Como jornalista e como diretor do Departamento de Divulgação do Governo de Mato Grosso entre 1976 e 1979, órgão equivalente à atual Secretaria de Comunicação Social, vivenciei todo o processo da divisão de Mato Grosso que gerou a criação de Mato Grosso do Sul. A Lei Complementar 31/77 é de 11 de outubro. Foi longo, sofrido e conturbado entre as regiões Sul e Norte do estado.
Na semana passada completou 40 anos. Já está fora do radar da atualidade para nós mato-grossenses. Em Mato Grosso do Sul o dia é feriado e considerado uma data da vitória pela divisão que durou décadas. Mas gostaria neste artigo de resgatar o ambiente nacional dentro do qual se deu a separação, chamada de divisão de Mato Grosso.
O país vivia o regime militar, governado pelo general Ernesto Geisel. Não houve consultas antes da decisão. O governo federal queria ocupar a Amazônia por duas razões: 1 – resolver problemas sociais e fundiários gravíssimos no Sul do país, principalmente no Rio Grande do Sul; 2 – ocupar a Amazônia por receio da expansão do socialismo que já penetrava na Amazônia a Oeste, na Bolívia, Peru e Equador.
A ideia de ocupar a Amazônia começou na gestão anterior do também general-presidente Garrastazu Médici, com a abertura da rodovia Transamazônica, ligando do Maranhão a Manaus, cortando a selva no sentido leste-oeste. Já a ocupação sul-norte se daria a partir de Cuiabá, que ficou conhecida como “Portal da Amazônia”. O 5º. BEC foi transferido do Rio Grande do Sul para Cuiabá como 9o. BEC. Abriu a rodovia Cuiabá-Santarém, de Cuiabá até o porto de Santarém, a 1.400 km. Ligou o país de norte a sul pelo centro e a rodovia BR-364 a noroeste, até Porto Velho. No centro já existia a Belém- Brasília e a BR-158, de Barra do Garças até Belém.
O ambiente brasileiro era de segurança nacional. Esse foi o tom filosófico da divisão. Estudos da Escola Superior de Guerra, a academia que pensava filosoficamente o regime militar e o desenvolvimento brasileiro, indicavam a necessidade de ocupar a Amazônia e dar seguimento ao espírito de Brasília, que fora na década de 1950, descentralizar a ocupação do Brasil para o Centro-Oeste. Agora agregava-se a questão militar de segurança nacional.
Era bem diferente a constituição do governo. Havia um ministério do Planejamento e Coordenação Geral, que cuidava de centralizar os planejamentos setoriais de todo o governo e transformá-los numa matriz de gestão unificada. Havia efetivamente um sistema de planejamento geral e coordenador pro país.
Dentro dele estava a ocupação da Amazônia. Onde entra a divisão de Mato Grosso? Deve estar perguntando o leitor. A região Sul do Estado, por sua proximidade com o Sul e o Sudeste do país, tinha muito mais infraestrutura. O Norte, ao contrário, ainda padecia um grande isolamento que só foi quebrado pela proximidade com Brasília a partir de 1960. Aí começa a divisão...
O assunto continua amanhã.
Onofre Ribeiro é jornalista em Mato Grosso
onofreribeiro@onofreribeiro.com.br www.onofreribeiro.com.br.
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