• Cuiabá, 03 de Dezembro - 00:00:00

Diretas Já!

Nesta terça-feira, 25 de abril de 1984 o país pegava fogo. O regime militar que governava há 20 anos pregava uma lenta e gradual redemocratização. Mas não previa datas. As Forças Armadas estavam divididas entre a linha que queria a redemocratização e a linha dura contrária.  O presidente de então era o general João Baptista Figueiredo. Um deputado pouco conhecido de Mato Grosso avançou com uma pouco provável emenda pedindo eleição para presidente da República já nas eleições de 1985.

A emenda ganhou as ruas. O regime militar cansara a população. Teve seus momentos altos, mas naquele ano a economia ia de mal a pior. Inflação altíssima, crise internacional do petróleo, empréstimos externos e uma imensa crise com o Fundo Monetário Internacional, grande credor do Brasil. O deputado novato, filiado ao PMDB, era um mato-grossense de 28 anos que se notabilizou pela conhecida “Emenda das Diretas-Já”.

Um dia ele me contou que ao chegar à Câmara dos Deputados, aos 27 anos, pesquisou e não encontrou nenhuma proposta de emenda à Constituição propondo eleições diretas no país. A Constituição vigente, de 1967, previa eleições indiretas pra presidente da República, governadores, prefeitos das capitais e municípios em área consideradas de segurança nacional. Dante percorreu a Câmara até obter o número de assinaturas. Contou ter sido muito sacaneado por todos que o consideram ingênuo. Chegou a pedir assinatura de garçom engravatado pensando que era deputado federal.

Finalmente, o poderoso presidente do PMDB, deputado Ulysses Guimarães, assumiu a proposta modesta nascida no escritório do talentoso advogado  Dr. Paraná, pai de Dante. Comícios imensos nas capitais. 700 mil na Praça da Sé, em São Paulo. O país se polarizou em torno da emenda das Diretas Já. A cantora Fafá de Belém cantou o Hino Nacional num tom cívico, fugindo do tradicional tom militar. O país tremia de emoção. Discursos inflamados. Dante passou a ser uma personalidade nacional. A emenda foi derrotada na Câmara na votação do dia 25 de abril de 1984. O país estava inflamado querendo o fim do regime dos militares.

O ano de 1984 terminou com confronto aberto entre as facções militares redemocratizantes e a linha dura contrária. Muitos episódios de terrorismo. Finalmente em novembro de 1984, 7 meses depois o Congresso Nacional elegeu um presidente civil ainda pelo sistema indireto em que os parlamentares eram os eleitores. Tancredo Neves elegeu-se depois de enormes negociações com a cúpula militar. Não houve traumas na transição militar para civil. Tancredo Neves adoeceu no dia da posse e morreu sem ocupar o cargo de presidente da República pelo qual tanto lutou. Seu vice, José Sarney, assumiu por seis anos.

Por detrás, Dante de Oliveira entrou deputado e saiu estadista. Fez uma sólida carreira política. Em 2002 deixou o governo de Mato Grosso, e em 6 de julho de 2006 morreu em Cuiabá. Não ocupava mandato neste momento. Necessário lembrá-lo.

E a História segue a sua longa trajetória...

 

Onofre Ribeiro é jornalista em Mato Grosso

onofreribeiro@onofreribeiro.com.br   www.onofreribeiro.com.br          



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