• Cuiabá, 18 de Maio - 00:00:00

De desencanto

Sorte temporal teve o Brasil. Isso é atestado pelos anais da Independência, evento que hoje se celebra com pompa do Oiapoque ao Chuí. O cenário em 1822 era propício à criação do Estado gigante no Novo Continente. Hoje, não seria fácil...

A princesa Leopoldina na verdade foi quem botou o jamegão na papelada que juridicamente criou no âmbito da comunidade internacional o nosso país, sem vínculos com o reino dos patrícios d’além-mar ora pois, pois! Dom Pedro fielmente reforçou a decisão de sua patroa ao proferir a célebre frase, “Independência ou morte”, numa parada de sua montaria e a de seus comandados à margem do paulistano riacho do Ipiranga.

Pedro teve a felicidade de contar com a sábia orientação do Patriarca José Bonifácio de Andrada e Silva, que falava a linguagem dos maçons brasileiros, que costuraram a Independência desde a Inconfidência Mineira. Nesse contexto entra a sorte da temporalidade. Imaginem se não tivesse acontecido o Grito do Ipiranga e o Brasil ainda lutasse pela Independência com a força e o patriotismo de seus filhos. Imaginem mais: que o chefe de governo fosse o Temer de agora. Continuem imaginando: seu principal conselheiro ao invés de José Bonifácio seria Meirelles ou o Angorá (essa gente barganharia com Lisboa). Não parem de dar asas à imaginação e instalem uma legislatura bicameral com as mesmas figuras de agora, inclusive sem mudanças na bancada federal mato-grossense, com Ezequiel, Bezerra, Fábio Garcia, Nilson Leitão, Wellington, José Medeiros, Valtenir (independentemente de seu partido no momento) etc. Não é somente isso: não se esqueçam de levar para o Supremo o diamantinense Gilmar Mendes.

Com seriedade, responsabilidade e amor pátrio, brasileiras e brasileiros representados pela maçonaria, advogados, jornalistas, intelectuais e estudantes se uniram no ontem pela Independência. No hoje, não seria possível reeditar o Grito do Ipiranga, a não ser que se buscassem tais sentimentos e reações junto ao povo nas ruas, pois a cúpula está corrompida e nem mesmo as exceções se sentem confortáveis para empunharem a bandeira da moralidade.

Justiça se faça a Leopoldina, patroa de Pedro, tão marginalizada no contexto histórico quanto as Maria de agora, que salvo as exceções de praxe, são meras testemunhas do que acontece ou quando muito modestas coadjuvantes dos fatos. Justiça também se faça aos mentores declarados e aos articuladores da Independência. Todos eles, indistintamente fazem falta, muita falta, porque a natural sucessão humana não nos brindou com homens públicos do quilate deles. O esfacelamento do ser humano militante na vida pública se repete nas instituições. Vivo esse desencanto embora creia em milagres – que um deles reproduza a frase de Pedro.

 

Eduardo Gomes de Andrade é jornalista.

eduardogomes.ega@gmail.com



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