• Cuiabá, 06 de Novembro - 2025 00:00:00

COP30 coloca Brasil no centro da nova economia verde


Viviene Bauer e Luana Favery

A COP30, que será realizada em Belém, no estado do Pará, está se aproximando, e, com isso, o Brasil se prepara para ser o centro das atenções globais! Realizar megaeventos parece estar em nosso DNA, mas aproveitar o legado deixado por eles para gerar transformações efetivas e duradouras no país já é um capítulo à parte. E a COP tem o potencial para fomentar isso?

Por décadas, as Conferências do Clima foram vistas predominantemente como fóruns estritamente ambientais e diplomáticos. No entanto, uma mudança significativa marca esta edição: o mercado de capitais está finalmente reconhecendo que a pauta climática não é apenas uma questão ética ou regulatória, mas sim uma pauta de negócios.

A capital do Pará não será apenas um palco para debates sobre mudanças climáticas, mas uma vitrine viva do potencial de uma economia que alia a preservação da Amazônia à geração de lucro. Mais do que uma oportunidade de mostrar boas práticas, esse modelo pode posicionar o Brasil como protagonista e elemento chave global na transição para uma economia verde, demonstrando que é possível crescer de forma sustentável, inclusiva e estratégica.

A bioeconomia emerge como um grande pilar desse novo paradigma de desenvolvimento da Amazônia. A floresta, vista anteriormente apenas como um patrimônio a ser protegido, passa a ser reconhecida como uma fonte estratégica de valor econômico – capaz de gerar produtos, serviços e soluções sustentáveis que conciliam conservação ambiental com inclusão social e competitividade global.

Trazer este assunto para o centro das discussões é um legado poderoso que podemos construir para as próximas gerações – um legado que transforma a maneira como enxergamos o desenvolvimento econômico. Mais do que isso: empresas que investem em soluções sustentáveis, em tecnologias para o uso de recursos naturais de forma regenerativa e em serviços que geram valor respeitando os limites do planeta, estão moldando a nova lógica de prosperidade, e passaram a estar cada dia mais no foco dos investidores.

O mercado de capitais, com sua capacidade de alocar recursos em larga escala, tem o poder de transformar essas ideias promissoras em grandes negócios. É possível notar que, no cenário atual, o conceito de ESG (Ambiental, Social e Governança) e a transparência têm se tornado ativos financeiros. Empresas que já compreenderam essa dinâmica saem na frente. Muito embora alguns líderes mundiais já tenham sinalizado que essa pauta não é prioritária, o mundo dos negócios permanece firme nesse caminho. Os investidores estão cada vez atentos a organizações que alinham bons resultados a um compromisso genuíno com a sustentabilidade e a responsabilidade social.

Sabemos ainda que a transparência desempenha um papel crucial nesse novo cenário, funcionando como a garantia de que as informações divulgadas nos relatórios de sustentabilidade são confiáveis. Em especial na bioeconomia, a confiabilidade de dados e a rastreabilidade de um produto da floresta tornam-se diferenciais estratégicos – capazes de determinar o sucesso na captação de recursos e na inserção competitiva em mercados cada vez mais exigentes.

O Brasil tem diante de si a oportunidade de mostrar ao mundo que é possível ser uma potência econômica e, ao mesmo tempo, liderar com autoridade a agenda climática global. Esse caminho, embora desafiador, exige um esforço coordenado entre o setor público, o setor privado e a sociedade civil.

A vitória não será apenas diplomática, mas também econômica, impulsionada pelo amadurecimento do mercado de carbono e pela expansão do financiamento verde, que já desponta como alavanca de transformação e inovação em escala global.

Segundo estudos da Climate Policy Initiative, o Brasil ainda mobiliza volumes modestos de financiamento climático — cerca de R$ 26,6 bilhões ao ano, em média. Para cumprir suas metas climáticas até 2030, será necessário ampliar significativamente esse valor, com estimativas que apontam para centenas de bilhões de reais anuais em investimentos públicos e privados.

O mercado de capitais tem o potencial de ser um dos grandes motores dessa transformação, canalizando recursos em larga escala para iniciativas sustentáveis. Para que esse movimento ganhe força, é essencial contar com uma regulação clara, segurança jurídica e incentivos fiscais que tornem os ativos verdes mais atrativos. Nesse contexto, o papel do governo é decisivo - desde a formulação de políticas públicas até a criação de instrumentos financeiros como títulos verdes soberanos e mecanismos de garantia para projetos sustentáveis.

Nesse contexto, ganha destaque a adoção das normas internacionais do International Sustainability Standards Board (ISSB) - IFRS S1 e S2, que vêm sendo incorporadas voluntariamente pelas companhias abertas brasileiras a partir de 2025, conforme Resolução CVM nº 193 e suas atualizações.

Essas normas representam um avanço na padronização das divulgações financeiras relacionadas à sustentabilidade e ao clima e são uma oportunidade para os contadores ressaltarem seu papel fundamental dentro das empresas. O IFRS S1 aborda os riscos e oportunidades relacionados a sustentabilidade que impactam o valor da empresa; enquanto o IFRS S2 foca especificamente em questões climáticas, como emissões de GEE e estratégias de transição.

A adoção dessas normas no Brasil é estratégica e reforça a integração das informações de sustentabilidade às financeiras. Ao elevar a maturidade das informações de sustentabilidade é possível verificar uma melhoria na governança corporativa e uma ampliação da confiança dos investidores nacionais e internacionais. As oportunidades são claras e ilimitadas, no entanto, não podemos ignorar os riscos.

greenwashing — prática através da qual empresas simulam compromissos sustentáveis sem efetividade real — representa uma ameaça à credibilidade de mercado e à confiança dos investidores. Em paralelo, a falta de infraestrutura adequada para rastreabilidade e certificação das informações também limita o acesso de pequenos produtores ao capital, criando barreiras à inclusão econômica. Soma-se a isso o longo caminho de padronização nos relatórios de sustentabilidade com as novas normas, que dificulta a comparação entre empresas e/ou projetos. Reconhecer e superar esses desafios é essencial para consolidar um ambiente de negócios verdadeiramente sustentável e confiável.

É certo que acordos e compromissos diplomáticos serão assinados e que, muito provavelmente, as manchetes dos jornais ao redor do mundo versarão sobre isso. No entanto, o verdadeiro valor que esse evento pode oferecer ao Brasil talvez não esteja nos holofotes, e sim no fluxo crescente de capital direcionado a projetos sustentáveis.

Se o país conseguir mostrar ao mundo que seus produtos e serviços são genuinamente sustentáveis, não apenas na sua forma final, mas em toda a sua cadeia produtiva, temos a chance de virar o jogo, provando que o desenvolvimento do país pode, e deve, estar em sintonia com a preservação de seus ativos mais valiosos.

O momento é decisivo, e a hora para agir é agora. As empresas precisam se preparar para atender às crescentes exigências de transparência e impacto socioambiental. Os investidores devem ampliar sua visão, olhando além do retorno financeiro imediato e reconhecendo o valor estratégico da sustentabilidade. E o governo, por sua vez, tem a responsabilidade de atuar como agente catalisador da transformação. A COP30 não é apenas mais uma conferência internacional — é uma oportunidade histórica de reposicionar o Brasil como liderança global em uma nova economia mais inclusiva, resiliente e alinhada aos desafios climáticos do século XXI.

 

*Viviene Bauer é sócia de auditoria e sustentabilidade e Luana Favery é gerente de sustentabilidade na BDO.




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