Parasita foi certamente a palavra que mais esteve em evidência no Brasil e no mundo durante a semana passada. No mundo, devido ao filme do sul-coreano Bong Joon Ho, que no domingo, de forma mais que merecida, conquistou os mais altos prêmios na festa do Oscar, o de Melhor Filme e o de Melhor Diretor, além de conseguir a façanha de ser o primeiro longa-metragem não falado em inglês na história de Hollywood a vencer na categoria principal.
E que bom que tenha acontecido isso! Que bom, pois agora o filme está sendo visto e apreciado por muito mais pessoas em todo o planeta, com o prêmio contribuindo para levar sua mensagem de encantamento e sublimação humana mundo afora, coisa que apenas as verdadeiras obras de arte são capazes de fazer assim, tão sutil e elegantemente.
No Brasil, a mesma palavra também esteve em pauta emendando a semana passada inteira e o início desta, seja na imprensa, nos parlamentos ou nas rodas de conversa onde quer que houvesse gente reunida. Só que, por aqui, o motivo de tamanho ‘sucesso’ não foi apenas derivado do filme e de sua repercussão antes e depois do prêmio: aqui houve um ‘mas’, houve, ainda, um ‘infelizmente’. Infelizmente, porque ela foi mal colocada pelo ministro Paulo Guedes, da Economia, quando comparou os funcionários públicos brasileiros a parasitas que vão, segundo ele, aos poucos, matando o “hospedeiro” (o Estado). Tão mal colocada que Guedes, mais uma vez, se viu obrigado a voltar atrás – o que, aliás, já havia feito em outras oportunidades, como da vez em que cogitou uma possível volta do AI-5 em caso de “badernas” nas ruas do país, quando associou a devastação ambiental na Amazônia à pobreza e, por último, quando cita as empregadas domésticas indo à Disney.
Para finalizar, e ainda uma vez voltando à questão do poder da fala por Bong Joon Ho ou Paulo Guedes, lembro que no filme, quando a família parasita está no ginásio, após a tragédia do alagamento de sua casa, o filho pergunta ao pai do ‘plano’ que ele dissera ter para escapar do imbróglio em que se meteram no porão da casa dos patrões, e então o pai responde: “não tenho plano nenhum. E nem adianta mesmo, porque você faz um plano, que pode até parecer perfeito, mas depois vem a vida e acontece tudo diferente”.
Ele, o pai, fala do ponto de vista de quem está perdendo, sofrendo, sem esperança, com a água lhe chegando ao pescoço, literalmente, e isso talvez justifique a sua falta de plano, a sua descrença na vida. Mas Paulo Guedes, a exemplo de todo homem público, não tem o direito de se comportar assim.
Afinal, os homens públicos trabalham (e falam) em nome de seus planos: planos econômicos, sociais, planos de governo que vão impactar diretamente a vida de toda uma coletividade, de toda uma nação. Assim, não podem se dar o direito do dizer e desdizer, do morde e assopra permanente que tem caracterizado muitas falas e ações de Paulo Guedes e outros membros do governo Bolsonaro.
Desse modo, espera-se que se pautem, sempre, pela capacidade e a responsabilidade da fala. Falar e agir com responsabilidade e consequência é o que lhes compete.
Fabrício Carvalho é maestro da Orquestra Sinfônica da Universidade Federal de Mato Grosso.
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