Vivaldo Lopes
A maioria das empresas já planejam seus orçamentos, revisam seus planos estratégicos e ajustam seus planos de negócios para o ano fiscal de 2024. Precisam, naturalmente, vislumbrar os cenários econômicos mundial, nacional e estadual. Abordarei esse tema, baseado em projeções já tornadas públicas por governos nacionais, instituições financeiras multilaterais, bancos centrais, consultorias econômicas privadas nacionais e internacionais.
A economia de Mato Grosso deve seguir sua trajetória de crescimento robusto, ancorada no seu setor mais dinâmico que é a agropecuária. Esta por sua vez, impulsiona os segmentos da indústria, comércio e serviços. Tem sido assim nas últimas três décadas e essa tendência deve perdurar em 2024.
O estado colherá safras abundantes no próximo ano, os preços nacionais e internacionais das commodities agropecuários tendem a se estabilizar nos patamares atuais. O aumento de custos de produção e fretamento marítimo ocasionados pela pandemia em 2020 e 2021 e invasão da Rússia na Ucrânia já estão precificados e absorvidos nas operações.
Outros fatores que atuarão positivamente para o crescimento do PIB estadual são os elevados investimentos em infraestrutura rodoviária, avanço do trecho ferroviário Rondonópolis-Cuiabá-Lucas do Rio Verde e a acelerada expansão da indústria de etanol de milho. No aspecto industrial, o parque de plantas de processamento de carnes bovina, suína e frangos está expandindo sua capacidade produtiva, agregando mais valor à produção de proteínas animais.
O processamento de etanol também seguirá em ritmo acelerado. Mato Grosso tornou-se o maior produtor nacional de etanol de milho, conta com dez fábricas funcionando e mais três entram em operação em 2024.
Segundo estudo preliminar da Secretaria de Planejamento e Gestão estadual, o PIB de Mato Grosso cresceu de 7,7% em 2022 (a economia nacional cresceu 2,9%), enquanto o PIB agropecuário estadual aumentou 13,1%. O mesmo estudo mostra que o setor de serviços cresceu 9,5% e a indústria 5,5%.
Todos os fundamentos macroeconômicos e condições climáticas, oferta de crédito, expectativas de consumo e de investimentos do último ano permanecerão em 2024, reforçando o papel de protagonismo da agropecuária na economia local, irradiando seus efeitos para os demais setores da economia.
O cenário nacional para o próximo ano não é tão favorável quanto o estadual, mas não será recessivo ou pessimista. O crescimento do PIB brasileiro está estimado em 1,5% para 2024. Em compensação, a taxa básica de juros (Selic) apresenta trajetória declinante sinalizando chegar ao final de 2024 próxima de 9%. A mesma tendência declinante é notada na inflação que está convergindo dos atuais 5% para 3,5%, no próximo ano. Tais fatores colaboram para melhorar o mercado de crédito, favorecendo o consumo das famílias e das empresas.
No âmbito fiscal, a despeito do ceticismo dos analistas com a meta da equipe econômica de zerar o déficit fiscal primário, provavelmente ficará na casa dos R$ 50 bilhões.
A taxa de desemprego deverá baixar dos atuais 7,8%, uma das menores da série histórica. O superávit da balança comercial ficará em torno dos US$ 95 bilhões estimados para 2023. As reservas cambiais continuam robustas, na casa dos US$ 350 bilhões.
O superávit da balança comercial, reservas robustas e bons preços das commodities agrícolas e metálicas (grãos, fibras, carnes, petróleo e minério de ferro) garantem que não faltará dólares ao país, ajudando na estabilização da questão cambial. A ameaça à estabilidade cambial são as ações do banco central americano para combater a inflação e a possibilidade de espalhamento da guerra de Israel contra o terrorismo, podendo envolver mais países árabes fronteiriços.
O cenário da economia global é de crescimento moderado em 2024. O FMI, em seu relatório Panorama Econômico Mundial, publicado no último dia 10, estima o crescimento global em 2,9%. O mundo conviverá com o bloco europeu e os Estados Unidos utilizando ferramentas contracionistas de política monetária para conter a onda inflacionária, inibindo o crescimento, e a economia chinesa com baixo desempenho em 2023 e 2024. A Índia deve assumir o protagonismo de crescimento neste ano e em 2024, com crescimento acima da média mundial.
O cenário de retração global pode piorar se houver escalada nas duas guerras que incomodam o mundo, a invasão da Rússia na Ucrânia e Israel que, para combater o ataque terrorista em seu território, pode espalhar a guerra e envolver outros países árabes, grandes produtores de petróleo e gás. Tal situação pode aumentar os preços internacionais dessa commodity, com todos os seus nefastos efeitos sobre as economias dos países em todos os continentes.
Vivaldo Lopes é economista formado pela UFMT, onde lecionou na Faculdade de Economia. É pós-graduado em MBA Gestão Financeira Empresarial-FIA/USP (vivaldo@uol.com.br)
Ainda não há comentários.
Veja mais:
TRE alerta: mais de 107 mil títulos são cancelados em MT
Polícia Civil mira estelionato milionário contra jogadores de futebol
TCE diz que Governo pode dividir licitações de obras em lotes
Ata do Copom prevê fim das altas e Selic em 15% ao ano por mais tempo
Palmares: Operação do Gaeco desmantela facção criminosa
PC derruba desvios de mais de R$ 20 mi em cargas de soja e milho
Inmet emite alerta laranja para queda de temperatura em vários estados
As férias podem ser consideradas como tempo especial?
Reforma Tributária e os desafios para empresas do Simples Nacional
Nota: PF avisa que assumirá atribuições relacionadas a CACs