• Cuiabá, 12 de Julho - 2025 00:00:00

Invasões do MST x Governo Lula: veja opinião dos principais analistas de MT


Rafaela Maximiano

Com pouco mais de dois meses na Presidência da República, o governo de Luiz Inácio Lula da Silva se depara com o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) invadindo propriedades rurais privadas pelo país.   

Ainda não houve nenhum pronunciamento público por parte de Lula sobre os episódios. E, para analisar a situação e saber se o silêncio do Presidente da República e as invasões de terra vão gerar desgaste para o Governo, o FocoCidade conversou com três dos principais analistas políticos de Mato Grosso: Alfredo da Mota MenezesJoão Edisom e Onofre Ribeiro.    

Aos três foram feitas duas perguntas: - Qual sua análise sobre o MST com invasões em Mato Grosso e em todo país, tendo em vista que estamos no início do Governo Lula? E, - Como avalia a posição do Governo Federal até agora e o que isso reflete para o próprio Governo?  

Para os três analistas, o presidente Lula está em uma situação difícil. Dois deles pontuam que a dificuldade é do presidente não poder apoiar a invasão de terras produtivas e também por não poder dar as costas a um movimento do qual ele se identifica politicamente. Além de os integrantes do MST já pressionarem Lula por espaço dentro do Executivo.

Outro analista acrescenta que a sociedade brasileira está presenciando novamente a invasão de terras porque governos anteriores não realizaram a Reforma Agrária. 

Boa leitura!  

Alfredo da Mota Menezes 

Já era esperado com a eleição do Lula a movimentação do MST nessa direção. Eu lembro que até setembro ou agosto, durante a campanha, o João Pedro Stédile e outros líderes desse movimento, dizendo que a vitória do Lula ajudaria o Movimentos dos Sem Terra a ocupar terras ociosas e tudo mais. Então esses acontecimentos estão dentro de um quadro que já era imaginado que ocorreria. Agora, o que está chamando a atenção é que o MST está invadindo terras produtivas como a da Suzano lá na Bahia que extrai celulose e papel. E, isso causa estranheza porque eles invadiram uma terra produtiva e importante para o país o que nos faz perguntar: qual a intenção? Insisto, se eles invadissem terras improdutivas aí eles poderiam discutir com o Governo sobre uma reforma naquela área, mas invadir terras produtivas, não está claro ainda porque o MST fez isso. 

Quanto a essa invasão de terra em Mato Grosso, a repercussão é extremamente negativa para o Lula eleitoralmente onde ele já não estava bem. O Bolsonaro teve 60% da votação aqui se não me engane. Na região do agro, a votação pró-Bolsonaro era muito forte e com essas invasões a tendência é a maioria ficar de cara torcida eleitoralmente e politicamente para o Lula.  

Outro ponto que tem chamado a atenção nesses fatos é o silêncio do presidente Lula. É verdade que tem um Ministério encarregado disso, tem um ministro dizendo que vai conversar com o MST e até agora não sabemos que resposta será dada à opinião pública, o silêncio do Lula sobre esse assunto chama a atenção. 

Do meu ponto de vista, do aspecto eleitoral é até compreensível pois, o Lula tem apoio não só do MST, mas também tem apoio das ideias do MST e foi eleito em parte com isso. Mas por outro lado o Lula não é a favor, imagina-se, da invasão de terras produtivas; então ele está contra a parede se for contra grupos que o apoiaram e o apoiam, inclusive com apoio do Congresso, de alguns deputados e ao mesmo tempo sendo contra a invasão de terras produtivas. O silêncio dele está fazendo barulho. 

João Edisom 

Primeiro a gente tem que ter clareza de uma coisa: o MST surgiu porque o país foi negligente com seus filhos. Um país que vinha dos latifundiários, dos coronéis donos de terras, dos fazendeiros, de quem tem poder compra e deixava lá para valorizar. É só olhar na cidade para ver as explorações imobiliárias, Cuiabá é um exemplo disso, cheio de espaços extremamente vazios nas mãos de poucas pessoas, enquanto o Governo vai fazer um conjunto habitacional e tem que colocar o povo lá no fim do mundo, justamente por causa disso. O Movimento surgiu porque as pessoas se movimentaram para isso, a gente não pode negar a origem deles e o formato deles. 

O que eles fazem, aí vai depender muito, porque quando a gente fala MST o que enaltece são os mais violentos, os mais agressivos, os que cometem injustiças, mas nem todos estão dentro desse patamar. Se a gente olhar quantos assentamentos tem no Brasil e quantos se tornaram notícia, veremos que é um número pequeno. Agora, esse grupo realmente de vez em quando eles passam do limite. E, durante o governo do Jair Bolsonaro eles ficaram quietos porque era um governo que assustou eles, amedrontou eles e não deu espaço.

O Governo Lula tem origem no sindicato, em movimentos, por isso eles se sentem mais à vontade e muitos deles se tornam mais agressivos porque diminuiu a possibilidade de represália. Analiso que teremos muitos do Brasil à fora fazendo isso porque durante o governo do Jair Bolsonaro as pessoas tinham medo de morrer. Na verdade, ele (Jair Bolsonaro) liberou os fazendeiros até matar com os CACs (Concessão de Certificado de Registro para arma de fogo) fazer o que quiser. Aí houve um recuo e agora terá um avanço disso. É legal isso? Não. Toda invasão é agressiva. Não deveria ser assim, agora o país devia ter um programa que atendesse essas demandas da população. 

Agora com relação ao medo, eu costumo dizer que ninguém tem tanto medo de invasão quanto um ex-invasor. Se olharmos por exemplo as pessoas que gritam em Mato Grosso, ou são europeus que invadiram o Brasil, ou são europeus que vieram para cá ganhando terra, comida, roupa, do governo brasileiro e muitos deles chegaram em Mato Grosso e expandiram suas áreas invadindo também. 

Então, vamos falar de justiça social: não é legal a questão da invasão de terras, mas as pessoas tinham que ter um pouco mais de compreensão e forçar os governos para fazer Reforma Agrária. O que acontece é que pensam: “Eu já tenho a minha terra, quem não tem problema dele, só não veia mexer na minha!”. Nós temos um nível de solidariedade extremamente baixo, se tivéssemos um programa de reforma agrária devido e correto, não teríamos isso. Mas isso não justifica a invasão de terra, de casa, de prédios, de terrenos na cidade; nenhum tipo de invasão é justificável.  

O Governo Lula vem de movimentos sindicais, movimento parecido, então existe uma identidade com o Movimento dos Sem Terra e dos Sem Teto. Então é muito difícil para ele agir rapidamente ou com truculência ou ainda fazer um discurso impedindo isso. Eu acredito que nessa área o PT vai cometer os mesmos erros que eles cometeram nos anos anteriores e vão servir de crítica lá na frente que gerou a política do governo Bolsonaro que foi exatamente dessas falhas do PT. Eu não vejo como porque ele (presidente Lula) tem um compromisso com a carreira política dele e boa parte do pessoal que está lá no governo tem um compromisso com os movimentos sociais, como que agora eles vão virar as costas para os movimentos? É compreensível, porém é um erro. Só que é o preço que se paga.  

A única coisa que vejo que o governo poderá fazer é agilizar a questão judicial ou criar programas para que justamente evite a questão da invasão porque se direcionar o cara para uma terra que seja legal para desapropriação, legal para assentamento ele não vai invadir a terra de outro. Agora, que tem muita gente que diz que é dono de terra e não é, e é uma festa.  

Onofre Ribeiro 

O presidente Lula para se eleger fez acordo com Deus e o diabo. E, um dos diabos que ele fez acordo foi com o MST, de dar espaço no governo. Se nos lembrarmos, no início da campanha, ele disse uma frase muito forte: “No meu governo o MST vai ter protagonismo”. O que ele quis dizer com isso, que ele tinha feito um acordo com o MST para dar espaço no governo. E, o presidente Lula fez acordos demais, tanto é que ele precisou criar mais 13 ministérios que era para entregar para os aliados. O MST esperava um Ministério e não teve. O MST reivindicou o Incra e não teve. Ele reivindicou espaços no governo e não teve. 

Vamos lembrar um pouquinho antes, durante o governo Lula e Dilma o presidente Lula se referia ao MST como o exército do Stédile. Ele falava: “Qualquer coisa chama o exército do Stédile”. Então esse protagonismo daquele momento não está vigorando agora. Então, o MST revoltado com o não espaço no governo está tomando ações próprias para pressionar o governo por espaço e também para desgastar o governo. Fez uma invasão no Paraná, o pessoal foi expulso, fez invasão em Rondônia, o pessoal foi expulso, agora, a parte mais importante é que três governadores já se manifestaram abertamente a respeito de tolerância zero com o MST.

O governador de Mato Grosso, Mauro Mendes, abriu essa lista. Ele se reuniu com o pessoal da agropecuária que foi lá reivindicar e depois saiu junto com o comandante da PM e o secretário de segurança e disse: “Aqui em Mato Grosso vai ser tolerância zero com invasões”. O governador de Minas Gerais, Romeu Zema, disse a mesma coisa e Tarcísio de Freitas, governador, disse que em São Paulo não tem invasão.

O governador do Paraná está se movimentando na mesma direção. E se olharmos nesse momento São Paulo, Minas, Mato Grosso, são três dos estados mais importantes do país do ponto de vista econômico. Então já tem o nascimento de uma onda nacional contra invasões de propriedades. Isso deixa uma ferida permanente e aberta entre o presidente Lula e o MST e as alas radicais do PT. Então temos uma divisão interna de poder e o MST vai ampliar o fogo amigo, porque essas invasões são fogo amigo em troca de espaço dentro do governo, forçando espaço dentro do governo e por outro lado como vingança porque eles ajudaram a eleger e não podem ficar de fora. É isso que está acontecendo.  

O presidente Lula vai ser obrigado a qualquer momento a tomar uma decisão sobre o MST, ou ele aprova e diz que no governo dele o MST vai ter protagonismo mesmo, haja o que houver, pague o preço que tenha que pagar, ou vai ter que desautorizar o MST. Ele (o presidente Lula) está em um dilema terrível porque faz parte do acordo com Deus e o diabo e nós sabemos que o diabo é muito bom para cobrar acordos. O folclore popular tem várias histórias onde as pessoas fazem acordo com o diabo e na hora de pagar não quis e sofreu vinganças terríveis. Estamos vendo aí como será resgatado esse acordo com o diabo.  




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