Soraya Medeiros
Vivemos tempos em que o valor das pessoas parece pesar mais na balança do “ter” do que na leveza do “ser”. A sociedade, essa platéia inquieta e exigente, aplaude o brilho das conquistas materiais, mas raramente se detém para admirar a serenidade de um coração em paz.
Desde cedo, somos instigados a medir nossa importância por símbolos — o carro, a casa bem localizada, o cargo que impõe respeito. A viagem internacional vira pano de fundo para selfies, o tênis de marca vale mais que um cumprimento ao porteiro. E as redes sociais, essas vitrines do ego, transformaram o cotidiano em uma competição silenciosa: quem parece mais feliz, mais bem-sucedido, mais completo. Eis o paradoxo: quanto mais o “ter” se amplia, mais o “ser” parece encolher.
A envergadura social — esse jeito de nos curvarmos às aparências — nos leva a esquecer que o verdadeiro tamanho de alguém está naquilo que o dinheiro não compra: a empatia que enxuga uma lágrima, a gentileza no trânsito caótico, o caráter que se mantém íntegro na sombra. O sociólogo Zygmunt Bauman, ao descrever a sociedade contemporânea, já alertava que o desejo de "ser" foi substituído pela obsessão de "consumir", tornando as identidades tão efêmeras quanto os bens que adquirimos.
O “ter” pode abrir portas, mas é o “ser” que faz morada no coração dos outros. Quantas vezes o simples gesto de ouvir vale mais do que mil discursos? Quantas vezes um sorriso sincero ilumina mais do que o luxo de um salão?
Talvez estejamos precisando reaprender a olhar. A ver além do que reluz, além do que se exibe. Porque o “ter” pode ser temporário, mas o “ser” é o que permanece quando as cortinas do status se fecham.
No fim, o que permanece é o que somos — não o que exibimos.
*Soraya Medeiros é jornalista.
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