• Cuiabá, 14 de Novembro - 2025 00:00:00

Por que sua empresa não cresce como deveria


Ricardo Pinheiro

Tenho conversado com dezenas de empresários nos últimos meses, e uma frase se repete com frequência: "Estamos trabalhando muito, mas não saímos do lugar". A sensação de estar correndo numa esteira é mais comum do que imaginamos. E o problema raramente está na falta de esforço ou dedicação. O problema está em aplicar as estratégias erradas para o momento da empresa.

Não existe solução universal em gestão. O que funciona para uma startup de dois anos não funciona para uma empresa estabelecida de dez. O que resolve o problema de uma organização em expansão acelerada pode sufocar uma que precisa consolidar processos. E é exatamente aí que mora o erro mais caro que um líder pode cometer.

Durante meus 20 anos em multinacionais, vi empresas tomarem decisões que catapultaram os resultados e outras que, apesar de tecnicamente perfeitas, fracassaram. Não porque as decisões fossem ruins em si, mas porque eram inadequadas para aquele estágio específico de maturidade.

A verdade é que muitos líderes não sabem em que estágio sua empresa realmente está. E aqui mora um paradoxo: a solução que tirou você da crise anterior, não raro é exatamente o que está criando a crise atual. O que te salvou ontem te aprisiona hoje. A informalidade que permitiu agilidade no início agora gera caos. A centralização que trouxe ordem agora sufoca iniciativa. Os processos que organizaram a operação agora engessam a inovação. Cada fase de crescimento carrega em si as sementes do próximo problema.

Empresas não crescem de forma linear. Elas alternam entre períodos de evolução tranquila e momentos de ruptura inevitável. Você constrói, consolida e, de repente, percebe que o modelo que funcionava perfeitamente começou a travar. É nesse momento de tensão que a mudança se torna urgente. E a mudança nunca é pequena, ela exige que você questione a própria forma como a empresa opera. O fundador precisa aceitar que não pode mais centralizar tudo. O gestor profissional precisa aprender a delegar de verdade. A equipe autônoma precisa se coordenar sem perder agilidade. Cada transição dói porque exige abandonar o que deu certo.

O que diferencia líderes que navegam essas transições com sucesso daqueles que ficam presos é a capacidade de antecipar. Se você sabe que dar autonomia após um período de controle rígido vai gerar descoordenação, você se prepara. Se você entende que profissionalizar processos irá, eventualmente, criar burocracia excessiva, você já pensa na solução antes do problema explodir. Não se trata de evitar as crises, pois elas são inevitáveis e até necessárias. Trata-se de reconhecê-las como parte natural do crescimento e agir no momento certo, com a solução certa. Isso exige humildade para aceitar que o que te trouxe até aqui não vai te levar para o próximo nível.

Quando você confunde os estágios, as consequências são brutais. A questão central não é apenas identificar o estágio, mas encarar a realidade de onde você está. Novamente, a de olhar para sua empresa com honestidade e admitir que, talvez, você não esteja tão maduro quanto gostaria. Que seus processos são mais frágeis do que aparentam. Que sua equipe depende mais de você do que deveria. Que suas decisões são mais intuitivas do que estratégicas. Que você e sua equipe precisam de novas competências.

Nos últimos dez anos como empreendedor, aprendi que toda empresa atravessa crises previsíveis. A crise dos primeiros clientes. A crise da primeira contratação. A crise do primeiro milhão. A crise da delegação. A crise da profissionalização. Cada uma exige uma resposta diferente, ferramentas diferentes, mindset diferente. Tentar pular etapas é garantia de retrocesso.

O que diferencia empresas que multiplicam valor daquelas que apenas sobrevivem é a capacidade de diagnosticar com precisão seu momento e implementar exatamente o que é necessário. Nada mais, nada menos. Não é sobre copiar o modelo da empresa de sucesso do seu setor. É sobre entender profundamente onde você está e construir a ponte certa para onde quer chegar.

Quanto mais clara sua visão sobre maturidade, mais rápido você cresce, pois para de desperdiçar energia em iniciativas que não fazem sentido para seu momento, para de contratar perfis que sua estrutura ainda não suporta e para de implementar ferramentas que sua cultura não está pronta para absorver.

A pergunta que todo líder deveria fazer é: "quais as capacidades que nossa empresa precisa para chegar ao próximo nível. Essa mudança de perspectiva transforma tudo porque força você a olhar para dentro antes de olhar para fora. A consolidar antes de expandir. A dominar o básico antes de buscar o sofisticado.

E aqui está a virada de chave que alguns líderes não fazem: atingir resultados excelentes não é sobre ter a estratégia ou o plano perfeito, é sobre ter disciplina de execução. Você precisa garantir que existam sistemas de acompanhamento das ações para que elas, de fato, aconteçam. Esses sistemas garantirão ritmo e accoutability (responsabilização).

A ideia central é muito simples: uma empresa com uma estratégia simples e clara (não precisa ser ciência de foguete), e um plano razoavelmente bem estruturado que seja executado com excelência, sempre superará um concorrente cuja estratégia é ultrassofisticada, mas o plano ficou na gaveta, sem ser executado, ou foi mal executado.

No final, gestão eficaz não é sobre fazer mais. É sobre fazer o certo, no momento certo, da forma certa. E isso só acontece quando você tem coragem de enxergar sua empresa como ela realmente é, não como você gostaria que ela fosse. Identifique seu estágio. Implemente as práticas adequadas. Tenha disciplina de execução. O resto é consequência.

 

Ricardo Pinheiro, empreendedor, fundador da N8x Educação - Escola de Negócios e da Relevo Tecnologia, empresa da área de Professional Services, tem mais de 20 anos de experiência em multinacionais como Microsoft, IBM e Thomson Reuters.




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