Paulo Lemos
Eu, Sonia Fiori - destaco o artigo a seguir - porque sigo o Deus da Vida!
Lembrando que vivemos tempos terríveis - "mar de lama" por cegos pelo deus do dinheiro - e assim - somos severamente perseguidos..
Mas como a partida é para todos - um dia constatarão a Verdade - e que o Pai tenha misericórdia de todos vocês envoltos nas teias das sombras..
Artigo:
Há uma guerra a ser travada não apenas no campo físico de Gaza, mas no campo ético da espiritualidade contemporânea. De um lado do muro, literal e figurado, escombros, corpos de crianças e o lamento de um povo sendo apagado da história.
Do outro, selfies sorridentes diante de locais sagrados, hotéis de luxo e uma movimentação turística que não para de crescer. Este contraste chocante não é uma mera coincidência; é a expressão mais nítida de um conflito teológico fundamental do nosso tempo: a adoração ao deus do dinheiro versus a fé no Deus da vida.
Enquanto bombas reduzem lares palestinos a pó, testemunhamos o boom medonho de caravanas evangélicas rumo a Israel. Líderes religiosos brasileiros, astros de um universo gospel que confunde devoção com consumo, embalam pacotes turísticos de "peregrinação espiritual" com preços atraídos pela própria guerra.
O que para um povo é a experiência do terror, para esses empresários da fé é uma oportunidade de ouro. Transformam a dor alheia em commodity, o cadáver de um niño sob os escombros em pano de fundo para um "encontro com Deus" financiado a dólar.
Esta lógica, porém, encontra um juízo severo e inequívoco nos próprios ensinamentos de Jesus, que advertiu: “Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de odiar um e amar o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e às riquezas [Mamom].” (Mateus 6:24). O que vemos é a escolha clara por um deles.
Chamam isso de espiritualidade. E, num sentido terrivelmente real, eles estão certos. A espiritualidade, como constructo humano, é um espelho. Ela reflete não um ideal divino de pureza, mas a natureza complexa e frequentemente sombria daqueles que a praticam.
Quando a norma dentro de um segmento religioso é a obediência cega a líderes "ungidos", a submissão a interpretações teológicas que justificam o injustificável e a busca por experiências estupidificantes em detrimento da consciência crítica, então a espiritualidade que emerge é, de facto, essa.
É uma espiritualidade necropolítica, que é cúmplice da máquina de guerra porque se beneficia dela. Cada caravana que desembarca é um tijolo simbólico e financeiro num projeto que já planeja erguer uma Riviera de resorts sobre os escombros do massacre. Esta indiferença para com o sofrimento do outro é a antítese do Deus que Jesus revelou.
Ele, quando interrogado sobre o maior mandamento, não citou rituais ou peregrinações, mas a essência da relação com o Divino e com o próximo: “Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu pensamento. Este é o primeiro e grande mandamento. E o segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo.” (Mateus 22:37-39).
O próximo, na parábola do Bom Samaritano, é justamente aquele que o poder religioso de sua época ignorava.
A pulsão transgressora que poderia contestar essa norma foi demonizada pela própria estrutura religiosa. Somos moldados a performar humildade perante os "escolhidos", e não a questionar as alianças sinistras que esses mesmos escolhidos firmam.
Transgredir, neste contexto, seria perguntar: Que Cristo é esse que caminha sobre cadáveres frescos? Que evangelho é esse que troca a solidariedade pela selfie no Muro das Lamentações?
A resposta silenciosa dessas caravanas é clara: o deus que ali se adora não é o Deus da vida. A evidência está no julgamento final descrito por Jesus, onde a medida da verdadeira fé não é uma viagem à Terra Santa, mas o cuidado com os mais vulneráveis: “Porque tive fome, e destes-me de comer; tive sede, e destes-me de beber; era estrangeiro, e hospedastes-me; estava nu, e vestistes-me; adoeci, e visitastes-me; estava na prisão, e fostes ver-me... Em verdade vos digo que, quando o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes.” (Mateus 25:35-40).
Enquanto se ignoram os irmãos pequeninos de Gaza, que são crucificados diariamente, todo o culto prestado em Jerusalém se torna, nas palavras dos profetas que Jesus citava, uma abominação.
Distinguir entre o deus do dinheiro e o Deus da vida tornou-se um acto de sobrevivência ética. A verdadeira espiritualidade, aquela capaz de produzir o bem, é necessariamente transgressora. É ela que se escandaliza, que clama por justiça, que escolhe o lado dos oprimidos e que recusa-se a financiar a lógica do extermínio.
Enquanto o "deus" do dinheiro aplaude a Riviera que virá, o Deus da vida, que chorou sobre Jerusalém e se identificou com os que sofrem, clama através de Jesus: “Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! porque que dais o dízimo da hortelã, do endro e do cominho, e tendes omitido o que há de mais importante na lei: a justiça, a misericórdia e a fé; estas coisas, porém, devíeis fazer, sem omitir aquelas.” (Mateus 23:23).
Cabe a nós, no exercício doloroso e difícil da consciência, decidir a qual deles realmente serviremos.
Paulo Lemos é advogado em Cuiabá e Mato Grosso e articulista de opinião de temas diversos
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