Carlos Pinto
Enquanto alguns do Brasil comemoram os avanços da Reforma Tributária, milhares de empresas correm risco de perder competitividade sem nem perceber. Estou falando das optantes pelo Simples Nacional — especialmente daquelas que não vendem para o consumidor final.
Ao liderar o estudo "Raio-X do Simples Nacional em 2025", no Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação (IBPT), identificamos um dado alarmante: mais de 70% das empresas do Simples operam no modelo B2B, ou seja, vendem para outras empresas e não para o consumidor final. E são justamente essas que podem ser as maiores vítimas silenciosas da reforma.
O que a reforma muda?
A criação da CBS e do IBS traz um novo modelo de tributação sobre o consumo, baseado em não cumulatividade plena. Isso significa que as empresas só poderão se apropriar de créditos tributários se o imposto tiver sido efetivamente recolhido na etapa anterior da cadeia — algo que, no caso do Simples Nacional, não se aplica.
Em outras palavras, as empresas do Simples passarão a não gerar créditos para seus clientes. E, em um mercado competitivo, isso se transforma em custo. As companhias maiores tenderão a substituir esses fornecedores por outros enquadrados no Lucro Presumido ou Lucro Real.
Exemplos reais a partir dos dados do estudo mostram que o setor de confecções, por exemplo, 84,6% das empresas do Simples atuam como fornecedoras para lojistas, e não vendem diretamente ao consumidor final. Essas entidades tendem a perder espaço, pois não geram crédito de IBS/CBS.
Já o setor de logística e transporte de cargas, as empresas do Simples representam 62,3% da base nacional. Aquelas que prestam serviço para as indústrias podem se tornar menos atrativas do ponto de vista fiscal. E o setor de tecnologia (TI e serviços digitais), muitos prestadores de serviços estão no regime, mas atendem companhias maiores que se beneficiarão do novo sistema não cumulativo. Com isso, permanecer no Simples pode implicar perda de contratos ou renegociação de valores.
O Simples ainda vale a pena?
Depende, se sua empresa vende diretamente ao consumidor final (restaurantes, salões de beleza, pequenos comércios), o Simples pode continuar fazendo sentido.
Mas, se você está em setores industriais, de serviços especializados ou atua como fornecedor para outras empresas, a migração para outro regime pode ser necessária para manter a competitividade.
O Simples não acabou. Mas, a reforma criou uma desvantagem competitiva para boa parte das empresas que estão nele. E a maioria ainda não percebeu. E as possíveis soluções são:
1. Analise sua posição na cadeia de valor: você vende para empresas ou para o consumidor final?
2. Simule o impacto tributário com e sem crédito de IBS/CBS.
3. Avalie a possibilidade de migração para outro regime, como Lucro Presumido ou Lucro Real.
4. Consulte um especialista em planejamento tributário com visão estratégica.
A transição para o novo sistema vai até 2033. Mas, quem esperar demais para agir pode já estar fora do jogo antes disso.
Ao liderar este estudo com base em dados concretos da Receita Federal, cruzamentos do Empresômetro e inteligência estatística do IBPT, o objetivo foi um só: acordar quem ainda acha que a Reforma Tributária não vai afetar a sua empresa.
Esse é o momento de deixar de lado a zona de conforto e agir com estratégia. O Simples foi revolucionário. Mas, agora, pode se tornar uma armadilha silenciosa para quem não souber usá-lo com inteligência.
Carlos Pinto é advogado tributarista, diretor do Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação (IBPT) e autor do estudo "Raio-X do Simples Nacional em 2025".
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