• Cuiabá, 21 de Novembro - 00:00:00

Faces relativas da verdade

A maior fragilidade coletiva da sociedade contemporânea é a falta de diálogo. Vivemos tempos perigosos para  expressar qualquer tipo de opinião que não conflua com a massa. De certa forma, cada indivíduo possui um pouco de extremismo dentro de si, afinal, cada um carrega consigo uma verdade relativa, que em determinados sentidos, ganha conotação de verdade absoluta.

Seria estranho se fosse diferente. Se cada um de nós não depositássemos fé na hipótese de que nossas verdades relativas têm um “q” de absoluto, viver seria insuportável. O conhecimento que acumulamos ao longo da vida vai se sedimentando no arcabouço existencial e formando uma grande rocha de verdades acumuladas.

O problema é quando acontece algum terremoto realidade, que neste sentido pode ser a opinião alheia diversa da particular, põe em ruínas aquele sedimento que aparentemente era inquebrantável. 

Diante disso, o que se torna mais grave não é o fato de que hora ou outra nosso acumulado saber cheio de verdades possa a vir desmoronar, e sim, a forma como nós reagimos perante esses momentos de crise.

É preocupante quando refutar a verdade relatava alheia se transforma em uma guerra de argumentos intermináveis, disparados à queima roupa contra quem quer que seja pelo simples fato de não existir nesta relação de interlocução uma mesma linha de raciocínio ou a mesma opinião favorável a determinado tema.

Verdades relativas, verdades particulares, verdades individuais, essas categorias da verdade são perigosas dependendo da força da proporção que tomam e de quem a elas pertencem. No próximo ano, quando teremos eleições majoritárias, discussões de alto teor explosivo virão à tona, tudo porque verdades limitadas, com base em realidades propriamente relativistas vão ser a principal fonte de argumento, independente da sigla partidária ou opinião política.

Para 2018 teremos de um lado defensores de um ideal ultraconservador autoritário, para o qual não existem possibilidades de diálogo. No lado oposto, um grupo de progressistas extremistas defenderão suas bandeiras, no centro, outro grupo, talvez preguiçoso quanto à discussões intermináveis e sem resultados práticos, farão a vez da massa que assiste a tudo, ansiosa pelo fim do período eleitoral para que de alguma forma sejam extintas as guerras espontâneas, que ora surgem em defesa de ideais distantes da verdade absoluta, se é que ela existe.

Desde que os seres humanos passaram a ser racionais, temos tido dificuldades em viver em sociedade, mesmo que é graças a este formato de vida que sobrevivemos até hoje, nos multiplicando e nos aborrecendo cada vez mais.

À verdade absoluta demos vários nomes, entre os quais: deus, universo, ocaso, consciência universal, cosmos entre outros. Mas na verdade, temos um medo existencial cada vez mais incisivo de buscar por essa verdade absoluta, porque dessa forma colocaríamos por terra muitas das convicções que nos motivam no cotidiano, sendo essas convicções as verdades relativas, propriamente ditas.

Confrontar verdades é uma forma de síntese. Nem o mais douto sábio na melhor performance da sua sapiência seria capaz de concentrar em si o lado absoluto da verdade. Quão pretensiosa é a postura de quem em meias palavras limitadíssimas de argumento tenta impor sua convicção como a melhor opção ao interlocutor. Isso é um exagero da ignorância.

Por essa razão é que reflito ser mais oportuno não dar muita atenção a quem de forma arrogante tenta impor suas verdades. Quem não consegue dialogar, também é incapaz de ouvir o interlocutor, quando este fala. Não sejamos hipócritas em acreditar que seja possível estabelecer linhas de diálogo com alto poder de empatia e falta absoluta de (pré) conceitos incapacitantes quando se faz referência aos filhos de Adão.

Mas se a verdade, absoluta ou não, for impossível como principal premissa do diálogo, que nunca nos falte a vontade de alcançar paz interior, afinal, é isso o que de fato vale a pena, e não tem verdade relativa que derrube essa verdade absoluta.

 

Vinícius Bruno é jornalista, atua na área de assessoria de imprensa, em Mato Grosso.

Contato: viniciusbrunojornalista@outlook.com



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