Soraya Medeiros
Há mulheres que não nasceram para o silêncio, para o recato, para a submissão. Elas nascem com a alma em chamas, o instinto afiado, o olhar profundo e o passo firme. São as lobas. Selvagens, intuitivas, corajosas. Mulheres que não se moldam às expectativas, que não vestem a fantasia da "boazinha" para caber em um mundo feito para homens e para mulheres domesticadas.
Mas, quando uma mulher desperta sua loba interior, quase sempre vem junto um preço: a solidão. E a incompreensão.
Ela passa a falar uma língua que poucos entendem. Sua liberdade incomoda. Sua intensidade é rotulada como exagero. Sua força é confundida com arrogância. Ela se torna "difícil", "indomável", "orgulhosa". Porque o mundo teme o que não pode controlar. E uma mulher que se escuta, que se basta e que se coloca no centro da própria vida — ela é uma ameaça.
Muitas vezes, essas mulheres são silenciadas por olhares de reprovação, julgamentos velados e afastamentos sutis. É como se o mundo dissesse: "Volte à sua forma mansa, sorria mais, diminua-se um pouco para caber aqui de novo." Mas uma loba, uma vez desperta, não cabe mais em jaulas. Ela prefere a floresta à coleira.
A solidão, então, não é uma escolha, mas uma consequência. Não é que essas mulheres não queiram amar, partilhar, se conectar — elas apenas se recusam a fazer isso à custa de si mesmas. Elas preferem estar só do que mal acompanhadas, preferem o silêncio da própria verdade ao barulho das convenções.
Ser loba é também carregar um coração sensível, uma alma que pulsa pela cura coletiva, pela liberdade de outras mulheres. Mas, na caminhada, muitas vezes elas são vistas como "radicais", "revoltadas", "egoístas". E isso dói. Porque ser incompreendida não é leve. Mas ser desleal consigo mesma dói ainda mais.
Por isso, quando uma mulher se torna loba, é preciso coragem. Coragem para habitar os vazios, para suportar o isolamento temporário, para resistir à tentação de se encaixar de novo onde já não cabe. E, principalmente, coragem para continuar sendo quem é, mesmo quando o mundo inteiro tenta convencê-la do contrário.
A loba que habita em cada mulher não quer guerra, mas também não aceita migalhas. Ela quer verdade, profundidade, respeito. Ela quer liberdade para amar sem se perder, para cuidar sem se anular, para existir sem se explicar o tempo todo.
E mesmo que o caminho da loba seja, às vezes, solitário, ele é pleno de autenticidade. E mais cedo ou mais tarde, ela encontra outras da mesma alcateia — e juntas, uivam ao luar, lembrando umas às outras que ser incompreendida não é fraqueza. É, muitas vezes, sinal de que se está no caminho certo.
*Soraya Medeiros é jornalista com mais de 23 anos de experiência, possui pós-graduação em MBA em Gestão de Marketing. É formada em Gastronomia e certificada como sommelier.
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