• Cuiabá, 15 de Dezembro - 2025 00:00:00

A morte súbita das empresas do Simples já começou


Carlos Alberto Pinto

Não é exagero dizer que estamos prestes a assistir a uma morte súbita das empresas do Simples Nacional. Não por causa de uma mudança legal explícita, mas por um movimento de mercado que já começou a exigir dessas empresas um nível de maturidade tributária, financeira e operacional que a maioria delas ainda não possui. Hoje, 74% dos negócios ativos no país estão no Simples, e a maioria mal sabe o que significa split payment, segregação de receita ou geração de crédito fiscal.

Essas empresas são, em sua maioria, jovens. Cerca de 40% delas têm até dois anos e 60% estão na categoria MEI. Elas nasceram de um impulso empreendedor, muitas vezes por necessidade, e se formalizaram em busca de oportunidades. Mas agora, com a nova lógica fiscal que se desenha, elas estão diante de um sistema que exige muito mais do que boa vontade e coragem. Elas precisarão entender de negócios, de cálculo, de cadeia de suprimentos e de compliance. E essa mudança não será gradual, será brusca.

A grande questão é que quem compra vai exigir crédito. E se a empresa do Simples não gerar esse crédito, será retirada da cadeia de fornecimento. É simples assim. Não adianta aumentar o teto de faturamento se o problema real está na estrutura, no comportamento e na falta de preparo. Muitas dessas empresas mal sabem quanto ganham, quanto gastam, e repassam informações subjetivas para seus contadores. Como competir nesse novo ambiente?

O impacto será maior no setor de serviços, que representa 62% das empresas do Simples. E aí mora o risco sistêmico: o país vai sentir na base da economia. Não podemos esquecer que é esse pequeno que conserta o ar-condicionado do prédio, que entrega a peça urgente, que atende o consumidor final. E ele será pressionado pelo topo da cadeia, não pelo governo. O contratante é quem vai determinar quem sobrevive e quem será cortado.

A provocação que deixo é objetiva. As empresas do Simples não vão desaparecer por uma decisão do Congresso, mas sim pela incapacidade de se manterem num mercado mais exigente. E não há mais tempo para esperar. Investir em adaptação é proteger o negócio. Tomar iniciativa agora é evitar perdas irreparáveis amanhã. O custo da inação é alto demais. A morte já começou, mas ainda dá tempo de evitá-la.

 

Carlos Alberto Pinto é Diretor do IBPT e CMO do Empresômetro.




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