Rafaela Maximiano
No cenário político de Mato Grosso, o deputado estadual Wilson Santos (PSD) é reconhecido como uma figura de destaque. Autor de diversas leis e com uma trajetória marcada por seu compromisso com a sustentabilidade e inovação, ex-vereador e ex-prefeito de Cuiabá, ex-deputado federal também, o parlamentar concedeu ao FocoCidade uma entrevista abordando uma série de temas relevantes para o estado e o país.
Em um diálogo franco e aberto, Wilson Santos falou sobre suas visões em relação à economia, tributação, sustentabilidade e a atualidade da política brasileira. Ele defendeu com veemência a expansão da energia solar como uma forma de beneficiar a população carente de Mato Grosso, destacando a riqueza solar da região e a necessidade de se promover fontes de energia limpa.
Sobre a sustentabilidade e o sistema ESG (Sustentabilidade ambiental, social e governança corporativa), o deputado apontou desafios culturais que o empresariado brasileiro enfrenta para abraçar a causa. Ele ressaltou a necessidade de uma mudança de mentalidade em relação ao meio ambiente e às condições de trabalho, e a importância de o setor público e privado trabalharem juntos para construir uma nova consciência ambiental.
A entrevista também abordou temas como a reforma tributária, a taxação dos mais ricos, a Lei Kandir e as eleições municipais em Cuiabá. Wilson Santos se mostrou favorável a taxar grandes fortunas e implementar programas de cashback (programa de recompensa) para os mais pobres. Ele também destacou a importância de uma reforma tributária equilibrada e ressaltou a complexidade da situação internacional, especialmente em relação ao conflito entre Israel e Palestina.
Quando se trata da política local, ele elogiou nomes como os deputados Eduardo Botelho, Fábio Garcia e Lúdio Cabral, ressaltando suas qualidades. Ele ainda discutiu a possível expansão da Assembleia Legislativa de Mato Grosso, com a adição de três novas cadeiras, visando a representatividade de regiões atualmente desprovidas de representantes.
Por fim, a entrevista abordou sua posição em relação à chamada "Lei do Transporte Zero", destacando a importância do diálogo e da diversidade de opiniões em seu compromisso com a base do governo estadual.
As palavras do deputado estadual Wilson Santos lançam luz sobre questões críticas que afetam Mato Grosso e o Brasil, refletindo sua visão e compromisso em construir um futuro mais sustentável e equitativo para todos.
Boa Leitura!
Deputado, o senhor e autor de uma série de leis, mas um dos temas que constantemente a população reclama - se refere a questões relativas a economia e pagamento de impostos. Em relação a setores como energia elétrica, o senhor é autor de projeto que propõe instalação de energia solar para iluminação de prédios públicos, nesse aspecto, como avalia o atual campo em Mato Grosso para fazer chegar essa energia e economia à população pobre?
Eu sou um devoto da energia solar. Eu sou um devoto, porque ela agride praticamente zero o meio ambiente. Uma energia limpa, renovável, farta em Mato Grosso. Nós temos aí de oito a 10 horas de sol. Como dizemos nós cuiabanos: “sol quente mesmo, para rachar mesmo a moleira do caboclo”. Mas eu te dou um exemplo, a empresa Maturati quer construir seis hidrelétricas no Rio Cuiabá, numa extensão de 190 quilômetros, nos municípios de Cuiabá, Acorizal e Rosário Oeste, essa quantidade desejada é de 153 megawatts. Essa mesma quantidade de 153 megawatts pode ser conseguida numa fazenda de 1.200 hectares de placas solares. Você pode adquirir essas áreas em qualquer lugar do estado, nas áreas pedregulhosas, montanhosas. Se você consegue adquirir essa mesma quantia através de placas solares, então eu sou a favor. Votei a favor da isenção da energia solar por 10 anos - dos impostos estaduais sobre o consumo da energia fotovoltaica.
Sustentabilidade e o sistema ESG são temas cada vez mais debatidos... esse é um caminho com quais obstáculos?
O obstáculo é cultural. Os nossos empresários não têm essa cultura. Fala-se muito em descarbonizar a produção. Fala-se muito em novas metas estabelecidas pela Organização das Nações Unidas, a ONU, mas o empresariado nosso ainda é preso a amarras do século XIX, da primeira metade do século XX. Ele tem dificuldade de entender que as questões ambientais hoje são importantes para o crescimento das suas empresas, para a construção de uma boa imagem junto ao seu cliente. Então, o chamado desenvolvimento sustentável está muito na retórica, está muito filosófico, na prática mesmo, pouca coisa nesse sentido tem acontecido.
Faltam incentivos ou políticas públicas para que eles possam aplicar projetos, ou falta a conscientização?
É a conscientização, é mudar essa cultura do lucro a qualquer custo, do lucro cada vez maior. Essa mentalidade tem que ser mudada para uma mentalidade mais respeitosa em relação ao meio ambiente, respeitosa em relação às condições de trabalho, às condições de vida dos seus colaboradores. E isso você não muda do dia para a noite, na minha opinião. O que é mais difícil para o ser humano é mudar os seus costumes, os seus modos, as suas tradições. É muito complexo. Então, é um desafio muito grande, que aí tanto o setor público quanto o privado têm que fazer um grande trabalho de divulgação para a construção de uma nova consciência.
Neste mês de outubro foi realizado mais um simpósio sobre Dislexia, o senhor que é idealizador e autor de leis - está satisfeito com os passos dados nas políticas públicas?
Foi o oitavo simpósio e nessa área nós já fizemos quase dez leis. Mato Grosso é o estado mais avançado em relação à legislação e está irradiando esse trabalho para outros estados. Não só através da Assembleia Legislativa, como também da Associação de Dislexia de Mato Grosso, que é um grupo de mães que está aí há vários anos, avançando, pressionando, cobrando, e que acabou virando referência nacional.
No quadro geral, sobre economia, o Estado avançou na redução de impostos e reflexos disso no bolso do cidadão. Mas o que precisa ir mais além?
Olha, Mato Grosso reduziu de maneira expressiva a sua carga tributária, na área da energia, da comunicação. Então, houve reduções bruscas que tirou dinheiro do estado, alguns bilhões e devolveu para o bolso do contribuinte. Por exemplo, a energia elétrica aqui cobrava-se, em ICMS, 25%, e em alguns casos até mais. Hoje o teto é 17%. Quer dizer, o estado passou a arrecadar menos e o cidadão passou a pagar menos em termos de ICMS. E na comunicação também, em outros setores. Também no setor do etanol, Mato Grosso cobra a menor carga tributária sobre o etanol do país. Você tem hoje etanol a R$ 2,97, nenhum estado pratica isso, porque nós fazemos 12% de ICMS.
E, em relação à reforma tributária, avalia que Mato Grosso vai perder em relação à arrecadação como criticaram os governadores do Centro-Oeste?
O que eu concordo é que se trata de uma reforma tributária que já está atrasada pelo menos 50 anos no país. E também ter a ilusão de que essa reforma vai agradar a todos os estados é algo muito romântico. De fato, aqueles estados que menos se articularem politicamente vão perder com a reforma tributária e a nossa grande preocupação é que se o modelo de tributação for concentrado exclusivamente no consumo, isso porque nós temos uma população pequena de 3,8 milhões de habitantes. Apesar de sermos um grande produtor de commodities de produtos primários a nossa população é pequena para fazer uma base de consumo expressiva. Então tem que ser algo mesclado, um blend. Uma parte você tributa no consumo, mas uma outra parte tem que tributar também na produção.
O senhor sempre defendeu a taxação dos mais ricos, leia-se o agro. Mesmo com aplicações já pontuadas na atual gestão como em relação ao Fethab, seria preciso ampliar essa cobrança em Mato Grosso?
Eu não sou especialista no tema, na reforma tributária, não sou especialista. Mas sempre no Brasil quem mais pagou impostos proporcionalmente são os pobres. Os ricos sempre pagaram proporcionalmente menos. Eu sou a favor de taxar as grandes fortunas, eu sou a favor do cashback, retorno aos mais pobres. O Estado tem um cadastro das famílias mais pobres, ele pode acompanhar diariamente esse consumo e ao final do mês, ao final do trimestre, do semestre, do ano, devolver aquilo que ele pagou a mais de impostos.
Já existe em São Paulo, o governo Geraldo Alckmin plantou esse cashback lá. Então ele (governo) tem um banco de dados dos que tem Bolsa Família, os que recebem os programas sociais, sabe que aqui estão os mais pobres e ele acompanha diariamente aqueles que estão gastando. No final do mês, no final do semestre, no final do ano, os mais pobres têm direito a receber cerca R$ 1.100, R$ 1.800.
A Lei Kandir no atual formato ajuda ou prejudica a economia na ponta no Estado?
Tem as duas versões. Sei que a Lei Kandir foi decisiva para uma revolução no agronegócio brasileiro a partir de 1996. Foi uma revolução. Com a reforma tributária, a lei Kandir tem que ser rediscutida. Será que ela já cumpriu o seu papel? Será que ela já é desnecessária? Nós vamos tributar a exportação? Nós vamos extinguir o Fethab E de onde virão os recursos para suprir o dinheiro do Fethab? Então, sem dúvida, é um assunto importantíssimo para o país a reforma tributária e ela precisa ser avaliada se já cumpriu o seu papel.
No contexto geral, como avalia o Governo Lula? Mais acertos ou mais erros economicamente e politicamente falando..
Olha, o Lula vai repetir os seus dois primeiros mandatos, que é um governo que vai avançar bastante em políticas sociais, vai melhorar a distribuição de renda no país e vai fortalecer o serviço público. Espero que não crie amarras para o mercado. Torço para que ele apresente um programa de reindustrialização do país. Torço para que ele dê o máximo de autonomia ao Banco Central. Torço para que ele faça um grande programa popular de energia solar para os pobres, que seja o Bolsa Família desse terceiro mandato dele, um programa para que o pobre pague aí de 5% a 10% do atual consumo, seria através do Ministério de Minas e Energia, seria através de um grande programa de energia solar popular, isso é possível. E independente de esquerda ou direita, para cima ou para baixo, eu torço para que o Brasil dê certo. As eleições já terminaram há um ano e vamos nos cumprimentar e vamos torcer para o país dar certo, porque se o país der certo, todo mundo ganha, aí daqui a três anos, pode brigar, bater cabeça, discutir a eleição, mas não dá para torcer para o país se arrebentar, torcer para dar errado como alguns ainda fazem.
Como educador e historiador, que leitura faz da guerra Israel e Palestina que culminou na explosão de um hospital e centenas de vítimas recentemente - no âmbito dos reflexos para o mundo e o Brasil?
Essa é uma guerra que se arrasta há séculos e não vai acabar nunca. Ela é interminável, ela é periódica, tem ciclos, logo chegará a paz, não se sabe a que custo, com que tamanho de horror. Eu não vejo perspectiva de construção de uma paz sincera, onde ambos os lados possam se sentir seguros e ter uma convivência harmoniosa. Isso é algo muito complexo e qualquer guerra no mundo hoje, por menor que seja, ela mexe com as estruturas financeiras do mundo. Mas isso aí está só a começar, ainda tem muita coisa, daqui a pouquinho para depois vem de novo o segundo turno, o terceiro turno, o quarto turno, o décimo turno, e essa guerra aí é interminável infelizmente.
Política. Já temos um mapa de eventuais candidatos à prefeitura de Cuiabá. É prematura essa discussão ou segue caminho correto na sua avaliação já prevendo nomes?
As eleições estão cada vez mais claras. Teremos aí de quatro a seis candidatos, uma eleição que será definida em dois turnos. Todos esses candidatos estão nessa fase de pré-campanha, construindo suas alianças, preparando seus programas de governo. Será uma eleição dura, duríssima. Quem vencer vai passar por dois momentos muito difíceis, que é o primeiro turno e o segundo turno. E torço para que o vencedor tenha capacidade de conciliação, restabeleça relações produtivas com o governo estadual, com o governo federal, e que coloque os interesses dos cuiabanos acima de quaisquer outros. Nomes é melhor não citar.
Nesse cenário, como avalia nomes como o do deputado Eduardo Botelho, Fábio Garcia e Abílio Brunini. A força está com quem na sua análise?
Olha, eu acho que o Botelho, o Fábio Garcia e o Lúdio, na minha concepção, desses três, dois estarão no segundo turno. E são opções respeitáveis. O Botelho tem muita experiência na iniciativa privada, no serviço público, é um conciliador nato, e está com muita vontade de ser o prefeito de Cuiabá. O Fábio também tem experiência internacional, foi secretário de governo de Cuiabá, secretário de Estado, deputado federal duas vezes, é um quadro muito qualificado. E o Lúdio também amadureceu muito, tem visão da cidade. É um quadro muito interessante. Abílio, sem comentários.
O PSD avalia nomes para esse posto e ou deve seguir como coadjuvante?
O PSD já fez o convite, está oficializado para o deputado Eduardo Botelho. Só depende dele. As três instâncias, municipal, estadual e nacional, já oficializamos o convite ao deputado Botelho.
Quem o senhor apoia para concorrer ao comando de Cuiabá, considerando sua experiência como ex-prefeito da Capital?
Nós estamos conversando, aqui na Casa tem dois colegas, o Botelho e o Lúdio, estamos conversando, dialogando.
Em relação a possibilidade de a Assembleia Legislativa vir a aumentar o número de cadeiras - base Censo e dependendo do Congresso - passando de 24 para 27 - qual sua avaliação?
Mato Grosso já está com o crescimento populacional, já é uma conquista do parlamento e mais regiões deverão estar aqui representadas. Acho que precisa. Temos hoje regiões que não tem nenhum deputado, por exemplo, o Baixo Araguaia, não tem nenhum representante aqui. Aquela região de São Félix, Vila Rica, não tem ninguém. Essa região aqui de Cáceres, com 100 mil habitantes, Mirassol D’Oeste, Araputanga, Reserva do Cabaçal, aquela região não tem nenhum representante, uma região que chega a quase 200 mil habitantes, não tem nenhum representante daquela região aqui. Então, aumentar mais três cadeiras representa a chegada à Casa de representantes dessas regiões que hoje não tem voz.
Por fim, sobre a Lei conhecida como transporte zero. O senhor foi contrário... isso afetou sua parceria com o governo de MT?
Da minha parte, não. Porque eu tenho o costume de conviver com os contrapontos, com a diversidade, eu tenho convivência natural. Eu sou da base do governo Mauro Mendes, pretendo continuar nessa base, mas não vou me calar naquilo que eu discordo do Executivo. Até porque todos nós somos passageiros. E essa questão da pesca, a questão ambiental, são temas que nós temos divergências, mas isso não impede que a gente vote a maioria dos projetos do governo na Casa, apoie o governo, porque no geral o governo vai bem, o governo Mauro Mendes vai bem no geral.
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