• Cuiabá, 12 de Julho - 2025 00:00:00

Principais analistas políticos de MT apontam erros e acertos do Governo Lula


Rafaela Maximiano

O novo governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva completou 30 dias. Nesse curto período enfrentou atentado à Democracia, lançou pacote econômico, criou novos ministérios, pontuou "alinhamento" no Congresso com as reeleições de Rodrigo Pacheco (PSD-MG) e Arthur Lira (PP-AL) no Senado e Câmara Federal, respectivamente - suavizando assim o "enclave bolsonarista" ao Governo, além de iniciar uma agenda internacional.  

Mas todos esses fatos são positivos ou negativos para o país? Para fazer uma avaliação econômica e política desse primeiro mês de mandato, o FocoCidade conversou com três dos principais analistas políticos de Mato Grosso: Alfredo da Mota Menezes, João Edisom e Onofre Ribeiro.  

Na Entrevista da Semana, os três especialistas respondem à mesma pergunta: quais os principais erros e acertos do presidente Lula neste início de mandato, tendo em vista duas vertentes cruciais: economia e política?  

O resultado são três análises com pontos de vista diferentes, mas que ajudam no entendimento do momento em que o país vive.

Confira a entrevista na íntegra e boa leitura!   

Alfredo da Mota Menezes  

O Lula tem algum momento que está trazendo preocupação para o país com algumas falas e parecem que até chamaram a atenção dele para diminuir isso. Ele falou por exemplo: ‘Por que as pessoas são levadas a sofrer por conta da tal instabilidade fiscal?’; O Lula disse isso. Também disse que o teto de gastos é uma estupidez, usou essas palavras. Com essas declarações ele provoca uma certa instabilidade não só no mercado financeiro, mas também as pessoas ficam preocupadas. Aquelas pessoas que apoiam Lula batem palma, mas outros ficam preocupados. Ele também disse que a independência do Banco Central é bobagem e que o presidente do Banco Central vai fazer mais do que quando presidente era quem indicado e que quando se indicava o presidente era a mesma coisa de agora. Inclusive está dizendo que depois que terminar o mandato do atual presidente do Banco Central em 2024, tem a tendência de rediscutir e acabar com a independência do Banco Central.  

Também usou frases: ‘o empresário não ganha muito dinheiro porque ele trabalhou. Ganha muito dinheiro porque os trabalhadores fazem o trabalho dele’. Já se indispondo com o empresariado. Aquela frase com o Temer de que ele era golpista e tudo mais, sendo que o Temer é liderança do MDB e o MDB tem três ministros nos ministérios do Governo Lula e o MDB está apoiando o Lula no Congresso. Então tem umas frases esquisitas do atual presidente que está trazendo alguma intranquilidade. Como eu disse, parece que conseguiram fazer com que ele parasse de falar isso, ao menos na última semana não falou.  

Por outro lado, a presença do Lula no Governo, esta é a parte positiva, acabou com aquela fala sobre golpe de Estado, governo militar, isso e aquilo. Ele foi desmontando, essa estrutura inclusive no governo, de pessoas que tendessem mais para direita no aspecto político. Nesse sentido, a presença do Lula na presidência, deu uma acalmada no país nessa direção de diminui esse falatório de governo militar, de golpe de Estado e tudo mais. E, que, o Brasil está agora até se acalmando nesse sentindo, diminuindo a tensão. Mas por outro lado, no aspecto econômico, tem um Lula diferente aí que de vez enquanto assusta não só o mercado financeiro, mas a todo mundo.  

Essas falas do Lula a respeito de instabilidade fiscal, teto de gastos, Banco Central e tudo mais, ele mesmo disse que vai construir uma nova narrativa a respeito de investimento do Brasil, que gasto não é gasto, vem provocando certa instabilidade e fala em ajudar os mais pobres – o que é bom, é louvável, mas se houver intranquilidade na economia vai refletir na inflação e vai prejudicar o mais pobre, porque o rico é rico, a classe média sabe se virar e o mais pobre que vai sofrer. Ninguém está entendendo esse falatório do presidente.

Por outro lado, ele foi muito bom, foi muito útil em acabar com essa ideia de golpismo no Brasil, de voltar regime militar, pelo amor de Deus.  

 

João Edisom  

Este foi um primeiro mês extremamente tumultuado, temos que lembrar que com uma semana quando ainda não tinha empossado todos os ministros houve o 08 de janeiro, o quebra-quebra e vandalismo nos prédios dos três Poderes. Foi terrível, talvez um dos piores ataques que tivemos, com certeza o pior dos ataques depois do golpe militar de 64. Uma tentativa realmente de golpe e ela tem toda uma sequência pelo desdobramento, não terminou. Porque não terminou a investigação, ainda existe outras tentativas, existe um conjunto de outros fatores. Por outro lado, cada vez que tentam atacar termina fortalecendo o governo do ponto de vista político. Tanto que cala um pouco e segura, trava, a oposição.

A prova disso é a vitória do Rodrigo Pacheco no Senado. Essa vitória não ocorreria caso não tivesse tendo esses ataques contra o governo. Porque ele passa da condição tanto da pessoa que venceu a eleição e precisa governar quanto sendo vítima de um conjunto de pessoas que não aceita o resultado.  

A grande maioria da sociedade, inclusive dos que votaram em outros candidatos e até os que votaram no Jair Bolsonaro, entendem que a eleição foi legítima. O povo votou e o Lula está lá. Gostando ou não gostando aceitam isso. Essas minorias extremamente radicais, de extremistas, estão na realidade muito mais fortalecendo o poder de decisão do Lula do que qualquer outra coisa. Então significa que isso dá uma relação para ele favorável dentro do Congresso, porém não sabemos ainda se essa relação é favorável dentro da Câmara dos Deputados onde o “Centrão” é o maior poder.   

O Lula vai ter aí o mês de fevereiro e março, lembrando que todo presidente, todo governador, todo prefeito, têm cem dias para estabelecer uma boa relação para poder passar as suas pautas de interesse da própria gestão. Mas se ele conseguiu algo que seria impensável no início desse ano que foi reunir todos os governadores e já reuniu duas vezes, criou bastante ministérios – foi estratégico ter criados vários ministérios para montar uma base forte – com isso ele criou uma base muito forte e é uma bobagem as pessoas acharem que aumentam gastos, os gastos são os mesmos. Porque esses ministérios criados fazem parte de funções e ações que se não existissem, teria que ter secretarias especiais dentro de outros ministérios e teriam o mesmo gasto. O desperdício não está na criação de ministérios, secretarias, nada disso, isso é uma fantasia para enganar o povo.  

O Lula estrategicamente trabalhou bem isso, só que é um processo construtivo. Ele está tendo mais facilidade no campo político do que se imaginava antes do dia 08 de janeiro. Já na questão econômica tem um punhado de entraves. Até agora o mercado não se apaziguou com o ministro da Fazenda, o Fernando Haddad; ainda não há um acolhimento pelo mercado com o presidente do BNDES, que é o Aloizio Mercadante, isso também é um processo porque ainda não houve uma ação que configurasse essa aproximação. O que existe até agora é manutenção de pautas que se consideram sensíveis como a questão da volta do ICMS, o aumento de preços do combustível, uma série de coisas está sendo segurado. Também manteve a taxa Selic, então não existe ainda uma resposta para a sociedade no fator economia.   

O que existem são promessas, por exemplo, que acalma muito principalmente o lado envolto aos campos sociais onde nos governos tradicionais do PT sempre foi muito dinheiro, que é a promessa da construção de moradias, casa própria; manutenção do valor de R$ 600,00 em relação à Bolsa Família. Só que foram 30 dias que devido ao fator primordial, nos maiores da história que foi dia 08 de janeiro, faz com que a gente não tenha clareza de exatamente quais vão ser os caminhos percorridos pelo governo.

O que houve e que ele pode contabilizar foi uma melhora indiscutível e enorme nas relações internacionais. O mundo passa a ter por ele, e uma relação com ele, jamais vista com o outro presidente. Também por uma série de fatores, o Jair Bolsonaro ex-presidente, provocou isso, era muito espinhoso, não tinha relação nenhuma internacional. Com a volta do Lula trouxe o Brasil de volta no cenário internacional e acontece o 08 de janeiro, aí é uma explosão par ao mundo fazer uma aproximação com o Lula. Existe alguns prejuízos em relação a 08 de janeiro? Existe. Mas para o presidente Lula, o 08 de janeiro está propiciando mais oportunidades do que prejuízo.  

 

Onofre Ribeiro  

O que se vê nesses primeiros trinta dias do terceiro Governo do Lula é um governo completamente sem rumo. Ele está se sustentando nos conflitos criados a partir do dia 08 de janeiro. A movimentação do governo está toda em cima disso. Começou a desviar agora que o governo jogou todas as suas fichas para eleger o presidente do Senado e interferir em um outro Poder. Isso significa receios. Mostra a cara de um governo cansado com trinta dias.  

O que esperávamos do Governo Lula desde o começo era dar um aceno para a população a pacificar o país que está muito polarizado. Há um ódio político, uma descompensação social muito grande.  

A primeira missão do governo Lula, e eu tenho falado isso desde o primeiro dia deste ano, é pacificar; mas com o 08 de janeiro o governo está criando uma antipacificação muito grande e está ressuscitando um Bolsonaro morto. Bolsonaro terminou o mandato, foi embora para os Estados Unidos completamente desgastado, mas o governo não deixa ele em paz, está batendo o tempo inteiro. O presidente está batendo nele todos os dias, o Supremo está batendo todos os dias, os ministros estão batendo todos os dias, e isso está criando um herói. Porque é da natureza brasileira adorar o vitimismo. O brasileiro gosta de vítima, não gosta de herói.  

A gente percebe que na economia está errando seguidamente. O presidente está comprando brigas desnecessárias. Comprou briga lá no Uruguai com o Temer, levou uma pancada na cabeça; criou uma confusão por conta das declarações dele de golpe do impeachment da Dilma, criou confusão em todo o meio jurídico, assustou o mercado financeiro e está assustando cada dia mais o mercado com novas declarações. Comprou uma briga enorme com o agronegócio, a Marina Silva está de briga com o agronegócio que é quem sustenta a economia neste momento; o presidente brigou com os bancos, brigou com o mercado financeiro, ele está fora de controle e por consequência o governo está fora de controle.   

É uma falta de projeto de governo e uma consequente falta de ação. Precisaria parar – para o trem que eu vou descer – desce, senta e toma uma água e vamos rever o Brasil que nós pretendemos. O que está vindo não é legal, esses primeiros trinta dias olho com extrema preocupação porque está criando mais confusões do que trazendo soluções. 




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