso gargalo parecem inevitáveis.
Os próximos anos serão de profunda reflexão sobre o Mato Grosso que queremos. Continuaremos exportando grãos in natura ou queremos industrializá-los e exportar tecnologia, preços e ganhar dinheiro na forma de impostos e de bons empregos pra nossa população?
Não vejo outro discurso pro ano eleitoral de 2018 que não seja o de projetar o nosso futuro dentro das brechas do mundo lá fora! Voltarei ao assunto.
Onofre Ribeiro é jornalista em Mato Grosso
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