• Cuiabá, 09 de Maio - 2025 00:00:00

Secretária de Saúde alerta sobre superlotação, falta de profissionais e diz que Estado deve participar


Rafaela Maximiano

Como está o cenário de pandemia da covid e síndrome gripal em Cuiabá, foi o tema da Entrevista da Semana com a recém empossada secretária municipal de Saúde, Suelen Danielen Alliend.  

Ao FocoCidade a gestora responde sobre as maiores dificuldades que a Saúde de Cuiabá experimenta, planejamento e estratégias; Centro de Triagem para covid; aumento de casos de covid x leitos de UTIs; alto índice de profissionais da área de saúde afastados por contaminação da covid e síndrome respiratória grave, entre outros assuntos.  

“Já estamos com falta desses profissionais de saúde. Estamos no aguardo autorização da Justiça para a realização de contratação temporária, espero que ela seja positiva, porque essa situação é muito preocupante”, pontuou a nova secretária sobre o afastamento de profissionais da área de saúde por contaminação da covid.  

Suelen afirma que o aumento de casos de contágio pelas doenças covid e influenza, tem grande parte de reflexo nas festas de final de ano e revela preocupação com a proximidade do Carnaval.   

“O Carnaval me preocupa muito – em Cuiabá não teremos – mas tem muitos municípios que já sinalizaram que não vão suspender a festa, e com certeza vamos ver uma demanda muito grande para atendimento na nossa rede de saúde da Capital”, disse.  

Cuiabana, Suelen Danielen Alliend revela que possui 17 anos de experiência na Administração Pública, especificamente no Sistema Único de Saúde - SUS, na Secretaria Municipal de Saúde de Várzea Grande e de Cuiabá. Já ocupou os cargos na Assessoria Técnica em Saúde em Várzea Grande, de Coordenadora de Faturamento Hospitalar, de Coordenadora de Sistema de Informação Ambulatorial e Hospitalar (SIA/SIH/SUS); na Coordenadoria Técnica de Controle e Avaliação/CTCA/SMS.  

Em fevereiro de 2021, assumiu o cargo de Secretária Adjunta de Planejamento e Operações na Secretaria Municipal de Saúde de Cuiabá e atuou na função de Secretária Municipal de Saúde de Cuiabá interinamente desde agosto deste ano, sendo efetivada em janeiro de 2022.  

Boa leitura!  

Acaba de assumir o cargo de Secretária de Saúde da Capital de Mato Grosso. Na sua avaliação, qual a maior dificuldade hoje do setor e, será feito um novo planejamento ou seguirá com as estratégias que vêm sendo adotadas?  

Neste primeiro momento já estamos sentando com uma equipe nova, não somente eu que fui efetivada, mas outros adjuntos e coordenadores. Fizemos uma primeira reunião de alinhamento e estabelecemos algumas estratégias para trabalhar em 2022.  

Pegamos a Secretaria de Saúde em um momento bem conturbado, em meio à pandemia que se alastrou no mundo inteiro; o maior desafio e enfrentamento é a superlotação da nossa rede de saúde, além da falta de medicamentos – que não é recente, já vem de um bom tempo.  

Não posso afirmar que somente a Secretaria de Saúde possa ser responsabilizada pela falta de medicamentos. Hoje nós temos uma grande dificuldade para fazer aquisições. Os nossos pregões, vários lotes foram fracassados, não tiveram propostas em vários itens. E, na hora de formalizar esses contratados enfrentamos várias dificuldades com os fornecedores.  

Isso para medicamentos de uma maneira geral, não estou falando somente da pandemia. No máximo que estávamos conseguindo ter sucesso - nesses pregões, nos processos licitatórios que a administração pública tem que seguir o rito processual - é de no máximo de 60% de sucesso nessas aquisições. E isso atrapalha bastante o planejamento da Secretaria como um todo, e do secretário que já vinha à frente da pasta.   

Vamos inicialmente enfrentar a solução desses dois desafios: aquisição de medicamentos com sucesso e atender com qualidade um grande público em meio à pandemia.  

Tendo em vista esse quadro de superlotação, tem alguma previsão para aumentar a quantidade de leitos de UTIs e enfermarias, principalmente exclusivos para covid? 

Ainda em novembro, não só a equipe da Secretaria de Saúde de Cuiabá, mas também a equipe de Vigilância epidemiológica, já tinha sinalizado sobre o aumento de casos. Sentamos com os colegiados que representam os secretários municipais do Estado, e apontamos esse aumento da taxa de leitos de UTI. Porque a tendência, seguindo a normativa nacional, é que atualmente esses leitos que atualmente estão habilitados para atendimento exclusivo à covid migrassem para leitos gerais.

O Ministério da Saúde inclusive contemplou Mato Grosso com 140 leitos, destes estavam para covid para migrarem, e, quando chegou em dezembro, a situação já piorou nós questionamos como seria essa migração uma vez que nós percebemos o aumento de casos.  

Alguns municípios como Cuiabá, eu em particular, me posicionei desfavorável à desabilitação total, no hospital referência temos 20 leitos de UTIs adulto e cinco leitos de UTIs pediátricas exclusivos para atendimento à covid. E, com essa possibilidade, já como uma cobrança ao secretário de Estado, pedimos que consiga aumentar esse número de leitos caso a gente aumente esses casos de covid.  

Então, existe uma cobrança, mas não temos uma certeza de que novos leitos abrirão, mesmo que o número de casos de covid aumente. Até porque esses leitos passam por pactuação com o Estado, e, a gente precisa dessa autorização do Ente Estadual, para que a gente aumente ou diminua. Os custos são elevados e o município precisa também da participação do Estado.  

Com o aumento novamente do número de casos de covid como ficam os demais atendimentos na área de saúde da capital?  

Cuiabá tem um diferencial dos demais municípios que é o atendimento de 70% de toda a alta complexidade do Estado. Cuiabá é referência para todos os serviços de alta complexidade em Mato Grosso. A média agente já vem realizando, então a alta demais municípios não dispõe desses serviços. Nós estamos com a pandemia da covid, a epidemia de gripe que também teve uma superlotação da Capital e continuamos com toda a alta complexidade: com todas as pessoas que sofrem infarto, pacientes com AVC, acidentados. A nossa rede urgência e emergência continuou e teve um aumento muito grande. Chegamos a atender no Hospital Municipal de Cuiabá, o Pronto Socorro: 60% da nossa demanda oriunda do interior. Mesmo com os aumentos temos que continuar atendendo a demanda.  

Os custos são elevados e o município precisa também da participação do Estado.  

Como você vê no dia a dia dos hospitais as diferenças entre o paciente infectado pela covid que foi vacinado e o não vacinado ou com ciclo incompleto?  

Temos percebidos pelos dados da equipe de Vigilância Epidemiológica, que as pessoas vacinadas com ciclo completo não evoluem para casos mais graves. Ocorrem as internações ainda, mas em um número inferior à vacinação, e, não temos percebidos a evolução para casos mais graves. E, graças a Deus ainda não tivemos detectada a variante Ômicron aqui em Cuiabá. Tivemos algumas suspeitas que não se confirmaram. E se Deus quiser essa variante ainda está longe da gente. 

Quais as estratégias a serem tomadas com o alto índice de profissionais da área de saúde afastados por contaminação da covid e síndrome respiratória grave?  

É uma grande preocupação da Secretaria de Saúde e do Prefeito, em relação ao total de profissionais que todos os dias estão se confirmando positivos e com sintomas. Para se ter uma noção até o dia 18 deste mês, nós tínhamos 575 profissionais afastados, entre médicos e enfermeiros, na rede como um todo. Consideramos um número muito alto, já vinhamos com uma demanda aquém do que era necessário; também já fizemos a publicação de um edital seletivo, temos uma decisão Judicial que estamos cumprindo de um TAC executado onde o Ministério Público proíbe Cuiabá de fazer contratações temporárias. Porém sentamos e pedimos ajuda ao MP, acionamos a Procuradoria do Município e colocamos toda essa situação.  

Inclusive dia 17 de janeiro, fizemos mais um protocolo pedindo socorro porque eu já vejo um colapso, já estamos com falta desses profissionais e com essa demanda muito alta já vemos a população reclamando que falta médico, que não foi atendido, mas realmente os nossos profissionais estão bem reduzidos e tentamos realocar, remanejar, fazer plantões extras, mas mesmo assim nós não conseguimos cobrir o déficit. Estamos no aguardo dessa autorização da Justiça, espero que ela seja positiva, porque essa situação é muito preocupante.  

Para se ter uma noção até o dia 18 deste mês, nós tínhamos 575 profissionais afastados, entre médicos e enfermeiros, na rede como um todo.

A Confederação Nacional de Saúde enviou aos ministérios do Trabalho, de Emprego e da Saúde, a solicitação de que os profissionais de saúde com covid assintomáticos e que tenham tomado a dose de reforço da vacina contra a covid não sejam afastados. Qual seu posicionamento?  

Seguimos uma nota técnica que reduz esses dias de afastamento. Anteriormente eram 14 dias para essa quarentena. O Ministério da Saúde reduziu esses dias, então o município de Cuiabá também acompanhou essa nota técnica do Ministério da Saúde, onde preconiza de sete a 10 dias esses afastamentos. Sempre estamos seguindo as recomendações do Ministério da Saúde, da Anvisa e da nossa Vigilância Epidemiológica que faz o acompanhamento desses casos. Preferimos diminuir o tempo de afastamento do que não afastar os profissionais que estivessem contaminados e assintomáticos.  

Atravessamos dois anos de pandemia sem a permissão no uso do autoteste para testagem de covid. Qual a sua opinião a respeito, deve ser liberado? 

Estamos acompanhando no cenário nacional, inclusive eu leio muito e acompanho no grupo de secretários nacionais de saúde, São Paulo por exemplo já está reduzindo esses critérios de alto testagem. E, o Ministério da Saúde não está conseguindo fazer essa distribuição no quantitativo que a gente precisa. Então estamos buscando outros meios, mas até as grandes fábricas já estão em falta os testes. Acompanhando o cenário nacional a tendência é que a gente avalie a situação e também diminua o critério para esses testes aqui em Cuiabá. Por exemplo, hoje nós temos uma grande quantidade de pessoas que vão Às Unidades de Saúde em busca de testes. Após três dias, a pessoa não está mais com sintomas e ele quer fazer novamente o teste, e, passando os dias do atestado médico para que ele retorne ao trabalho, ele quer fazer o teste de novo. Então queremos criar critérios mais objetivos de testagem junto à Vigilância e seguindo as notas técnicas nacionais, para diminuir essa fila de testagem e não faltem testes no mercado.  

Há intensão de abrir um Centro de Triagem para covid, a exemplo da que existia na Arena Pantanal?  

Não pode ser descartada a possibilidade, porém a princípio as triagens e testes estão sendo feitas em todas as unidades de saúde da capital, de forma descentralizada, facilitando inclusive o acesso à população, e está funcionando bem. Mas a situação pode ser reavaliada pelo prefeito Emanuel Pinheiro e equipe caso seja necessário.  

Com esse momento, com o número de infectados em ascensão, com o surgimento de novas variantes, ainda com desigualdade na aplicação das vacinas; Cuiabá deve retomar medidas mais restritivas como uso de máscaras ao ar livre e a proibição de eventos particulares como os que vem ocorrendo aos finais de semana, por exemplo?  

Acredito que o nosso gestor deva acionar a Comissão que faça a observação dos dados para essas medidas possam ser tomadas. Mas as orientações em Cuiabá por exemplo é para mantermos o uso de máscaras, não aglomerar, mas infelizmente vemos entre as pessoas um cenário diferente. Tivemos uma demanda muito grande desses municípios que no final de ano tiveram comemorações – Cuiabá não teve, mas outras cidades sim – e já observamos aumento na nossa rede, inclusive teve uma semana de janeiro que 14 pacientes aguardavam em fila para UTI e nós sabemos que temos que criar uma estratégia de abertura de novos leitos para o município de Cuiabá. E, o carnaval me preocupa muito, porque tem muitos municípios que já sinalizaram que não vão suspender o carnaval, e, com certeza vamos ver uma demanda muito grande para atendimento na nossa rede de saúde da Capital.  

E quanto a síndrome gripal H3N2, como está o avanço dela na Capital? 

Também era um cenário esperado. Geralmente nesses meses do ano é esperado esse aumento com síndromes gripais, só que ele piorou um pouco por causa da pandemia da covid que tinha diminuído e aumentou junto, além da alta demanda de urgência e emergência que também aumentou.   

Com esses três cenários estamos atentos pois é preocupante. Abrimos todas as nossas unidades de atenção básica para quem tem os sintomas leves, fazer consultas médicas e testes. E, nos casos mais graves a orientação é que a população procure as Policíclicas e unidades de Pronto Atendimento. Nos casos que demanda internação, temos também o fluxo definido com os hospitais de acordo com o plano de contingência publicado, onde os pacientes são enviados para o hospital referência que atende tanto os casos de covid quanto de influenza. E, à medida que os casos forem aumentando, caso ocorra, criaremos outras estratégias. Temos capacidade para aumento, porém esbarramos hoje na quantidade de profissionais que estão bem reduzidos. Por isso aguardamos uma resposta positiva da Justiça para fazer uma contratação emergencial para executarmos essas estratégias que estão na ponta da caneta se os casos subirem.  

E quanto a vacinação contra a covid para crianças, como Cuiabá pretende alcançar esse público, caso as dúvidas aumentem e os pais não levem seus filhos para vacinar?  

Desde o dia 20 de janeiro, o polo de vacinação da Unic Beira Rio realiza somente o atendimento das crianças de 5 a 11 anos. Com a chegada de novas doses de vacinas, já está autorizada a descentralização para cada região da cidade. As doses iniciais recebidas exclusivas para o público de 5 a 11 anos, é de 3.580, portanto priorizaremos aquelas que possuem algum tipo de comorbidade ou deficiência, seguida pelas quilombolas.   

Na sequência, é a vez das crianças que vivem em lares com pessoas com alto risco para evolução grave do coronavírus, como por exemplo, lares com pacientes soropositivo, oncológicos que realizam hemodiálise rotineiramente e imunossuprimidos. Conforme estimativa do Ministério da Saúde, 60.659 crianças desta faixa etária residem em Cuiabá.  

Saliento a eficácia dos imunizantes no organismo que contribui para a não evolução de casos graves de contágio, somada com outros surtos síndromes gripais como a influenza.  Estamos indo in loco verificar os problemas, ouvindo a população como um todo. Houve uma melhora positiva por determinação do prefeito Emanuel Pinheiro.  

O nosso recado aos pais é que tragam as crianças, vacinas salvam vidas sim e é segura. Tivemos momentos muito difíceis, mas os casos foram diminuindo e óbitos também. A vacina já demonstrou eficácia, não evoluindo para casos mais graves, o índice é muito menor.   

Já se tem alguma estratégia para resgatar esse público que não tomou a segunda dose ou nenhuma das doses?  

Já trabalhamos várias ações nesse sentido, inclusive fizemos a descentralização dos locais de vacinação, fizemos busca ativa, trabalho de mídia para divulgar e a população qual as ações ser venha se vacinar e também cobrando do gestor nacional quais ações serão tomadas para esse público procurem esses postos e venham a se vacinar. De repente uma campanha mostrando a importância da vacinação. Infelizmente nos deparamos com muitas fake news e isso atrapalha o pensamento da população que acha que a vacina vai matar. Então o que estava ao nosso alcance já estamos executando, aguardando qual será a condução do cenário nacional e que é uma cobrança que todos os secretários de saúde já fizeram.  

Tendo em vista esse cenário da pandemia explicado pela senhora, qual será sua orientação ao prefeito Emanuel Pinheiro para tentar minimizar o contágio, a fila de UTI e o aumento de casos na capital?  

O prefeito tem uma Comissão Estratégica sobre o assunto, onde participam além das secretarias de Saúde e Ordem Pública, vários segmentos da sociedade. Então vamos levar orientações e dados para esta Comissão, já solicitamos inclusive ao prefeito que o retorno dessas reuniões que estavam suspensas, para que possamos avaliar juntos os dados e definir quais serão essas novas estratégias que temos que tomar daqui para frente. Estamos só no aguardo dessa data para sentarmos em conjunto e avaliarmos. Não vamos decidir sozinhos, o Prefeito Emanuel Pinheiro faz questão de discutir em conjunto com a sociedade.




Deixe um comentário

Campos obrigatórios são marcados com *

Nome:
Email:
Comentário: