João Guilherme Sabino Ometto
Bastou o Brasil tornar-se o maior exportador de algodão e se consolidar como o segundo maior produtor global para que algumas publicações internacionais começassem a levantar dúvidas (infundadas, frise-se) sobre o caráter ecológico das plantações. A ironia é que nossa cotonicultura sustentável tem a chancela da Better Cotton, principal entidade certificadora global, que atesta o compromisso com critérios ambientais, sociais e econômicos. Entretanto, esse tipo de desconfiança não é novo. De tempos em tempos, diferentes setores da agropecuária nacional tornam-se alvos de narrativas enviesadas, desconectadas dos fatos e da realidade do campo.
Diante disso, é oportuno e necessário erguer a voz para lembrar ao mundo que não há país que concilie a produção agropecuária e a preservação ambiental tão bem quanto o Brasil. Dos campos brancos do algodão ao verde das pastagens e lavouras de cana-de-açúcar e soja, passando pelo dourado das plantações de milho às vésperas da colheita, somos líderes globais em conservação dentro das propriedades rurais. Os números são incontestáveis.
A realidade é que, em média, os imóveis rurais brasileiros utilizam apenas 50,1% de sua área para produção. O restante é dedicado à conservação da vegetação nativa. Estamos falando de uma área que representa 25,6% de todo o território nacional, índice que não encontra paralelo em todo o mundo. Essa dimensão territorial da preservação foi mapeada pela Embrapa Territorial com base nos dados do Cadastro Ambiental Rural (CAR), em uma análise geocodificada que detalha com precisão a área protegida em cada propriedade, em diferentes recortes: municípios, estados, microrregiões e o País. O Brasil rural está cartografado, medido e, acima de tudo, preservado.
A mesma pesquisa revelou que os produtores brasileiros (agricultores, pecuaristas, extrativistas e silvicultores) conservam, dentro de suas propriedades, impressionantes 218 milhões de hectares de vegetação nativa. Devido ao zelo de milhões de brasileiros que vivem e/ou trabalham na terra, é como se metade da Europa, literalmente, estivesse protegida.
Somos, de longe, o país com a maior rede de áreas terrestres preservadas no globo. O próprio "Protected Planet Report 2016", das Nações Unidas, destaca que o Brasil responde por metade de toda a área protegida da América Latina, com 2,47 milhões de quilômetros quadrados, colocando-nos como líderes mundiais em conservação ambiental.
Além disso, há uma distinção essencial que o mundo precisa entender: enquanto muitas nações baseiam sua preservação em parques e reservas estatais ou em incentivos financeiros aos proprietários rurais, a conservação é compulsória no Brasil. E não reclamamos disso. O Código Florestal (Lei 12.651/2012) determina que os produtores rurais preservem 80% da área na Amazônia Legal, 35% no Cerrado e 20% nas demais regiões, sem qualquer compensação financeira. Em média, o agropecuarista brasileiro, de todos os portes, produz em metade de sua terra e protege os outros 50%. Trata-se de uma das legislações ambientais mais rigorosas do planeta.
Esse esforço desigual entre países também foi exposto pelo estudo "Normas Florestais no Mundo: Áreas legalmente protegidas em propriedades privadas", do Observatório de Bioeconomia da Fundação Getúlio Vargas (FGV). A análise comparou as exigências legais impostas a proprietários rurais em países como Estados Unidos, Canadá, Alemanha, França, China, Austrália e os da União Europeia, demonstrando que o Brasil é, com ampla vantagem, o que mais preserva dentro das propriedades privadas no mundo. E isso, é claro, sem que muitos deem-se conta do rigor da nossa legislação e da extensão desse compromisso ambiental.
Apesar disso, poucos fora do Brasil conhecem ou compreendem, por ignorância dos fatos ou conveniência, esse esforço monumental. E muitos, infelizmente, preferem apontar o dedo antes de olhar os dados. É por isso que a COP 30 (30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas), que será realizada em Belém do Pará este ano, é uma oportunidade estratégica para o nosso país. Precisamos mostrar ao mundo que temos, sim, estrutura para sediar o principal evento climático global, pois isso também foi questionado, e para apresentar com clareza os números da nossa preservação.
Com a Floresta Amazônica como testemunha e cenário e as irrefutáveis estatísticas ao nosso lado, o Brasil deve cobrar coerência das nações desenvolvidas. Que cumpram, de fato, o Acordo de Paris. Que cessem os discursos acusatórios e comecem a agir concretamente para conter as mudanças climáticas, que já impactam a segurança alimentar, os ecossistemas e os biomas e impõem ao planeta um novo regime de secas, enchentes e eventos extremos.
Temos resultados ecológicos robustos, a ciência e os estudos da Embrapa e muita responsabilidade ambiental no campo. Com justificado orgulho, continuaremos a fazer o que sabemos: preservar para produzir cada vez mais.
*João Guilherme Sabino Ometto é engenheiro (Escola de Engenharia de São Carlos – EESC/USP), empresário e membro da Academia Nacional de Agricultura (ANA).
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