Gostaria de lançar aqui uma provocação sujeita a chuvas e trovoadas. Nesses 28 anos em que escrevo artigos diários na mídia de Mato Grosso, tive a oportunidade de acompanhar todas as grandes transformações políticas, econômicas, sociais e culturais. Cito um dado pra começar a conversa. Em 1980 a primeira safra de soja indicou 30 mil toneladas produzidas. Em 1994, foram 3 milhões e meio. Em 2017, foram 53 milhões de toneladas de grãos. Em 2015 serão mais de 90 milhões de toneladas de grãos. As carnes deverá ser de 3 milhões e meio de toneladas.
Dados da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação – FAO, indicam uma demanda de 70% em alimentos, energia e fibras até 2050. O Brasil deverá responder por 40% dessa demanda mundial. Aqui entra a geopolítica mundial em relação a Mato Grosso.
Os Estados Unidos estão numa reconstrução de sua economia depois daquela crise financeira da bolha imobiliária de 2008. Já a União Européia vive a sua própria economia estagnada em alguns e dinâmica em outros países. O Japão vive ressaca econômica. Porém, quem vive o auge de um projeto de tornar-se a primeira potência mundial é a China.
A recente eleição do presidente Xi Jinping pra mais cinco anos está dentro de um projeto estratégico de tornar a China a primeira economia mundial na próxima década. Com cerca de 1 bilhão e meio de bocas pra comer e a necessidade garantir territórios aliados ao redor do mundo capaz de suprir também de recursos minerais e fibras. O Brasil e os países sulamericanos que sempre foram tratados como colônias pelas EUA estão na clara mira da China.
Embora haja quem não acredite no projeto da ferrovia bioceânica ligando o norte do estado do Rio de Janeiro ao Peru, no Oceano Pacifico, cortando Mato Grosso de leste a oeste, pode dormir desassossegado. Há muito mais em jogo que parece. Estamos falando do novo domínio político e econômico mundial até hoje exercido no século 20 pelos EUA e pela União Soviética. Hoje existe um jogo de cena entre muitos atores a respeito de ferrovias no centro do Brasil. Uma coisa é certa, porém: Mato Grosso estará no coração de todas as discussões ferroviárias. Basta um mínimo de estabilização política e jurídica no Brasil, passada a tempestade petista, a China cairá de assalto por aqui.
Deixo apenas essa breve provocação na expectativa de que o assunto possa interessar ao desinteressado mundo político estadual. Do contrário, no futuro, Mato Grosso será levado a reboque nesse assunto. Quer, aliás, é inevitável. Voltarei ao assunto.
Onofre Ribeiro é jornalista em Mato Grosso
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